Brunello di Montalcino: saiba mais sobre o vinho produzido na região de Toscana
Escrever esse artigo me deixou numa certa “saia justa”. Explico. Dois leitores e amigos sugeriram que eu falasse dos vinhos chamados “míticos”, com seus dados históricos interessantes. Projeto já em andamento, aí recebo e-mail de uma leitora questionando por que só escrevo sobre vinhos caros. Devo procurar um analista, leitor? Exemplificou com um artigo meu sobre vinhos brasileiros e se queixou por não ter lá encontrado citação ao Capelinha e ao Santa Felicidade, campeões de venda e da preferência popular. Vox populi, vox Dei, minha santa. Vou contra isso nunca.
Mas fazer o quê, se do outro lado tem a “voz herege”, que gosta de especiarias? O Brunello di Montalcino é uma delas. Denominazione di Origine Controllata e Garantita (DOCG) desde 1982, é produzido na comuna de Montalcino, província da belíssima Siena, na Toscana. Aonde, há muitos séculos, a casta de uva Sangiovese é a base de quase todos os vinhos tintos daquela região italiana. A cata de novidades, em meados do século XIX Clemente Santi, farmacêutico e proprietário da vinícola Tenuta el Greppo, resolveu estudar o potencial de um clone desta uva, a Sangiovese Grosso, conhecida por lá como Brunello, dado a sua cor muito escura. Farmacêutico!
Sempre um profissional de saúde no meio das histórias do vinho. Será que eu chego lá? Bem, mas foi um neto de Clemente, Ferrucio Biondi-Santi, fruto do casamento de sua filha Caterina com Jacopo Biondi, quem aperfeiçoou os estudos e envasou as primeiras garrafas deste vinho, em 1870, atingindo consagração com a excepcional safra de 1888. Desta data até 1950, o Brunello era produto exclusivo dos Biondi-Santi, só consumido por alguns ricos da região, devido a seu alto preço. Com a disseminação da fama deste ótimo e longevo vinho para o resto da Itália e o mundo, foram surgindo outros produtores. Hoje são cerca de duas centenas deles.
Acha estranho? No mundo de Baco há muitos casos semelhantes, em que vinhos feitos em vinícolas concorrentes levam o mesmo nome, diferenciados pelo nome dos produtores. No caso, todos sob controle do Consorzio del Vino Brunello di Montalcino (CVBM) e suas rígidas regras de produção, que incluem envelhecer pelo menos dois anos em barris de carvalho e outro tanto em garrafa. Tem que ser elaborado com 100% da uva Brunello.
E é aí que começa uma outra história. Falsificação é coisa antiga na história do vinho (só no vinho, amigo?). Muitas vezes consentida, como na época romana. Mesmo séculos depois, sempre com o intuito de melhorar vinhos de colheitas ruins. Ou apenas para faturar mais... A magistratura de Siena questionou os métodos de controle do CVBM e lançou suspeita sobre a safra 2003 dos produtores do Brunello, alguns muito famosos. Havia indícios de uso de castas não autorizadas e a razão era a escassez de uva Brunello, incapaz de fazer frente à grande demanda, sobretudo do mercado Norte-Americano. Onde a importação da safra 2003 do Brunello terminou sendo embargada!
Esse fato causou forte desgaste na imagem desse vinho, mas as medidas tomadas pela CVBM e o governo italiano ajudaram a resgatar o prestígio desse excelente produto de Baco. Beba sem susto, leitor, sempre atentando para a qualificação do produtor. O que hoje é facilitado pelo acesso aos guias e sites dos grandes críticos. Não conhece? Bem, manda uma mensagem que eu lhe indico. Tim, tim Brinde à vida! Com um Brunello di Montalcino autêntico.