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Conheca Carcavelos, um vinho raro de Portugal

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Conhece Carcavelos? Pois eu não. Quer dizer, só conhecia de nome, até bem pouco tempo. Mas dias atrás fui finalmente apresentado a ele. Pelas mãos de um grande e generoso amigo. Explico melhor, leitor: passei dois anos e meio sem sair do Brasil, tanto pelas restrições de viagem como pelo grande trabalho com meus pacientes, durante a pandemia de Covid-19. Está achando pouco tempo de “jejum”? Pode ser. Mas entenda, além de uma fase muito cansativa e estressante, com corpo e mente pedindo arrego, meu espírito – ou minha “bateria” – é “recarregado” por viagens. Preciso conhecer locais, suas histórias, monumentos e belezas. Então, mês passado, tirei umas três semanas de férias e parti pro Velho Continente. Que a despeito do enorme calor do momento, é sempre encantador. Entre as paragens, a nossa Lisboa. Onde o citado amigo me convidou para um magnífico jantar, ao fim do qual me serviu o vinho Carcavelos. Que integra, com o “Porto”, o “Madeira” e o “Moscatel de Setúbal”, o restrito grupo dos vinhos generosos portugueses.  É produzido em muito pequena escala na freguesia de Carcavelos e Parede, aquela que é a menor região vinícola de Portugal, entre os municípios de Cascais e de Oeiras, na região metropolitana de Lisboa. Foi criada pela Carta de Lei de 18 de setembro de 1908, na qual ficou definida sua região demarcada, então formada pelas freguesias de S. Domingos de Rana e Carcavelos (do concelho de Cascais), e por parte da freguesia de Oeiras. Todavia, no séc. XIV, documentos timbrados com a chancela real já se referiam aos “bem cuidados vinhedos de Oeyras”. No século XVIII, com a ascensão do Ministro do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, a Conde de Oeiras e posteriormente a Marquês de Pombal, a sua quinta passou a produzir o vinho generoso de Carcavelos. Após um longo período em baixa, tanto pelos danos da praga filoxera como pela grande especulação imobiliária na região, cerca de 25 anos atrás, com o apoio de entidades oficiais municipais e vinícolas, a produção foi reerguida. Para tanto é utilizada a Adega Casal da Manteiga, antigo curral da bela quinta do Marquês (seu suntuoso palácio ainda está lá), com 12,5 hct, onde se engarrafam anualmente em torno de 80 mil garrafas do vinho. São poucos produtores: Villa Oeiras (o maior e mais conhecido), Quinta dos Pesos, Quinta da Bela Vista, Quinta do Barão e Quinta da Ribeira de Caparide. Resta dizer que o Carcavelos é constituído pelas castas Galego Dourado, Boal, Ratinho e Arinto e é fortificado em grande parte com a famosa aguardente da Lourinhã. Raramente é permitida a adição de outras castas, em mínimas proporções. Obrigatoriamente estagia dois anos em barris de carvalho e seis meses em garrafa. 

Ainda hoje, trata-se de um vinho raro, mesmo em Portugal. Soube que em Recife pode ser encontrado na Adega do Futuro. Vou lá conferir. Se você gosta de vinho generoso, não tenha nenhuma dúvida em prová-lo. É ótimo. Com um futuro cálice dele, concluo: tim, tim, brinde à vida.
 

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