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Algumas lições da quarentena

O belo desprendimento dos profissionais de saúde na luta diária

Covid-19 - Pixabay

Tem as boas e as ruins. Ambas nos ensinando muita coisa. Vou falar delas, já que escrever sobre bebidas e seus prazeres, num momento em que tanta gente está sofrendo, é até agressivo. Como de costume, começo pelas ruins.

Os psiquiatras gostam de dizer que o maior mal da atualidade é a depressão. Quem sou eu para discordar, amigo. Mas esse isolamento social tem me revelado um outro mal, a “síndrome da ansiedade generalizada”! Até em pessoas de meu relacionamento, que eu jamais acreditei observar tal reação, tenho visto sinais de descontrole, conduzindo a atitudes impensadas.

Jamais vi tanta gente acreditando em tanta mentira! Nem precisa ser uma “fake News” bem elaborada. Qualquer uma serve! Sobretudo com (des)informações médicas (onde destaco o quase incontrolável ímpeto da automedicação). Tudo gerando um pânico em cadeia, através da imediata propagação pelas redes sociais. Passando a valer a máxima atribuída ao gênio nazista, Joseph Goebbels: “uma mentira repetida mil vezes, torna-se verdade”. E vá você desmentir!

Percebo claramente, quando inquerido sobre ela – a mentira – que o cidadão do outro lado da linha fica meio decepcionado, até mesmo aborrecido, quando eu desminto. Afinal, esse chato aqui acaba com o barato daquela rede de fofocas, tão alvissareira, nesse instante em que muitos(as) não têm o que fazer! O que me conduz a um outro comportamento que tem se mostrado exuberante, nessa pandemia: a fofoca. Fulano disse, beltrano não disse... No meio político, então. Valha-me Deus! Ô povo sem escrúpulos (claro, com gloriosas exceções). Não bastasse, leitor, vi coisa pior. A maldade humana, na sua face mais perversa: explorar o sofrimento alheio. Bater em quem já está chão.

Pensando melhor, mais, bem mais que isso. Que bater num desfavorecido pode ter um quê de defesa pessoal. Vivi esses dias uma situação dessas, cujos pútridos detalhes lhe poupo. Por uns momentos, desacreditei do ser humano. Depois fui salvo por entender que de humano pessoas assim não têm nada! Por fim, vi escancarada a falta de bom senso, acompanhada de perto pela incompetência gerencial de uma crise como essa, por parte de nossas autoridades.

De um lado defendendo o correto isolamento social em casa. Para tanto tomando até medidas radicais, como o fechamento de praças, da praia e cercanias – só isso já contemplava um artigo específico. De outro, fechando os olhos para aglomeração de pessoas no entorno de bancos públicos. E em lugar de usar a autoridade policial para ordenar ditas filas, prefere a cômoda multa ao banco. Como se a ele competisse o controle das vias públicas! O que dá pra rir, dá pra chorar, leitor!

 

Mas há também boas lições. Ver que boa parte da população segue a orientação do isolamento, ainda que oneroso. Quantas pequenas empresas estão sofrendo bastante com isso – talvez até nem consigam recuperação – mas sem abrir mão do espírito cívico. E quanta solidariedade! Se você, leitor, estivesse ao meu lado, veria lágrimas nos meus olhos, que costume me emocionar mais com o belo que com o triste.

Tanto desprendimento, tanta doação (de valores e de trabalho), do cidadão mais simples ao mais abastado. Lindo de se ver! Por dever de justiça, destacando o envolvimento maciço da classe empresarial de Pernambuco. Saravá! Faltando só destacar o incansável envolvimento da classe científica a procura de rápidas soluções e o belo desprendimento dos profissionais de saúde na luta diária contra esse inimigo.

Vade retro, danado! Que eu acredito em vencermos esse momento e continuarmos fazendo, tim, tim, brinde à vida.

*É médico e enólogo e escreve quinzenalmente neste espaço

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