Por que brindamos?
Aproveitei essa época festiva junina e o aniversário hoje do amigo João Carlos - um brinde! - para escrever sobre o ato de brindar. Afinal, sempre termino este artigo brindando à vida e fazendo tim, tim. Que se refere ao som dos copos de vidro se tocando, cujo significado vou lhes contar, tintim por tintim.
Consta que o brinde teve sua origem, milênios atrás, nos acordos de paz celebrados entre povos guerreiros, quando o mediador elevava a taça e bebia o primeiro gole para atestar que a bebida não estava envenenada. Que depois circulava pelos presentes, que imitavam o gesto. Mais tarde Jesus, na grande ceia... Bem, essa história todo mundo já sabe.
Como nos relata Alfredo Saramago, já o toque dos copos, naquela época de vidro fosco ou de metal, portanto sem visão da bebida, tinha por fim revelar que o volume servido fora igual para todos, o que era percebido pelo som emitido. Pois é, olho grande sempre existiu, minha gente. Mas há outras versões.
Como a dos desconfiados romanos, quando envenenar o vinho dos outros era rotina. Por segurança, antes de beberem, batiam forte seus copos, sacudindo e misturando gostas de suas bebidas. Eu prefiro a versão mais glamurosa, corrente entre os enófilos: na análise do vinho usa-se a visão, o olfato, o tato bucal e o paladar. Faltava o quinto sentido, o da audição, suprido pelo som do brinde. Invenção de quem? Do sabido Baco, segundo a lenda.
A palavra brinde parece se originar do alemão "ich bring dir's" algo como "eu bebo a você". É um ato de solidariedade, de alegria, de bons desejos, de homenagem... Que na maioria dos lugares é acompanhado pela palavra saúde. Mas há exceções, como o "toast" (torrada) dos ingleses - eles sempre mudam as coisas para ficarem diferentes - ou o escandinavo "skäl" (caveira), herança dos Vikings.
Ou ainda o "Kampai" (copo vazio) dos japoneses. Aliás, nunca digam tim, tim, brindando no Japão. Sobretudo nós, homens. Lá é o termo usado para o órgão sexual masculino. Pensem na fria, se eles resolvem "interpretar" o brinde? Mas aqui no Brasil pode. Portanto, tim, tim. Brinde à vida! E ao São João.
*É médico e enólogo, escreve quinzenalmente neste espaço.