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Classificação Bordeaux de 1855

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Pra mim, promessa é dívida, leitor. Sei, sei que estou démodé. Se usar como parâmetro a maioria dos nossos políticos... do Alvorada então! Valha-me Deus! Mas a despeito do mau exemplo de cima e dos apelos da sociedade de hoje, sigo procurando pagar as promessas.

Disse que ia falar sobre a Classificação dos vinhos de Bordeaux de 1855, elaborada para a Exposição Universal de Paris daquele ano, por ordem de Napoleão III e cá estou.

Antes, dizendo que a primeira exposição universal teve lugar em Londres, em 1851, sugestão do Príncipe Albert, esposo da rainha Victoria. Por que mencionar isso? você deve estar se perguntando. Porque eu sou um imenso admirador do povo inglês.

Pronto! Povo que tomou posse da região da Aquitânia – onde fica Bordeaux – no século XII, após o casamento de Aliénor, duquesa da Aquitânia (ex-esposa de Luis VII de França) com Henri de Plantagenêt, futuro Henrique II da Inglaterra. A realeza, na época, era chegada a essas estripulias matrimoniais, amigo. Os Plantagenet já dominavam a Normandia e Anjou, assim passando a controlar boa parte da França. O que só acabou ao final da Guerra dos Cem anos, em 1453.

Esses 300 anos de ocupação criaram forte vínculo dos ingleses com Bordeaux. De onde os nobres e ricos britânicos importavam vinhos. Inicialmente em tonéis, identificando só a origem geográfica. Médoc, macrorregião a norte da cidade de Bordeaux, e Graves, a sul, eram as mais reputadas.

Mas em meados de 1600, passaram a ser conhecidos por nomes comerciais. Como pioneiro, nessa jogada de marketing, o Haut-Brion. Seguido por Margaux, Lafite e Latour. Resultando em procura direcionada e alta do preço desses vinhos. Como de se esperar, os demais produtores se espelharam no exemplo e formaram uma segunda linhagem.

Ou seja, uma classificação informal. No século XVIII surgiram esboços classificatórios, como o de Abraham Lawton. Mas o grande passo foi o de Thomas Jefferson, futuro presidente e embaixador na França do recém independente Estados Unidos da América, de 1784 a 1789. Enófilo, em 1787 passou quatro dias em Bordeaux e classificou seus vinhos, com os Châteaux Margaux, Latour, Lafite (Médoc) e Haut- Brion (Graves) como “premier cru”. Reforçou a faixa dos segundos “crus” e criou uma terceira.

Nesse ponto, voltemos a Napoleão III. Que solicitou a “prefeituras” uma listagem de seus vinhos para a Exposição Universal. Sendo atendido pela Câmara de Comércio de Bordeaux e aparentemente não pela de Libourne, responsável pelos produtos da margem direita do (rio) Gironde, particularmente St. Émilion e Pomerol. Ademais, que tinham então muito pouco prestígio e valor.

Como sonhador, leitor, eu devia ter vivido nesse tempo, pra beber Château Cheval Blanc e Château Ausone – hoje “incompráveis” – todo dia! Sonho... Os negociantes criaram a listagem com cinco faixas de preço, classificando os vinhos de acordo com elas, do 1º ao 5º “cru”. Que até hoje prevalece, só com uma mudança em 1973: ascensão do Château Mouton Rothschild do 2ème para o 1er cru. Mercê de forte campanha do Barão Rothschild!

Há também a classificação dos brancos de Sauternes, mas disso falo depois. (veja www.bordeaux.com/fr/Notre- Terroir/Classements/Grands-Crus-Classes-en-1855).

Por que não classificar Borgonha, Loire e Champagne? Pela proximidade geográfica, esses vinhos eram comprados pela corte francesa de Paris, em vez dos ingleses, atingindo assim valores bem mais baixos (os anglo-saxões sempre foram ricos, amigo). Agora, os vinhos borgonheses são caríssimos! Mercado tristemente estranho, né? Por hoje, esgotei meu espaço. Tim, tim, brinde à vida.

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