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Triste decepção

Triste decepção - Arte/Folha de Pernambuco

Aqui estou de volta, leitor. Em vez das ótimas matérias de Vanessa, sinto dizer - parodiando Zagalo - que você vai ter que me aguentar de novo! Depois de uns dias de férias e de comemorações de datas românticas com D. Ana Christina, reassumo minha coluna quinzenal. Como sempre faço, tirando proveito das experiências vividas durante a viagem para lhe passar dicas. Não farei diferente dessa vez. Mas como o título antecipa, através de uma vivência decepcionante.

Passamos uns dias em Düsseldorf, Alemanha, base para uma visita de bate e volta a Vallendar, pequeno vilarejo na região do rio Reno. Onde se localiza a sede da comunidade religiosa Schoënstatt, por aqui também conhecida pela louvação a “Maria: Mãe e Rainha, 3 vezes admirável”. Conhecer esse local era um anseio antigo de minha cara metade. Foi uma bela e emocionante visita, leitor! Mas essa é outra história. Nossos temas trafegam mais pelo profano.

O vinho alemão teve lugar importante na minha enofilia. Quando vinho estrangeiro era proibido no Brasil, coincidindo com a época de minha formação médica na Inglaterra - meu Deus, já lá se vão quatro décadas! - os brancos oriundos do Reno e do Mosel eram bem acessíveis, por aquelas bandas do mundo. Assim sendo, faziam parte da nossa descontração nos finais de semana. De sabor agradável, frutado, satisfaziam plenamente nosso desejo de consumir o “fruto proibido” no nosso país. Satisfaziam também - e muito - nossa carteira! Que os franceses sempre foram mais caros (embora nunca como hoje). Depois, fruto da ganância de produtores e importadores, caíram em desprestígio e praticamente desapareceram no mercado mundial. Mais recentemente, cientes da necessidade de mudança, sob os auspícios das autoridades europeias, a vitivinicultura germânica deu a volta por cima. Pelo menos é o que dizem os críticos, como Hugh Johnson. Para quem “a última década viu um crescimento em qualidade, um reflorescer de ideias e uma diversificação de estilos sem paralelo em 100 anos ou mais”. Assim sendo, diante da ausência desses vinhos no Brasil, com muita sede ao pote, fui revisitar o branco alemão.

Sentei em vários bares e restaurantes à cata de exemplares da Riesling, uva mais representativa do país. A primeira surpresa foi observar nos cardápios uma grande concorrência, por vezes supremacia, de Weissburgunder (Pinot blanc) e Grauburgunder (Pinot grigio). A segunda foi tomar predominantemente vinhos sem “alma” e sem brilho. Você sabe, amigo, a boa lembrança do passado quando ressurge “torta”, dói no coração! Resolvi entrar em uma grande delicatessen, disposto a tratar essa agonia adquirindo garrafa de reconhecida qualidade. Diante de uma recente reclassificação (2012), os rótulos já não me eram tão familiares. Mesmo assim, lançando mão de Robert Parker e Hugh Johnson, meus tutores digitais (o que seria de nós sem o celular?), peguei duas garrafas e... Desisti! Lembrei de Charles Aznavour, em La Bohème, com sua tristeza ao rever Montmartre tão diferente de seu tempo de jovem. Depois eu me decepcionava com essas garrafas gabaritadas também... Fiquei com as memórias. E, pra não ficar no seco, com a Altibier, típica cerveja de Düsseldorf, produzida em lindas cervejarias locais. Deixando claro que essa coluna não pretende jamais desmerecer o vinho alemão - mais pra frente, eu curo essa tristeza - meu tim, tim, brinde à vida.

*Murilo Guimarães é médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço

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