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Banda A e banda B

Medicamento - Marcelo Casal/Agencia Brasil

Alternativamente poderia ter sido: “final do campeonato pernambucano, o glorioso Sport contra o Náutico”. Mas o título ficaria longo. E provocativo! Embora a paixão futebolística seja um dos melhores exemplos das bipartições radicais. Também conheço famílias com essas bandas, aí também envolvendo paixões, por vezes ódio. Tristeza! Mas o tema hoje é consoante com a pandemia que vivemos, cuja tragicidade tem me bloqueado falar em coisas banais e fúteis. Vige Maria, o coronavírus me afetou mesmo! Eu chamando os prazeres da vida de futilidade? Pensando melhor, nesse momento de tanto sofrimento, eu deveria mesmo trazer amenidades. Talvez na próxima.

O Brasil e o mundo, historicamente, se dividiram entre direita e esquerda, conservadores e “progressistas” (com toda a intrínseca falsidade desse termo). Banda A e banda B. Mas agora temos novidade. Nosso país rachou entre outras duas bandas: pró-Cloroquina e contra Cloroquina! O pior de tudo, temperadas por um forte radicalismo político. Eu nunca pensei que fosse viver tanto ao ponto de ver tão esdrúxula e ridícula dicotomia. Polêmica deflagrada pela escassíssima ponderação coloquial do presidente, que fez jus à lei de Newton: “a toda ação corresponde uma reação, de igual intensidade...” Aí os ferrenhos opositores, adubados pelos meios de comunicação – onde pontifica a rede Globo – caíram em cima. Bem feito, pra quem não sabe fechar o bico! Só que um assunto puramente técnico e especializado, virou um pandemônio. Pior que a pandemia! Tenho sido recorrentemente questionado: qual a sua posição, Dr. Murilo, a favor ou contra? Quase como se perguntasse, qual é seu candidato? Não consigo me lembrar, em quase 44 anos de exercício da medicina, de situação semelhante. O que me reporta às mídias sociais de médicos, onde os jovens, compreensivelmente, ficam a exigir, de entidades profissionais, diretrizes que lhes deem respaldo e segurança para tomada de decisão. Entidades de especialidades médicas essas que, compreensivelmente, se abstêm de defender uma terapia sem vários estudos de ampla cohorte, randomizados, pareados, duplo-cegos...

Eita, leitor, me empolguei. Perdoe essa chata linguagem científica. Voltando aos estudos, como se isso fosse viável, nesse tão curto prazo de tempo que temos para combater essa devastadora doença. Então, a saída das entidades é usar o batido jargão: “não há estudos definitivos que possam respaldar a recomendação de uso dessa terapia”. Concluindo, com outro jargão: “precisamos de mais estudos para confirmar esses achados preliminares”. Com essas palavras, inclusive, atestando a existência de achados preliminares. Deixo claro que longe de mim pretender, aqui, me posicionar a favor ou contra a Cloroquina. Seria incongruente, nessa conversa de leigos, abordar um assunto técnico. Não é jamais lugar para isso. Mas é sim lugar para apelar por serenidade. E lucidez. Que cada médico se aprofunde na literatura médica – e não leiga – onde encontrará vários artigos que respaldam e outros não, o emprego desse remédio na COVID-19 (porque em outras patologias seu uso é preconizado, há mais de sete décadas, pela OMS e outras entidades). Assim procedendo, que médico e paciente decidam, em conjunto, o rumo a tomar. Sem ideologia política, faz favor!

Amanhã é dia do café. Dizem que ajuda a combater o coronavírus. Que colegas não me trucidem, já que não há estudos robustos sobre isso! Mas custa nada tomar umas xícaras a mais e fazer, com essa bebida tão brasileira, tim, tim, brinde à vida.

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