Feliz Ano Novo (com erros)
Ano novo é tempo de reflexão. Esse é um mantra, não é? Que se repete a cada 12 meses, quando um ano termina e outro começa. Mas que conversa é essa? Por que só agora? E nos outros dias, é pra ser irreflexivo, precipitado - ou “espontâneo”, como o Capitão?
Seja lá qual o motivo da escolha dessa data, tão pontual e específica, é bom que assim seja. Pelo menos um momento em que nos obrigamos a rever nossas “águas passadas” e traçar objetivos para os dias que se avizinham. Águas, aliás, que me inspiram a transcrever um belo texto de Khalil Gibran, enviado por uma prima.
“Diz-se que, momentos antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados e vê à sua frente um oceano tão vasto, que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira.
O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Podemos apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque só então o rio compreende que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Se por um lado é desaparecimento, por outro é renascimento.” Palavras que nos fazem refletir sobre as etapas e o fim da nossa trajetória. Ih, esse negócio de fim... Gosto não. A mensagem precisa ter mais vida! Mas cá entre nós, leitor, de mensagem otimista, esses dias, seu Whatsapp já deve ter lhe saturado.
Então, explorando meu sangue contraditoriamente Cavalcanti - ou cavalcantimente contraditório, como queiram - segue um texto provocativo e inspirador do contemporâneo autor inglês, Neil Gaiman.
“Eu espero que neste ano que chega, você cometa erros. Porque se você os faz, então estará fazendo coisas novas, tentando coisas novas, aprendendo, vivendo, se esforçando, se transformando, transformando seu mundo. Você estará fazendo coisas que nunca fez antes e mais importante, você estará fazendo alguma coisa.”..... “Cometa gloriosos e surpreendentes erros. Erros que ninguém jamais fez.
Não se congele, não pare, não se preocupe se não for bom o suficiente, ou se não é perfeito, seja em que âmbito for: arte, ou amor, ou trabalho, ou família ou vida. O que quer que você esteja com medo de fazer, faça!” (tradução livre desse colunista).
Inspirado nessas palavras, vou esticar as pernas e enfrentar mais um inverno rigoroso na minha vida. Para refletir. Tá bom, reconheço. Acima de tudo pra me divertir e beber bons vinhos (sem medo de errar)! Até dia 15 de fevereiro. E tenham um bom ano. Com muitos erros e acertos também. Tim, tim, brinde à vida.
*É médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço