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Mapa do vinho: Austrália outra vez (1)

Austrália: vitivinicultura em constante reviravolta - Divulgação

Escrevi sobre esse país em 24 de junho de 2006 (poxa, faz é tempo que eu escrevo aqui!). Horas antes do jogo Brasil x Austrália, na Copa do Mundo daquele ano. Vaticinei que o placar seria 2 x 0 para o Brasil. Acertei na mosca! Mas errei ao condicionar esse escore à escalação de Juninho, ex-Sport. Que nem jogou!

Pois é, se Parreira me ouve, teríamos ganho de quatro. Pensando bem, aquele time não tinha gabarito para tanto. Como o atual. Mas essa é outra conversa. O que me motivou a reescrever sobre a Austrália foi a enóloga Priscilla Hennekam, potiguar de nascimento, mas andarilha de vocação. Saiu jovem de Natal para Mendoza, Argentina, onde fez curso de Sommelier e conheceu seu esposo, australiano.

Depois passou 3 meses perambulando por vinícolas europeias (inveja!), até se instalar no país do canguru, onde desenvolve belo trabalho enológico. No início do mês passado esteve em Recife, a convite da ABS-PE, quando proferiu uma ótima aula-degustação sobre vinhos australianos. Onde o plantio de uvas começou com as mudas levadas por Arthur Phillip, primeiro governador britânico a aportar na ilha, em 1788.

Esse longínquo lugar do mundo servia então para desterro dos bandidos ingleses - tal qual os portugueses fizeram com o Brasil; lá com bom resultado, aqui, até hoje... Cala-te, língua!

É uma região de clima variado, podendo ir do muito quente ao bem frio e sofre forte influência dos fenômenos climáticos El Niño e La Niña. A grande maior parte do país (o norte) é um deserto, com suas muitas áreas vinícolas se concentrando ao longo da costa sul e sudeste, incluindo a vizinha ilha, Tasmânia.

De seus primórdios até meados do século passado cerca de 90% dos vinhos eram fortificados (tipo Porto e Xerez), únicos capazes de suportar o longo trajeto até a Inglaterra, seu maior importador. Na década de 1960 redirecionaram a produção para espumantes, brancos doces e por fim tintos possantes.

Esses últimos, predominantemente da uva Shiraz, responsáveis pela súbita fama do vinho australiano no mercado europeu, nos anos 1980. Concomitantemente mudaram os brancos, em especial os da uva Chardonnay (segunda variedade mais plantada no país), para um paladar mais seco e fresco.

Mas aí veio a ganância. Ah, essa maldita, que tanto mal faz à humanidade! Preços elevados, superprodução, menor qualidade... O resto você sabe: decadência. Para envazarem em marcas próprias, os ingleses e norte-americanos começaram a comprar vinho australiano a granel, em vez de garrafas, derrubando o valor médio do tonel de vinho pela metade.

Mas atualmente está em curso um renascimento na vitivinicultura do país, com uma forte reciclagem de uvas. Nunca vi tanta variedade diferente em um país só, amigo. Tem do mundo todo. Como diz, ironicamente, o famoso Hugh Johnson, é difícil achar um vinicultor na Austrália que não tenha um “projeto de sua estimação”. Embora haja muita experimentação, incluindo, obviamente, algumas mal sucedidas, na média, o resultado final tem sido positivo.

Que o diga o povo chinês, que em 2017 aumentou a importação de vinho Aussie (como é popularmente chamado o australiano) em 15% no volume e 63% no valor. Bom, né? Vamos apostar que o governo Bolsonaro consiga sensibilizar os chineses para nossos produtos, leitor. Nas próximas colunas tem mais. Por enquanto, tim, tim, brinde à vida.

*É médico e enólgo. Escreve quinzenalmente neste espaço

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