A origem das uvas (1)
Dia desses, com um jeitão provocativo, Zé Paulinho - que ainda hei de ver como enófilo, pois produtor de vinho ele já é - me enviou nota publicada na Gazeta sobre a etimologia da casta Chardonnay.
Negando sua origem na Bourgogne, como acredita a maioria das fontes bibliográficas. Donde deduzi que outras uvas podiam ter a mesma conflitante origem. Fui atrás. Sabe, leitor, se arrependimento matasse...
Tinha nada que me meter a falar nesse tema. Conflito é pouco! Mas já que comecei, fujo não. A uva, da família botânica vitaceae, é considerada o fruto mais antigo da humanidade.
Oriunda do oeste da Ásia e da Europa central, há fósseis de um tipo selvagem com alegados 60 milhões de anos. Diz também a história que depois do dilúvio, a videira foi a primeira planta que Noé cultivou.
As más línguas complementam que dela produziu vinho, tomou uma “grande”, ficou nu e... Parando eu por aqui, seguidor que sou daquela máxima de meu sogro: “ficar falando da bebedeira dos outros é a maior gafe”! Dos 15 gêneros, o Vitis é o que prevalece hoje no mundo e a espécie vinifera, de berço europeu, é a mais nobre, utilizada na elaboração dos vinhos ditos finos.
Porém, espécies de Vitis como amurensis, labrusca, mustangensis coignetiae, rupestris, riparia e rotundifolia, presentes na Ásia e nas Américas, além de sucos de uva, produzem vinhos ditos de mesa, ao que parece, cada vez menos. Nada contra o velho vinho de garrafão, que iniciou muita gente no mundo de Baco, mas é bom que assim seja.
A uva é um fruto prioritariamente hermafrodita, coisa muito prestigiada no mundo atual! Desculpe, amigo, desconsidere, mas não consegui conter a chacota. Ela contém açúcares naturais, fibras, potássio, magnésio, cálcio, ferro, antocianinas e resveratrol, que lhe conferem ação antioxidante e anti-carcinogênica.
Mas numa época do mundo quando os magos e não os nutricionistas davam pitacos, não foram esses predicados que disseminaram as uvas por todos os continentes, incluindo as Américas. Onde chegaram entre os séculos XVI e XVII. Aqui no Brasil, pelas mãos e bocas dos jesuítas.
Sob o nobre argumento de fazer o vinho da missa, claro! Hoje, você deve saber, até na China se faz vinho. Aliás, já é o maior cultivador de uvas do mundo. Novidade, eles produzem tudo, né? Mas o leitor pode estar se perguntando: cadê o tal conflito de nomes?
Você não está se bastando não, com a “mídia” versus “família Bolsonaro”? Pra que mais conflito? Deixe a coisa se acalmar (será?) lá nas esferas do poder que eu volto ao assunto e lhe passo a etimologia das principais uvas. Inclusive da Chardonnay. Por hoje, tim, tim, brinde à vida.
Enotrips da VSX
Já lhe falei aqui do sucesso do passeio enofílico pela França que o VSX Club promoveu, ano passado. Pois este ano decidiram dobrar a dose, associados à Primetur. O primeiro passeio será em setembro, nas melhores vinícolas portuguesas. O roteiro está um show!
Logo a seguir, promoverão um passeio igualmente gabaritado pela Itália e suas fantásticas regiões vinícolas. Ah, se a responsabilidade profissional não me sustentasse, a vontade era “chutar o balde” e fazer os dois tours! Quer me entender? Entre no site www.vsxclub.com.br (ou Instagram e Facebook) e analise os roteiros. Duvido que você não se balance.
*É médico e enólogo e escreve quinzenalmente neste espaço