Sobre os padroeiros (1)
Por esses dias circulou nas mídias sociais, em especial pelos grupos de WhatsApp, uma história sobre Santo Arnulfo, um “austríaco” que viveu no século VII e foi bispo de Metz (França). Ele seria padroeiro dos cervejeiros, pois gostava das “louras”. Mas outros defendem que esse tal padroeiro era Santo Arnaldo, um belga que viveu no século XI. Em algumas postagens Arnulfo e Arnaldo eram a mesma pessoa.
Diante das inconsistências, pesquisei nos “folhosos” e constatei, mais uma vez, que essas postagens são tão confiáveis quanto conversa de político (com o devido perdão dos poucos que são íntegros). Primeiro, nada de Áustria. Arnulfo nasceu na Austrásia, reino que compreendia o nordeste da atual França e partes da Bélgica, Holanda e Alemanha. Ele foi ancestral dos carolíngios. Ouviram o galo cantar e não souberam interpretar, leitor!
Quanto à bebida, consta apenas um milagre post mortem, quando seus restos mortais eram transferidos de volta para Metz. No trajeto, as pessoas pararam em uma taberna, onde só havia uma caneca de cerveja. De onde todos beberam, sem que o líquido acabasse. Taí, tô pensando em ser devoto de São Arnulfo! De resto, Arnulfo era Arnulfo e Arnaldo, Arnaldo! Este último, sim, era cervejeiro. No mosteiro onde morou, produziu a bebida, introduziu técnicas novas e também fez milagre de reprodução da cerveja.
Ademais, naquele momento em que a região era assolada pela peste negra, ele defendia, sabiamente - como viria a provar Pasteur, séculos depois - que o consumo de água não tratada era insalubre. Recomendando aos cristãos a ingesta alternativa da cerveja.
Ih, me passou agora na cabeça: será que ele foi um precursor de alguns padres e pastores de hoje, que seduzem seus seguidores a comprar seus produtos? Vade retro satanás, bebedor de cerveja é gente do bem! Santo Arnaldo, vá desculpando essa heresia.
Voltando ao WhatsApp, o amigo Aguinaldo, passando por um momento sabático, “domingático”, “feriático”, com tempo de sobra, ao se deparar com essa história do Arnulfo, resolveu pesquisar a existência de um padroeiro dos vinhos. E achou! Só que essa história eu conto na próxima coluna, com mais tempo para desenvolver o tema. Concluindo, falta desejar que encontremos também um santo padroeiro para arrumar aquela baderna do planalto central. Não tenha medo não, amigo, fique tranquilo. Já pesquisei e não existe São Lula. Não corremos esse risco! Tim, tim, brinde à vida.
* Murilo Guimarães é médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço.