Miolo Single Vineyards
Se o fabuloso Ariano Suassuna fosse vivo - saudades! - ele não leria esse artigo. Menos Murilo, menos! Quem disse que ele alguma vez se interessou em ler escritos dessa Baco e Cia? Perdoe o atrevimento, leitor, não foi esse o objetivo. É que sempre que me deparo com o uso do estrangeirismo na nossa língua, me recordo das restrições que ele fazia a esse hábito tão brasileiro. Logo me reportando à estória do Maicon Jackson, um jovem do agreste pernambucano, que Ariano contava em suas aulas espetáculos. Mas essa é outra conversa, que não ouso replicar, em contraponto a ele, por total falta de competência para lhe fazer rir com a narrativa. Voltando ao “single vineyards”, até justifico esse anglicismo. Afinal, é termo disseminado na linguagem enofílica. Amigo, não venha dizer que é afetação de “enochato”. É útil usar termos que sejam compreendidos mundo afora, visto que os produtos ultrapassam fronteiras. E o inglês é a língua universal. Parodiando Chicó, não sei por que, só sei que é assim!
Trata-se de um interessante projeto do Grupo Miolo, hoje uma das grandes empresas viníferas do mundo, com vinícolas espalhadas em diferentes regiões do Brasil, no sul e no nordeste, além de “joint ventures” - o anglicismo se fazendo presente outra vez - em outros países. Ao todo são quatro vinícolas próprias: Miolo (origem de tudo), no Vale dos Vinhedos, Seival, na Campanha Meridional, Almadén, na Campanha Central e Terranova, no Vale do São Francisco. Cada uma com seus vinhedos subdivididos em parcelas, micro lotes de poucos hectares, num exaustivo trabalho de identificação dos diferentes “terroirs” (vige!, outro estrangeirismo). Onde se dá um contínuo processo de análise qualitativa de diferentes castas. Atualmente, segundo Adriano Miolo, já se tem resultado de 40 delas, com experimentos de outras tantas em andamento. Trabalho hercúleo, leitor. Identificar a melhor casta de uva adaptável àquele determinado micro solo e clima, não é fácil. Mas foi desse estudo que resultou o projeto comercial “single vineyards”, com seis produtos varietais. O Riesling Johannisberg e a Cabernet Franc (Campanha Central), o Alvarinho, o Pinot Noir e a Touriga Nacional (Campanha Meridional) e o Syrah (Vale do São Francisco) foram agrupados em um kit, colocado à venda na loja virtual da miolo.com.br (R$526,00). Os mais novos lançamentos dessa “tropa” foram o Alvarinho e a Cabernet Franc, motivos de uma recente degustação virtual - no último artigo lhe expliquei como isso funciona. Começamos pelo Alvarinho (safra 2021), uva típica da região do Minho, norte de Portugal, que gera brancos aromáticos, frescos e de acidez marcada. É também uma das castas do vinho Verde. Este exemplar da Miolo, jovem (sem trabalho em madeira), com boa tipicidade, agradou bastante aos cerca de 30 jornalistas e críticos de vinhos dessa degustação. Pode acompanhar bem pratos leves, mas é uma excelente opção como aperitivo, nesse verão que se avizinha. Depois veio a Cabernet Franc (safra 2020) - parente próxima da Cab. Sauvignon - uva que outrora prevaleceu entre as tintas brasileiras. Amplamente usada no Loire e em Bordeaux, sobretudo em Saint-Émilion, produz vinhos tintos de bom corpo e mais frutados que sua parente, tais como esse da Miolo. Com envelhecimento em carvalho francês, merece uma espera para ser consumido. Gostei muito de observar a grande evolução dos já bem conceituados vinhos do Grupo Miolo. Saravá! Tim, tim, brinde à vida.