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Mapa do vinho: Beaujolais

Beaujolais e a uva Gamay - Arte: Hugo Carvalho/Folha de Pernambuco

Na última coluna escrevi sobre a casta Gamay e sua próxima introdução nas colinas do Douro. Levando um leitor a me pedir que falasse sobre a região de Beaujolais, onde a Gamay impera. Como pedido de leitor é ordem... Administrativamente parte da Bourgogne (entre Mâcon e Lyon), no mundo de Baco é classificada como uma das regiões vinícolas autônomas da França. Comecemos pelo vinho emblemático, responsável pela disseminação além fronteiras da marca. “Le Beaujolais nouveau est arrivé!” – traduzindo, o Beaujolais Nouveau chegou! – é uma frase ufanista, que ressoa na França, com eco em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Competente jogada de marketing dos comerciantes de Beaujolais, este evento transmite a ideia de “cheguei pra fechar a festa”. Quando de fato trata-se apenas de um vinho agradável, ligeiro, fácil de beber, mas a
léguas da cabeceira qualitativa. Mas marqueteiro, sabe né, consegue fazer quase tudo com nosso consumo! Bem, voltando ao tema, a legislação vinícola francesa não permite que os vinhos AOC (sistema de controle) sejam lançados antes do dia 15 de dezembro do mesmo ano da colheita, que começa em outubro. Como forma de garantir que mesmo os vinhos jovens sejam submetidos a um maior tempo de maceração e fermentação. E é aí que entra o Beaujolais Nouveau (novo, em português). Sendo a uva Gamay precoce, de fácil maceração (processo carbônico), em 1951, esse vinho recebeu concessão oficial para ser comercializado dentro da sua própria região produtora, a partir de 15 de novembro. Este lançamento tem um caráter muito festivo – os rótulos sempre igualmente festivos – sinalizando a nova safra de vinhos.

Posteriormente esta comemoração saiu de Beaujolais para os “bistrots” de Paris e do resto da França. E nas últimas três décadas, para mais de 150 países do mundo. Consagrou-se a terceira quinta-feira de novembro, como a data desta festividade. Mas não só deste produto vive a região vinícola de Beaujolais, que deve sua fama aos tintos, embora existam alguns rosés e brancos. São vinhos leves e frutados – na quase totalidade elaborados com a Gamay – tendo permissão para engarrafamento desde uma gradação alcoólica mínima de 9°. Os básicos e despretensiosos AOC Beaujolais, ao sul, são feitos para consumo muito jovem, idealmente no primeiro ano. Entre eles há alguns poucos rótulos Beaujolais Supèrieur, nome honorífico, um pequeno degrau acima de qualidade. Já os Beaujolais Villages, a noroeste da região, com solo mais granítico, crescem em estrutura e frescor, aguentando mais tempo em garrafa. Mas as estrelas da região são os chamados Cru de Beaujolais: Moulin-à-Vent, Juliènas, Chénas, St-Amour, Fleurie, Chiroubles, Morgon, Regnié, Brouilly e Côte de Brouilly. Situados no nordeste, atingem um patamar de qualidade bem acima dos “irmãos”, com mais complexidade de sabores e capacidade de envelhecer bem por anos. Infelizmente não são fáceis de achar no mercado local. Mas se encontrar, prove. Sobretudo o Morgon, acredito que lhe agradará bastante. Tal qual encantou o famoso Paul Bocuse, quando foi com o pai, aos seis anos, de bicicleta, pela primeira vez, comprar barris destes vinhos, por ocasião da vindima. Ah, mundo bom, aquele! Sem coronavírus! Aliás, como será a festa do “Le Beaujolais nouveau est arrivé” deste ano? Virtual? Vôtes, quero nem pensar. Tim, tim. Brinde à vida!

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