Café do Romoaldo
Hoje vou satisfazer aquele leitor que me olha atravessado pois, sendo eu médico, só escrevo sobre bebidas alcoólicas. Preconceituosamente considerando que destilados e fermentados são maléficos, quando de fato, consumidos com moderação, são saudáveis.
A despeito de um ou outro artigo médico falar outra língua. Pelo menos até muito bem provado em contrário (data em que espero não mais estar nessa terra!), a maioria da classe médica continua defendendo o consumo ajuizado dessas bebidas. Por outro lado e na mesma linha, lhe pergunto amigo, fosse ele danoso, Jesus iria transformar água em vinho? Claro que não, né? Mas hoje o tema é café.
Ainda que não me recorde de qualquer citação bíblica sobre ele... Impossível, leitor, visto que esse grão tem sua história (questionável, mas enfim, é o que temos), só começando no século IX. Pelo relato de Kaldi, pastor de carneiros na Etiópia, que ao imitar seu rebanho e consumir os frutos daqueles arbustos, teve uma reação de agradável euforia.
Não tardou que o café se alastrou pela Arábia e daí pelo resto do mundo. É hoje, depois da água e do chá, a bebida mais consumida no mundo. Sempre foi motivo de controvérsia sanitária. Além da excitabilidade, por vezes desejável, creditava-se ao café benefícios em doenças cardíacas, asma, gota, enxaqueca...
Depois caiu em desgraça, sendo recentemente ressuscitado pela ciência, que comprova vários efeitos vantajosos para nossa saúde, desde que - como (quase) tudo na vida - sem exagero no consumo. Alguns creem que seu nome vem de Kaffa, província etíope onde surgiu, mas a maioria defende que deriva da palavra árabe qahwah (ou kahwah), que significa vinho.
Eu sabia que tinha algum parentesco, leitor! Você, que depois de todas essas linhas, deve estar perguntando quem é o Romoaldo do título. Pense bem, você conhece esse famoso comentarista político, de sobrenome Souza, que frequenta a alta corte brasiliana e nos dá ciência do que lá ocorre, através de várias emissoras do Brasil, inclusive uma pernambucana.
Porém, talvez não saiba de seu vasto conhecimento sobre café. Em um recente evento em Brasília, tive o prazer de conhecê-lo e de conversarmos durante um bom tempo. Ocasião em que explorei seu lado barista. Resultando em algumas dicas que quero compartilhar com você.
Antes enfatizando que o café moído e coado em pano, bem à moda de nossas mães, é a forma de fazer a bebida que Romoaldo mais aprecia. Sem demérito de outros produtores, ele fez muito elogio ao Yaguara, um café ecológico elaborado na fazenda Várzea da Onça, em Taquaritinga do Norte, Pernambuco (www.yaguara.com.br).
Indicou também o local em Recife que ele considera o melhor para se beber um bom café moído e coado na hora: o Seven Wonders Café, que funciona dentro da livraria Cultura, no Shopping Riomar. Elaborado com grãos de uma fazenda em Piatã, na Bahia, onde o Vaticano tem um fornecedor exclusivo para seu consumo, segundo me disseram. Estive lá e comprovei que é bom mesmo, amigo.
Afinal se o Papa - ainda que argentino! - gosta, quem sou eu para discutir? Pronto, falei sobre uma bebida não alcoólica, prestigiando os que me cobravam esse texto abstêmio. Ficando por aqui, com agradecimentos a Romoaldo de Souza pelas ótimas dicas. A ele, excepcionalmente com uma xícara de café, meu tim, tim, brinde à vida.
*É médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço
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