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O Leite

Murilo Guimarães escreve sobre o Leite, o mais antigo em funcionamento no Brasil

Restaurante Leite - André Rêgo Barros/Arquivo Folha de Pernambuco

Apesar de toda reverência às vacas (aquelas de 4 pernas, viu?), por tudo que elas nos fornecem, não vou falar do seu nobre produto. Tão em baixa hoje em dia, pelo crescente número de intolerantes a lactose. Nem sei se é meu caso, visto que não consumo leite há muitas décadas. Desde que a Cilpe, segundo as más línguas, começou a enxertar água nas garrafas que nos vendia. Mas essa é outra história. Continuo adorando todos seus derivados, como queijos (hum!), manteiga, creme de leite, iogurte... tudo que faz mal a minhas coronárias! Leitor, se você for meu cliente, me entenda, a carne é fraca. “Faça o que eu digo, mas não faça o que faço”, não é esse o ditado?

Posso até um dia dedicar essa página ao laticínio, mas hoje o foco é outro. Falarei do clássico restaurante recifense, o mais antigo em funcionamento no Brasil. Em atividade desde 1882, o Leite faz parte da história gastronômica e turística local. Não raro, amigos de outros estados, em visita a Pernambuco, solicitam uma programação de almoço ali, de onde saem  invariavelmente satisfeitos. Então, pergunta você, um local já tão conhecido, por que esse artigo só agora? Porque, além dos vídeos que circulam nas redes sociais, outros já falaram tanto e tão melhor que eu conseguiria... Mas desta vez decidi abordar o tema. É que tenho ido lá, sempre que possível, nos almoços de domingo – como este último – com repetitiva satisfação.

Desde o ambiente classudo e recheado de amigos, passando pelos simpáticos maitres e garçons, à deliciosa comida, tudo exala qualidade. Ah, quase esqueço o piano. Sob a batuta de Edson Santos, o fundo musical dá um tempero muito especial à refeição. Vale registrar, um dos raros restaurantes que oferecem esse agradável complemento. Falar da comida é  dispensável. Nenhum estabelecimento sobrevive inteiro a 140 anos de atividade sem oferecer coisa muito boa. A exemplo da cartola, nossa emblemática sobremesa, que atinge no Leite seu ápice de sabor. 

Mas preciso destacar um único ponto negativo: o entorno. Corrigível, com uma canetada! Inteiramente nas mãos do poder público, municipal e estadual, que há muito deve uma intervenção por ali. Os prédios da área são mal cuidados, todos pichados (de quem foi a ideia de criar os famigerados pichadores?). Aliás, um infeliz cenário de (quase) todo centro do Recife. A rua da Concórdia já teve um comércio florescente. A rua da Palma, onde pontificavam lojas como Vianna Leal e Casa Sloper – além das noturnas moças alegres!!! – foi um “point” comercial da
cidade. A Casa de Detenção teve uma fase turística de glória. Toda região prestou grande serviço à sociedade. Infelizmente, hoje é um local decadente.

Agora imaginem, tal como ocorre em tantos e tantos locais do mundo (o Chiado, em Lisboa e Palermo, em Buenos Aires, são 2 pequenos exemplos), todo aquele espaço revitalizado, com bares, restaurantes, lojas, teatros... bom para o recifense, para os cofres públicos (impostos) e para os proprietários de imóveis ali, atualmente em situação falimentar. Mas para isso, é indispensável o dedo – e a mão inteira – do governo. Fica esse apelo aos olhos de nosso Burgomestre e da nossa Governadora.

Leitor, você deve estar perguntando: vai falar de bebida não? Vou! Dá um pulo lá no Leite e pede o cardápio de vinhos dele. Tem muita coisa boa, viu? Que hoje, aqui, só me sobra espaço para tim, tim, brinde à vida.

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