Os saca-rolhas
Tenho amigos que fogem de “grupos de whatsapp”. Às vezes invejo – pela calmaria virtual – por outras tenho pena, pois deixam de receber tantas curiosidades e histórias hilariantes. É verdade, há pessoas precisando se ocupar, pra largar um pouco o celular, mas acho que a balança pende a favor dos grupos. Você concorda? Então deve receber mensagens que viralizam e chegam de várias fontes. Sobretudo de amigos que conhecem seus gostos e generosamente lhe suprem de informações. Foi o caso recente de um interessante filminho sobre antigos e belos abridores de vinho. Instrumento que só existe por causa das rolhas.
Até o século XVII os vinicultores vedavam os recipientes de vinho (vaso ou ânfora de cerâmica, pele de cordeiro, barril de madeira, garrafas de vidro, etc.) com madeira, couro e trapo de pano banhado em óleo. Claro, com frequência esse óleo pingava no vinho, contaminando o sabor. Também lacre de vidro, que quebrava. Nenhum oferecendo vedação adequada. Naqueles idos de 1600, surge a rolha de cortiça, atribuída a Dom Pérignon, monge beneditino francês. Já lhe falei sobre a cortiça, suas limitações de cultivo e de uso, mas, leitor, ela continua sendo a melhor e inegavelmente mais charmosa rolha de vinho. Que exige um outro charmoso objeto, o saca-rolhas (pena que esse espaço ainda não permite anexar o tal filminho que me enviaram...).
Consta sua origem por volta de 1680, na Inglaterra (tinha que ser nesse fabuloso país!). Já o primeiro modelo patenteado foi criado em 1795 pelo inglês Samuel Henshall, um reverendo – a igreja sempre presente na história vinícola. Ele introduziu um disco entre a espiral e o puxador, o que limitava a penetração excessiva na rolha, permitindo girá-la em torno da boca da garrafa, liberando qualquer aderência entre elas. Daí em diante, a criativa mente humana inventou vários modelos (veja foto, que ilustra alguns deles).
Do tradicional, uma simples haste de madeira e uma espiral, aos mais sofisticados, todos tem vantagens e desvantagens. Que vão da eficiência na retirada da rolha, da facilidade de uso, do armazenamento, ao custo. Dentre eles, amplo destaque para o tipo sommelier, popularmente conhecido como “amigo do garçom”. Outro bem popular é o tipo borboleta, que eu também chamo “bailarina”, com 2
alavancas. Ou tipo coelho, assim chamado por seu formato, quando visto de perfil.
Nos últimos anos surgiu o modelo de pressão, que injeta ar abaixo da rolha por uma haste fina. Vale conhecer o tipo CORAVIN®, cujo objetivo maior é servir vinhos em pequenas doses, sem retirar a rolha, evitando oxidação. Os mais caros e sofisticados modelos elétricos podem parecer melhores. Desde que a bateria esteja bem carregada e não falhe no meio do processo, amigo!
Na essência, há dois fatores primordiais para o saca-rolhas ser eficiente: uma longa espiral de metal bem afiada e a integridade da rolha. Eis aí um grande problema. Nas garrafas mais antigas, ela pode estar ressequida, com risco de fragmentar. Nada pior que “contaminar” um bom vinho com pedaços da cortiça.
Sem falar na falta de charme! Aí surge o rei dos saca-rolhas, recentemente lançado: o tipo Durand® (nessa foto, sobre uma base de cortiça). Que associa a clássica espiral a um modelo de pinças – que também é vendido individualmente, mas pode empurrar a rolha. Com o Durand®, em boas mãos, é impossível “perder” a rolha. Infelizmente, ainda é bem caro.
oncluo, voltando ao tal filminho do whatsapp: nada igual aos charmosos modelos antigos, inclusive os fixados em mesa. Vou percorrer os antiquários a procura deles. Tim, tim, brinde à vida.