A charmosa Bouza
Na última vez que nos encontramos por aqui, falei de outra vinícola uruguaia. Hoje comento minha visita à Bodega Bouza. Se formos fazer um paralelo, a Bodega Garzón é um empreendimento bem mais grandioso. Sem que isso represente qualquer demérito para a concorrente. Antes pelo contrário, em certos aspectos, até dei mais ponto à Bouza. São projetos e filosofias distintas, atingindo resultados comparáveis. Leitor, é essa diversidade que encanta no mundo do vinho. Falando nisso, trata-se de um projeto recente de uma família originária da Espanha, que em 2002 adquiriu uma antiga e improdutiva vinícola, dela tirando a primeira safra em 2003. Com sua sede localizada a cerca de 20 km do centro de Montevideu, na região de Canelones, a vinícola viabiliza uma van para transfer. No nosso caso, guiada por um simpático motorista (êita, quase escrevo chofer, como se dizia na minha época, para gozação de meus netos). Aliás, simpatia foi uma marca da visita, do ambiente aos funcionários. A Bouza gosta de ser chamada de vinícola boutique, por ter uma produção mais limitada (entre 150 e 200 mil garrafas de 0,75 l/ano). Tirada de 5 vinhedos, distribuídos entre Canelones (junto a Montevideu) e Maldonado (próximo a Punta del Este). Perfazendo cerca de 45 hectares de plantio. Onde cultivam Albariño, Chardonnay e Riesling (para os brancos) e Tempranillo, Cabernet Franc, Pinot Noir, Merlot e, claro, Tannat, a rainha das castas uruguaias (para os tintos). Fizemos o tour passando por um vinhedo e a área produtiva, incluindo uma bonita capela. Um fato chama atenção: além das usuais barricas de carvalho francês e americano, lá também usam os de origem russa! Não, leitor, nenhuma concessão a Putin, aquele sanguinário camarada de Lula. É que cada tipo de carvalho, de diferentes partes do mundo, confere um sabor distinto ao vinho. E o enólogo de lá quis dar esse toque peculiar.
A degustação é um charme a parte! Ao lado de um vagão de trem, uma garagem-museu repleta de belos carros clássicos e antigos, é o ambiente determinado pelos proprietários para degustarmos um branco e três tintos, acompanhados por saborosos canapés. Se você preferir, há também a opção de um almoço harmonizado, muito conceituado, por sinal. Fomos servidos com o Albariño da linha Bouza (oriundos dos vinhedos Melilla e Las Violetas), o Tannat da linha Viños de Vinhedo (Pan de Azúcar), o Tannat Parcela Única e o Monte Vide Eu, corte de Tannat, Merlot e Tempranillo (os 2 da linha Ediciones Limitadas). Todos ótimos! O preferido? Quer moleza... vá visitar e decida. Vale a pena.
Faltando dizer que a Bouza também elabora dois destilados de Orujo (semelhantes à Grappa italiana) e um conceituado gin, Bo-Bo, com dois distintos grupos de botânicos.
E assim concluí minha viagem enofílica pelo Uruguai. Tim, tim, brinde à vida.
P.S. No dia 1 de setembro a vinícola Tarapacá promoverá um jantar degustação (5 chefs brasileiros e 5 vinhos) no restaurante Licínio (3465.1088), com a presença do sommelier da vinícola. Uma ótima experiência enogastronômica!