Páscoa, vinhos e comidas
Murilo Guimarães escreve sobre harmonização enogastronômica com a culinária típica da época
Feriado prolongado é um tentador convite para mudança de ares e “dolce far niente”, como gostam os italianos. Que nas palavras de Ascenso Ferreira se traduz como “pernas pro ar que ninguém é de ferro”. Na Páscoa, Fazenda Nova, Gravatá e redondezas são destinos sempre muito procurados. E vinho casa bem com festividades e clima frio. Frio? Saudades de um passado não tão distante, do clima ameno do agreste nessa época, leitor! Quem foi que inventou esse tal de aquecimento global? Acho que foram os ambientalistas. Eita, vou apanhar de uma amiga.
Serão o feriado e o clima “virtual” as únicas razões para o forte apelo comercial de consumo desta bebida? Vamos de novo para a história. Páscoa se origina do hebraico Pessach (passagem), festa judaica com mais de 3.000 anos que comemora o êxodo dos escravos hebreus do Egito, guiados por Moisés. E a bebida fazia parte desta comemoração, que lá dura oito dias. Desde que Jesus, festejando a Páscoa e antes de sua morte, ofereceu o “sangue de seu corpo” – representado pelo vinho – a Páscoa cristã absorveu esta prática salutar. Que o catolicismo integrou ao ritual de celebração da missa. Portanto, não me acuse de
profano por fazer recomendações enofílicas! Você, leitor, vai festejar com suas famílias e amigos, saboreando aqueles pescados fabulosos da sexta e as carnes do sábado – para “rebater” – só com água e sucos? Ninguém merece, né?
E a harmonização enogastronômica com a culinária típica da época? Peixe pede vinho branco sim. Ou espumante. Vinho tinto jovem (sem amadurecer em madeira) é uma opção para peixes com sabor forte. Como o bacalhau, prato típico da 6ª-feira de Páscoa, que deve ser acompanhado por um tinto leve. Ou um branco possante. Com o devido perdão dos amigos portugueses, defensores do vinho tinto verde que, embora jovem, tem taninos (adstringência) muito fortes, suplantando o sabor do bacalhau. Pecado! E logo na sexta santa! Nos outros dias tome vinho tinto maduro ao comer carneiro, prato ainda mais típico da Páscoa,
desde o antigo Egito e Moisés. Mas esse é assunto para minha colega de escrita, Maria Lectícia. Quanto ao chocolate, com seu gosto forte e adocicado, só se harmoniza bem com alguns vinhos fortificados: o Porto, o Jerez e o francês Banyuls. Tá bom, faço concessão a alguns licores.
Boa Páscoa, companheiro de leitura. Com um bom tinto, tim, tim. Brinde à vida!