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Livre ou enjaulado?

Vinho - Leo Malafaia/Folha de Pernambuco

Você acha que eu vou falar do criminoso que os “coleguinhas” soltaram, né? Quem me dera. Ia botar pra fora tudo que penso sobre essa “tenebrosa transação”. Mas minha obrigação é discorrer sobre vinhos e outras coisas boas da vida. E essa falcatrua é amarga demais! Peguei carona em notícia de recente premiação e em matéria do periódico português “Fugas” para meu artigo de hoje. Sobre os tintos portugueses Barca Velha 1999 e Pêra-Manca 2005. Que na compilação de 2019 das preferências de usuários do aplicativo Vivino – você conhece, não é? – foram pontuados entre os 15 melhores do mundo. Nesse levantamento ainda constando um terceiro português, o Very Old Single Harvest Port 1968. Realmente um grande feito para os patrícios de além-mar, com mais vinhos que a Itália, nessa listagem. Que foi publicada na Forbes pela Eustacia Huen, uma autointitulada “food and lifestyle writer” (escritora de comida e estilo de vida). De origem oriental, essa jovem, que tem no currículo contribuição para várias publicações internacionais, se define como especialista em diversão. Na linguagem de hoje, penso se tratar de uma “digital influencer” do luxo. Pois é, leitor, pense numa profissão animada e bem remunerada. Tão diferente da minha suada medicina... Se, por outro lado, você argumenta que o levantamento do Vivino, feito por consumidores mundo afora, é contaminado pelo viés de diferentes níveis sociais, de países com economias distintas, conta com minha concordância. Mas é um bom indicativo, não é?

Falando no Barca Velha e no Pêra-Manca (você ao menos já ouviu falar deles), segundo o lusitano “Fugas”, “são dois ícones nacionais, mas não são comparáveis. Não apenas por serem de zonas diferentes (o primeiro é do Douro, o segundo é do Alentejo). O que os distingue, acima de tudo, é a história e a importância que cada um deles teve para a evolução e a visibilidade dos vinhos das respectivas regiões e do país”. Sobretudo porque o Alentejano – sobre o qual já escrevi em junho de 2009 – tem apenas 29 anos de vida. A própria Fundação Eugênio de Almeida, empresa que o produz, tem vinhos bem mais antigos. Enquanto isso, o duriense tem mais do dobro de idade, lançado que foi em 1952. Inaugurando a história do vinho tranquilo (dito de mesa) da região do Douro, até então célebre apenas pelo fortificado vinho do Porto. Tudo nos fazendo pensar que jovens e velhos podem construir, igualmente, um bom conceito de um país. O que me reporta, em contraponto, ao título desse artigo e à liberdade do nosso bandido-mor. Que vergonha melancólica para o Brasil e seu judiciário! Pronto, falei pelo menos um pouquinho. Agora vou afogar minha mágoa com um tim, tim, brinde à vida.


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*É médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço

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