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Le Macchiole em Bolgheri

Vinhos desta vinícola recebem altas notas dos críticos com frequência - Divulgação

Há muito queria visitar essa sub-região vinícola, próxima à costa do Mar Tirreno. Ela é berço de grandes vinhos da Toscana, e por conse­quência da Itália, usualmente denominados super toscanos. Ademais, segundo guias turísticos e raros amigos que lá estiveram, a própria vila de Bolgheri merecia a visita. Satisfiz meu desejo no final de junho.

Antes, fiz cuidadosa seleção da vinícola que visitaria (apenas uma), pois a ideia era um bate-volta a partir de Florença, passando pela linda San Gimignano no caminho. Após ler sobre os produtores de vinhos, o tipo de visita-degustação que ofereciam (incluindo o custo, em alguns casos bem alto) e as notas que seus produtos recebiam dos críticos, fixei-me na Le Macchiole.

Enviei e-mail e agendei a visita para as 11:00 horas. Carro alugado, saímos de Florença, eu, esposa e filha, com 02:00 h de antecedência, confiando no Waze, que estimava o percurso em 01:35 h.

Nunca me entendi bem com esses aplicativos de locomoção, amigo! Eles me passam a perna com muita frequência. Reparos na estrada (não previstos), trânsito pesado, localização de chegada totalmente equivocada... Eis que chego com uma hora de atraso! Felizmente a pessoa que agendara a visita era a gentil e paciente Alice.

Que nos aguardava sorridente (não sei como!) e nos conduziu pelas instalações da Macchiole, descrevendo suas características - destaque para o peculiar mural de Ozmo e os tanques de fermentação em cimento - e sua história. Que começou em 1983. Sim, leitor, todas as famosas vinícolas de Bolgheri são jovens, quando comparadas a outras seculares da Toscana.

A exemplo da pioneira Tenuta San Guido, cujo vinho ícone, Sassicaia (dele já lhe falei no passado), foi lançado comercialmente apenas em 1968. Com altíssimo sucesso, vencendo disputa com os grandes vinhos de Bordeaux. Mas essa é outra história. A nossa se inicia com Eugenio Campolmi. Insatisfeito com o trabalho no restaurante local do pai, adquiriu, com a companheira Cinzia Merli, 4 hectares de terra na Via Bolgherese.

Seguindo a linha da vizinha Sassicaia, plantou variedades bordalesas. Sendo importante esclarecer esse ponto. Décadas antes, o Marchese Mario Incisa dela Rocchetta, fundador da Tenuta San Guido, havia identificado a similaridade entre os “terroirs” de Bolgheri e Bordeaux, decidindo fugir da “obrigatoriedade” toscana do plantio da casta Sangiovese e partindo para as francesas Cabernet Sauvignon (CS) e outras.

Transformando totalmente a vitivinicultura local. Voltando a Eugenio e Cinzia, em 1989 lançaram seu primeiro vinho, o Paleo Rosso, corte de CS e Sangiovese, que desde 2001 virou um monovarietal de Cabernet Franc.

Hoje são 26 hectares em 6 vinhedos próximos, com regras de plantio estritamente orgânicas, gerando quatro vinhos tintos e um bran­co. Que degustamos, sob a competente batuta de Alice. Além do vinho de entrada, Bolgheri Rosso, bebemos o Paleo (100% Cabernet Franc), o Scrio (100% Syrah) e o Messorio (100% Merlot).

Que degus­tação, leitor! Até hoje me dá água na boca. São vinhos muito premia­dos, com recorrentes altíssimas notas dos críticos. Valem cada go­ta. Restando salientar que, devido ao precoce falecimento do Euge­­nio, aos 40 anos, atualmente Cinzia e seus dois filhos conduzem a vi­nícola. Com maestria.

De lá saímos de alma leve, apesar do calor ex­tenuante (40°C) e, pela exuberante Avenida dos Ciprestes, chega­mos à linda vila de Bolgheri. Ih, amigo, ia falar dela, mas meu espaço já estourou. Só me sobra o tim, tim, brinde à vida. E à Le Macchiole.

*Murilo Guimarães é médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço

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