Saiba mais sobre a região de Colares
Já ouviu falar dele? Sabe onde fica esse torrão? Sabe? Então pode esquecer essa coluna. Vá ler o restante do Caderno Sabores, que tem muita coisa mais interessante pra você. Mas deve existir algum leitor que não conheça e por isso vou seguir adiante com essas linhas.
Colares é uma das nove sub-regiões da região demarcada intitulada Lisboa. Situa-se entre o oceano Atlântico e a serra de Sintra – onde fica o belo Castelo da Pena – sendo a Denominação de Origem Controlada mais ocidental da Europa Continental e a menor produtora de vinhos tranquilos (não fortificados) de Portugal. Uma pequena extensão territorial ao lado do Cabo de Roca, o ponto mais oeste da Europa Continental, "onde a terra se acaba e o mar começa”, nas palavras de Luis de Camôes.
Foi classificada como DOC em 1908. Porém os registros históricos dão conta de plantio de vinhas no entorno de Sintra desde a antiguidade, antes da era cristã. Ao longo dos séculos, por cessão de reis portugueses, a região passou pelas mãos de nobres, que teriam lá cultivado cepas francesas. Seu solo, tal qual nas praias, é predominantemente arenoso (“chão de areia”), requerendo uma profunda escavação até se atingir uma camada argilosa (“chão rijo”), onde é fincada a videira, no esquema “pé franco” (sem enxertia). Fato que lhe confere características especiais. Entre elas, a resistência à filoxera, que dizimou vinhedos europeus no século XIX. Visto que esse tenebroso inseto não conseguia penetrar neste tipo de solo. Para proteger as videiras dos fortes ventos do Atlântico, elas são circundadas por cercas de cana seca, o que lhes confere um aspecto bem peculiar.
Atualmente, aqui são plantadas a Ramisco, casta tinta só encontrada em Colares e a branca Malvasia. Que precisam de longo tempo de maturação, particularmente a Ramisco. Por todos esses fatores, o vinho de Colares, muito prestigiado ao longo de sua história, é hoje peça rara. Se o encontrar por aí, não titubeie em comprar essa relíquia vinífera. Um grande amigo recentemente se deparou com uma garrafa em restaurante de Lisboa e mandou foto. Só não disse se gostou. Pensando bem, será que ele guardou para tomarmos juntos? Leitor, você sabe, a esperança é a última que morre! Senão, como suportaríamos viver nesse Brasil de hoje! Tim, tim, brinde à vida.