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Geografia enológica: o mapa do vinho no Uruguai

País tem localização propícia para produção de bons vinhos

Léo Malafaia

Descobri que ainda não havia escrito sobre nosso vizinho, nessa série de geografia enológica. Reconheço que não via esse país como uma referência no mapa do vinho mundial, mas recente evento em Recife me ajudou a rever isso. 

O Uruguai se localiza entre os paralelos 30° e 35°, latitude sul. Mesma faixa de plantio de Argentina, Chile, África do Sul e Austrália, propícia para produção de bons vinhos. A despeito de sua pequena extensão territorial, apresenta boa variedade de solos. As estações são bem definidas e sob influência do clima ameno do Atlântico e do Rio Prata, tem dias quentes e noites mais frias, ideal para amadurecimento da uva. Consta que sua viticultura tem mais de 250 anos, mas os primeiros registros de vinhedos comerciais datam de 1870. Foram implantados por imigrantes europeus, notadamente o espanhol Francisco Vidiella e o basco francês Pascual Harriague.

Aliás, nesse período ocorreu um grande fluxo de imigração europeia, sobretudo espanhóis e italianos, a ponto de representar a maioria da população do país. Com eles, um grande avanço cultural e econômico. Ah, por que expulsamos os holandeses de Pernambuco, tão prematuramente? Voltando ao Harriague, deve-se a ele a introdução da uva Tannat no país, a grande estrela da vitivinicultuta uruguaia. Chegando à América do Sul, ele compra de um conterrâneo basco, instalado na Argentina, mudas dessa casta, oriundas de Madiran, França e planta na região norte do Uruguai. De onde se expandiu para o sul, conhecida pelo nome de Harriague e considerada uma uva nativa.

Só no final do século XX se identificou geneticamente como a Tannat. O uruguaio sempre foi um grande consumidor de vinho - e de carne, que harmoniza bem com a Tannat - com cerca de 30 l/habitante/ano (a média brasileira é em torno de 2,5 l). Mas a qualidade não era o ponto alto. Segundo o Larousse do Vinho®, “Até algumas décadas atrás, as vinícolas uruguaias produziam vinho rústico em grande quantidade, muitas vezes à base de uvas híbridas, não viníferas... Na época o setor era administrado pelo governo central, sem muita inspiração. Um passo importante foi dado em 1987, com a criação do Instituto Nacional de Vitivinicultura (Inavi), controlado por empresários respeitados.” E conclui: “O setor deu um salto de qualidade, que colocou seus vinhedos no mapa vinícola mundial”.

Como de costume, leitor, a iniciativa privada corrigindo as distorções inerentes ao controle estatal! Faltando falar que o país tem 19 regiões vinícolas definidas, com destaque para a área Metropolitana, ao sul, onde pontifica Canelones (em especial), Montevidéu e San José. Mas as demais regiões apresentam crescente evolução. Como já mencionado, a rainha é a casta Tannat, que produz vinhos de cor profunda, estrutura firme, tânicos e com sabor de frutas negras. Mas há outras tintas, tais como a Merlot, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Syrah e Marselan, geralmente usadas em cortes. Entre as brancas, destaque para Sauvignon Blanc, Chardonnay e Albariño.

Concluo lembrando que nosso vizinho, ali juntinho, chegou a ser o melhor classificado no Índice de Percepção de Corrução de 2017. Leitor, lembre disso no dia 30 e não vote para nos trazer de volta essa chaga petista. Fora ladroagem! Tim, tim, brinde à vida.

P.S. Na degustação Uruguay 2022, gostei de alguns vinhos que provei, com destaque para produtos das vinícolas Garzón, Familia Deicas, Montes Toscanini e Los Cerros de San Juan.

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