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Vôlei de surdos: time luta na busca por inclusão

Referência no Brasil, equipe feminina desafia dificuldades à procura de novas atletas e espaço para treinar

Seleção Pernambucana têm se firmado como referênciaSeleção Pernambucana têm se firmado como referência - Foto: Paullo Allmeida

Segundo dados da Associação Pernambucana de Surdos de Pernambuco (ASSPE), a condição de surdez atinge aproximadamente 7% da população no Estado. No entanto, falta de espaço e direitos desrespeitados ainda assolam boa parte dos deficientes auditivos pernambucanos. O isolamento social leva muitos a encontrarem o esporte como meio de inclusão e ir além do imaginado. A equipe feminina da Seleção Pernambucana de vôlei de surdos, que recentemente conquistou bronze na Surdolímpiadas do Brasil, reúne oito atletas que descobriram na quadra um lugar onde a deficiência não é encarada como defeito, ao mesmo tempo em que suas habilidades são mais valorizadas.

Formado em 2010, o time se estruturou, inicialmente, para o vôlei de praia, a partir de quatro meninas filiadas à ASSPE. Dois anos depois, o técnico Edson Maranhão, de 45 anos, foi convidado para comandar a equipe no Mundial da modalidade. Ele se deparou com escassez de atletas e falta de tempo para a preparação, mas a maior barreira estava na comunicação. Embora qualificado como ex-atleta e treinador, Edson não tinha conhecimento na língua de sinais. “Fiquei um pouco assustado como eu iria me comunicar. Tínhamos apenas dois meses pra viajar e organizar tudo, mas as meninas me ajudavam no treino ensinando sinais básicos. Quando eu voltei da competição, senti a necessidade aprender a língua de sinais e fui fazer o curso”, disse.

A migração para a quadra aconteceu também em 2012, porém pensar alto exige consequências. Entre elas, a baixa visibilidade novamente dificultou o ingresso de jogadoras e investimento em equipamentos, custeados pelas próprias meninas. Ainda que similares no nome, voleibol de praia e de quadra apresentam dinâmicas completamente diferentes, obrigando alterações na aplicação do treino. Após sete anos, Pernambuco é considerado uma potência no vôlei para surdos, com participantes no Pan, Sul-Americano e Surdolimpíada.

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A Seleção Pernambucana é único time feminino de vôlei voltado para surdas no Estado. Sem muitas possibilidades, a solução encontrada por Edson foi enfrentar equipes formadas por ouvintes para seguir com ritmo de jogo e possuir desafios nos treinamentos. “Essa questão de jogar contra os ouvintes ajuda principalmente na experiência do jogo, no volume, e a gente precisa disso. Elas exigem bem mais do nosso time. A surda precisa de um modelo, que a ouvinte mostra na hora da tática, as bolas atacadas de ponta, de meio, de saída, as variações”.

Como em qualquer esporte coletivo, o entrosamento se torna algo essencial também no vôlei. Prever qual jogada a companheira irá fazer, conhecer sua posição e realizar combinações são fatores essenciais no desempenho do time durante a partida. A comunicação oral é um aspecto importante nesse progresso, contudo, as jogadoras surdas compensam tal ausência nos treinamentos, demonstrando não ser um problema. “A gente não se preocupa com isso, o jogo é muito visual. Então foco na bola, no adversário, na quadra. O juiz sinaliza, e quando há a sinalização elas naturalmente já olham para ele sabendo que o jogo parou”, afirmou o técnico.

Referência para as companheiras e iniciantes, Elizabeth Moura, de 31 anos, lidera a Seleção Pernambucana nos torneios nacionais e internacionais. A prática esportiva iniciou como obrigação aos sete anos na natação, mas logo se formou uma conexão instantânea, que trouxe a curiosidade de experimentar outros esportes, como basquete, hóquei e vôlei de praia. Apoiada pela família, nunca enfrentou barreiras para competir junto com atletas sem deficiência. Desde o início, seu alto nível técnico era mais reconhecido do que sua condição auditiva, evitando dessa forma ocorrências de preconceito. Somente aos 22 anos, começou a jogar no mesmo lugar de colegas surdas.

Antes mesmo de entrar na Seleção Pernambucana há quatro anos, Beth já defendia o Brasil no Pan-Americano, em 2012. Após seu retorno, a relevância da atleta se refletiu na evolução da modalidade dentro da comunidade de deficientes auditivas. De lá pra cá, o Estado não deixou de participar da maior competição nacional, as Surdolimpíadas. O crescimento dos estados do Sul e Sudeste, entretanto, preocupa em comparação aos passos lentos de Pernambuco. Ela explicou que apoio e espaço de treino são praticamente inexistentes. “Sofremos com essa questão de quadra. No momento, não temos onde treinar. Além da preparação física, o lado financeiro pra viajar também pesa”. Elizabeth é a única da equipe a fazer parte do Bolsa Atleta, programa do Governo do Estado que ajuda competidores pernambucanos financeiramente.

“As mãos falam pelo jogo”, projeto idealizado por Maranhão em parceria com a Escola Barbosa Lima, procura jovens e adultos surdos que estejam interessados em iniciar a prática esportiva nas quadras de vôlei. Para fazer parte, é necessário procurar Edson Maranhão através do (81) 998336502 e estar com a capacidade auditiva acima de 55 decibéis em ambos os ouvidos.

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