A importância dos nomes dos vinhos
Cada dia que passa as pessoas estão mais econômicas quando se referem aos outros. Explico essa opinião. Na minha juventude todas as pessoas eram nome e sobrenome. Exemplo: Murilo Guimarães. Hoje, é só Murilo. Quiçá, só o
apelido. Fico me perguntado, será comodismo, preguiça verbal, ambas fortes características dos tempos atuais? Ou será a falta de referência das famílias, que claramente perderam significado para as novas gerações? Antigamente, “você é filho de quem” era uma pergunta obrigatória, na hora que um jovem fosse apresentado a alguém de mais idade. Sua criação lhe dava credibilidade – caso seus pais fossem conhecidos como pessoas de bem – ou lhe tirava, se fosse filho
de... (ia falar nome de um renomado ex-presidiário, mas preferi calar; vai que Xandão lê esse texto). Essa credencial, embora não conferisse 100% de garantia, nem pra lá, nem pra cá, era a forma mais eficiente de um julgamento, a priori.
Muitas vezes o caminho para abrir as portas a uma paquera consentida. Que se tu fosses filho daquele tal corruto, o pai da menina lhe fechava portas e janelas.
Bronca! Os jovens de hoje dizem que isso é “brega, preconceito, hábito de antigamente” (sshh!), sendo melhor conhecer pessoalmente o cidadão. Coisa que não se discute, mas que um pré-currículo ajuda, ah sim, ajuda! Atualmente ele é
substituído pelas “confiáveis” redes sociais (que aguenta toda sorte de falsidade ideológica). Quem sabe essa seja a razão para a falta do sobrenome. Vá lá, vamos acatar. Mas como eu sei qual é o José, o João, a Maria, a Ana a quem
você se refere, amigo? Se fosse Astrogilda, Dioclesiano, podia até dispensar o sobrenome, mas não é o caso, né? Ah, fico bem irritado quando se referem a alguém, em especial um paciente, desta forma “econômica”. Requerendo um
grande e frequentemente infrutífero esforço de adivinhação da minha parte! Ora, seja menos preguiçoso(a), camarada!
A essas alturas, se você ainda está por aí, deve estar se perguntando o que esse papo todo tem a ver com as bebidas, foco dessa coluna. É que eu fico pensando se as garrafas viessem apresentadas dessa forma “pseudomoderna”.
Coisa tipo: Maria (há centenas de vinhos no mundo com esse nome). Sem dizer o país, o corte de uvas, a safra, entre outras características. Sentindo-se de pé em um “campo minado”, você não compraria, não é leitor? Ainda que o rótulo fosse bem atrativo. Graças a Deus os bons produtos, bebidas e alimentos, preservam a regra de informar os dados relevantes. Para os quais você deve sempre atentar.
Agora mesmo estou defronte de uma garrafa de vinho bem famoso. Norton D.O.C., é seu nome. Logo abaixo está estampado Malbec, indicando a casta. Depois, Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina, 2021. Assim se sabe a procedência,
que pode ser muito útil, no caso de uma predileção sua. E a safra, neste exemplo apontando para um vinho jovem, o que exprime muita coisa. Se virar e ler o contrarrótulo, ainda encontro o teor alcoólico, 14,5%, dado muito significativo (um
dia podemos falar mais sobre isso). Pois bem, meu amigo, com esse currículo identifico (quase) tudo sobre esse vinho. O restinho, com o veredito final, só bebendo. Equiparável a conhecer alguém pessoalmente. Captou a mensagem,
seu preguiçoso verbal? Tim, tim, brinde à vida.