A bela Bodega Garzón
Nutria curiosidade de conhecer Montevideu, Uruguai, que um dia fez parte do Brasil como Província Cisplatina (de 1821 a 1828). Como você sabe desse trecho da nossa história, lembra que o tratado de independência teve decisiva participação da Inglaterra, de olho na bacia do Rio da Prata, por interesse comercial. E por onde o imperialismo inglês passa, deixa um lastro de educação. Some-se a isso a forte imigração europeia – sobretudo italianos e espanhóis – do final do século 19 e o resultado foi um pequeno civilizado país. Para muitos, o mais, da América Latina, com concretas (não eleitoreiras) políticas sociais. Acrescento aos motivos acima minha visão: só foi governado pela esquerda durante curtíssimo período de sua história! Lá está na presidência o direitista Luis Lacalle Pou, que deu recente puxão de orelha no “desencarcerado”. Fruto de sua defesa dos nefastos ditadores de nosso continente, onde pontifica o “companheiro” Maduro. O que me lembra uva! Voltemos ao assunto enológico, amigo. Basta de angústia política brasileira.
Nesta visita inclui Maldonado, uma das 19 regiões vinícolas do país, visando conhecer a famosa Bodega Garzón, distante 180 Km da capital. Trata-se de um projeto milionário, empreendido pelo casal Alejandro e Bettina Bulgheroni, argentinos do ramo de petróleo. Que em 1999 comprou cerca de 2.500 hectares de terra na região de Garzón, para produção alimentar. Fundaram a Agroland, holding da Serras de Garzón, Altos de Garzón, Colinas de Garzón (produtora de premiados azeites), Brisas e a Bodega Garzón, foco deste texto. Sob orientação de Alberto Antonini, celebrado enólogo italiano, os primeiros vinhedos foram plantados em 2008 e a primeira safra colhida em 2010. Outro dia, não é gente? Por fim, a nova sede da vinícola foi inaugurada em 2016. Tudo lá impressiona. Pela grandiosidade – 240 hectares de vinhedos e outro tanto de olivais – e pela beleza. As instalações da adega são lindas. Não por menos, apesar de “bebê” no cenário vinícola mundial, já recebeu várias premiações. Com destaque para a “Melhor Vinícola do Novo Mundo de 2018” (Wine Enthusiast) e a bem recente classificação em 6º lugar, entre as 50 melhores vinícolas do mundo. Premiação anual organizada pela inglesa William Reed Media, a mesma que elabora a lista dos 50 melhores restaurantes do mundo. Que usa alguns critérios (arquitetura do local, beleza da vinícola, recursos de enoturismo, etc), além da qualidade dos produtos.
Portanto, que fique claro, mesmo sendo um prêmio muito relevante, não é sinônimo do 6º melhor vinho do mundo! Durante a visita à bodega, tivemos degustação de alguns brancos e tintos, da faixa média do portfólio, que nos agradaram bastante. Seguindo-se um almoço – precisa ser previamente reservado – no belo e requintado restaurante da vinícola. Cozinha sob comando do Francis Mallmann, aclamado chefe internacional. Que comida, que serviço, leitor! Harmonizamos com vinhos de ótima qualidade. Destaco dois da linha Single Vineyard, o branco Albariño e o tinto Tannat. Essa última que é a grande estrela vinífera do Uruguai (veja nosso artigo nesse Jornal de 08 de outubro de 2022). A Garzón oferece muitas outras opções (espumantes, brancos, rosés e tintos), indo do topo de gama Balasto à linha Estate. Todos representados no Brasil pela World Wine. Experiência inesquecível, amigo, mesmo com os 360 Km de “bate e volta”. Mas se fizesse de novo, me sediaria em Punta del Este, a 70 km. Com uma taça do ótimo Petit Clos Cabernet Franc, tim, tim, brinde à vida.