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Embate enológico

Murilo Guimarães - Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco

É como qualquer outro. Bem, nem tanto assim. Nesse as armas não ferem, são sabor e prazer. Melhor, né? Mas é como tantos outros. Por exemplo, como o que assistimos no Carnaval, elegendo a melhor escola de samba. Ou fantasia. Tá bom, estou floreando uma simples degustação. Mas nem toda ela tem embate. Por que lembrei de falar do tema? Por conta de um jantar na casa de um grande amigo, duas semanas atrás. Para onde levei um dos melhores vinhos chilenos, o Don Melchor. Que tem 30 anos de história, um marco na enologia daquele país. A safra 2009, ano da garrafa em questão, recebeu pontuações entre 91 e 94 pontos dos maiores críticos do mundo. O anfitrião abriu a noite com um ícone espanhol, o seu tão admirado Vega-Sicilia Único, safra 2000, 93 pontos do Robert Parker. Até aí tudo ótimo. Foi quando resolvi propor que abríssemos junto o Don Melchor, para comparar. Lado a lado. Um embate, pacífico.

Resultado: a Espanha goleou o Chile. Bem feito, quem manda eu não saber ficar calado.

Brincadeira, leitor, era previsível. Coisa assim como Sport jogar com Náutico, atualmente. Se o leão perder, é zebra. Mas eu acreditava que não seria um placar tão largo. Você quer saber qual foi a discrepância entre eles? Primeiramente o Vega estava mais pronto para beber. Afinal, tinha mais nove anos de amadurecimento em garrafa. Acredite, em um vinho de alta qualidade, isso faz grande diferença. Mas, teoricamente, ambos estavam evoluídos. O Vega era mais elegante e equilibrado, especialmente no quesito “paladar frutado”. Pois é, eis um problema atual da vinicultura de nossos vizinhos. Pelo menos a meu ver. E aproveito para comentar. Visando agradar um mercado consumidor específico, que se agrada do sabor mais intenso de frutas, os produtores chilenos estão mudando seus grandes vinhos, fazendo-os mais “frutadinhos”, mais “fáceis” de beber. Em detrimento da complexidade de sabor. Tá achando minha conversa típica de um enochato, né leitor? Permita me defender e me explicar. O Don Melchor tem um custo elevado e o público disposto a arcar com ele é mais exigente, requer um vinho mais austero e clássico - que muitos se referem como seco. Donde, acho essa postura incongruente. Aliás, não só eu, muitos enófilos acham o mesmo.

Mas não quero deixar a impressão que o Don Melchor carece de qualidade. De forma alguma. O que bebemos, como sempre, agradou bastante. É que fui um pouco maldoso ao coloca-lo no embate com um vinho do quilate do Vega-Sicilia. Sobre o qual - se você quiser conhecer mais - escrevi aqui em julho de 2012, na série “vinhos míticos”. Procure e acho que você encontra. Só faltando dizer que, entre verdadeiros amigos e enófilos, a disputa sobre o melhor vinho é obra de ficção. Serve só para animar a noite. Concluo lhe desejando um animado e pacífico carnaval. Que Deus lhe proteja, já que o poder público está mais preocupado com o bem estar dos bandidos e detentos do que com as pessoas de bem. Tim, tim, brinde à vida.
EM DESTAQUE
De Gole em Gole
l Essa nota interessa mais ao público médico. Estão abertas inscrições para o III Simpósio Internacional Vinho e Saúde, em junho, lá em Bento Gonçalves. Oportunidade para conhecer pesquisas sobre vantagens e riscos do consumo de vinhos. Mais informações: www.simposiovinhoesaude.com.br
l A edição de março da revista Wine Spectator foi antecipada. Nela o vinho português Assobio tinto 2014, da região do Douro, importado pela Qualimpor e LD, recebe 90 pontos e o título de “melhor qualidade-preço”.

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