Pouco para muitos (ou muito por pouco!)
Andei tirando uns dias para vadiar, aproveitando o feriadão de Nossa Senhora Aparecida. Tá bom, talvez você saiba que eu estiquei o feriado um pouquinho além da conta brasileira, mas de vez em quando pode, não é? O motivo era nobre: celebrar o aniversário de uma boa amiga em Buenos Aires e aproveitar para conhecer Mendoza.
Aqui tão pertinho e eu nunca tinha visitado! Ademais, me capitalizei de assuntos para escrever aqui. Mas nas próximas colunas, pois hoje o tema já estava previamente escolhido. Semanas atrás o restaurante Fasano de São Paulo promoveu uma degustação de grandes safras do bordalês Château Latour, um dos mais prestigiados - e caros - vinhos do mundo.
Foi um jantar de sete etapas, harmonizado com esse vinho, além dos fabulosos champanhe Cristal rosé 1995, abrindo a noitada e o Château d’Yquem 1986, servido ao final, com os queijos. O Latour estava representado pelas safras 1970, 1975, 1989, 1990, 1995, todas muito respeitáveis e pelas excepcionais 1959, 1961 (raras), 1982, 2000 e 2003.
Um time de estrelas reluzentes (mais que o inesquecível Santos de Pelé)! Para um público privilegiado, restrito a 22 pessoas. Levando um amigo e companheiro de degustações - ainda que boas, muito longe deste nível - a me enviar uma conta volumétrica. Cada afortunado beberia apenas 34 ml de cada garrafa. Coisa assim como dois goles! (Veja EM DESTAQUE como volume de bebida é relevante).
Foi uma brincadeira provocativa, visto que sempre me preocupo com esses mililitros per capita, quando organizamos uma degustação. Mas terminou renovando a reflexão. Será que vale a pena? Dá nem para comparar um vinho com outro, momento tão didático desses encontros. Pense nisso, amigo, quando for degustar uma garrafa especial em grupo.
O número ideal é de seis a sete convivas repartindo uma garrafa de 750ml. Mas sem brigar caso surja outro bom amigo pra essa partilha. Mais que isso é como seca sertaneja, deixa uma sede...
Voltando ao evento, a essas alturas, se você é ligado em matemática, já multiplicou 34ml por 12 vinhos e chegou a cerca de 400ml, pouco mais de meia garrafa. Volume que em princípio satisfaz. É, mas... Sabe quanto custou essa farra celestial? R$ 12.490,00 por pessoa! Ou seja, R$ 23.000,00 por uma garrafa! Pois é, nesse país quase destroçado por Dilma e Lula, ainda há muita gente com dinheiro sobrando. E não eram Joesley e Wesley, que estão no xadrez, leitor. Aos eventos com amigos e bons volumes, um tim, tim, brinde à vida.
EM DESTAQUE
Mondial de la Bière
Apesar do nome, esse evento anual, com sucesso crescente, ocorre no Pier Mauá, no Rio. Na edição de 2017, duas coisas tiveram destaque. A primeira nos deixa orgulhosos. Em um universo de quase monopólio das cervejas artesanais do Sul e Sudeste, de acordo com a coluna “Aqui se bebe”, do O Globo, a pernambucana Ekaüt foi um dos destaques.
A outra exprime o Brasil de hoje. Descobriram que o organizador do evento, em lugar do alegado volume de 125ml, de fato forneceu copos de 100ml. 20%! Fez você lembrar de alguma coisa muito usual em Brasília?
"Orgulho de ser nordestino”
“Famílias Vintage” é um programa na rede de notícias portuguesa SIC. Recente edição abordou a família Niepoort, com destaque para o enólogo Dirk. Que começou falando sobre um jantar que elaborava e para o qual selecionou dois vinhos: um tinto de sua produção e o branco Quinta Maria Izabel. Que como você deve saber, é produzido pelos conterrâneos Paes Mendonça. Ponto para os nordestinos. Se quiser ver a interessante reportagem, lance no google: familas-vintage niepoort.
*É Médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço.