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Vinho de mulher

Percentual de mulheres que bebem vinho é, no mínimo, igual ao de homens - Freepik

Ainda bem que estou fisicamente distante de minhas leitoras empoderadas. Que as feministas, quando pegam ar, podem ser mais “ardidas” que cachaça estragada! E esse título, certamente, muitas acharão “politicamente incorreto”. Ah, meu Deus, por que o Senhor deixou criarem essa insuportável nomenclatura? Brincadeira, amigo. Até porque minhas leitoras são todas mulheres de fibra, mas serenas, ponderadas, sem recalques. Mas vai me dizer que você nunca ouviu alguém falar isso! “Vinho branco, mais suave e doce é a preferência feminina”. “Tinto denso, dos homens”. Já ouvi e li demais coisas assim. Machismo? Sei não. Até porque nem seria machismo, apenas um parâmetro de predileção, não é?

Leitor, acho que isso já teve um fundo de verdade. Mas hoje em dia, o cenário mudou. O percentual de mulheres que bebem vinho é, no mínimo, igual ao de homens. Pelo menos é o que revelam levantamentos mais recentes sobre o tema. Bom, levantamentos conduzidos em países de língua inglesa, tal qual o “Equal, sometimes different”, da Wine Intelligence. Embora, talvez não seja exatamente a nossa verdade. Se depender da opinião de minha “cara metade”, não é. Ela que se queixa – com razão – das caipifrutas recifenses serem “suquinhos”, em contraposição às paulistas, que levam vodka em dose mais marcante, adequada.

Visando atender o gosto feminino local. Concordo com ela – e eu sou bem doido de discordar? Levando a crer em componentes culturais também regionalistas. Acredito plenamente nisso, companheiro. Observo, quando faço a anamnese clínica de algumas pacientes minhas, uma mímica facial peculiar e a ênfase que dão à pergunta sobre o consumo etílico delas: “nunca bebi, doutor”! Como se o hábito fora uma coisa meio pecaminosa e eu um ousado a perguntar. Mas mesmo por aqui, percebo claramente uma tendência ao consumo alcoólico equitativo entre homens e mulheres. Além da mudança de outro hábito, esse sim, com toques machistas: que homem consome bebida forte, destilada (uísque, sobretudo) e mulher, vinho suave. Leseira! Melhor assim, que a convivência fica bem mais agradável. Nada mais palatável que compartilhar, igualmente, uma boa garrafa de vinho, ou outra bebida, com o(a) companheiro(a). Concorda?
Está se perguntando por que hoje eu resolvi abordar esse assunto?

Primeiro, porque li recente artigo sobre ele. Segundo, domingo passado foi dia das mães. Lembrei da minha. Nascida na primeira década do século passado (1909), numa família com costumes tradicionais, era (quase) abstêmia. Quase, pois apreciava um raro licor de aniz. Ou ainda mais raro, uma pequena taça de Calvados (brandy de maçã) Marie Brizard. Saudade de um tempo bom! Em especial, sem a politicagem e o judiciário de hoje... Vou parar por aqui, leitor, antes de pegar um incontrolável embalo sobre o tema. Deixando a dica, caso queira explorá-lo (com ganho de qualidade): leia a coluna de ontem de Zé Paulinho Cavalcanti, no JC. Sempre em tempo, saudações às mães. E às mulheres em geral. Tim, tim, brinde à vida. E a elas.

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