Vinho Verde
O leque de cores está se esgotando, amigo! De tinto e branco falo recorrentemente. Durante o outubro rosa, falei de rosados. Neste novembro azul, escrevi sobre dois vinhos desta improvável cor. Tudo me inspirando a falar hoje do verde.
Começo pela explicação do termo, pois de cor verde, como você bem sabe leitor, este vinho nada tem. Há duas versões. A mais poética faz menção à paisagem da região do Minho, no noroeste de Portugal, onde é produzido. Lá os belos campos verdejantes preservam seu colorido até mesmo no verão. Porém, a outra, mais real - realidade às vezes é muita chata! - se refere ao estágio de maturação das uvas, que, em face de características climáticas e técnicas da viticultura locais, são colhidas ainda não maduras. Produzindo vinho tinto, rosé, espumante ou branco, o mais apreciado. Sua história remonta aos romanos, antes da era cristã. Há referência à cultura de uvas por lá na História Natural de Plínio, o velho, e na legislação do imperador Domiciano.
Aparentemente o Vinho Verde foi o primeiro de Portugal a ser consumido fora do país, em particular pelos ingleses. Em 1908 a região foi oficialmente demarcada e poucos anos depois criou-se a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV). Finalmente, em 1973 foi reconhecida e registrada na Organização Mundial da Propriedade Industrial, sendo conferindo à região do Minho a exclusividade internacional no uso da designação Vinho Verde. Cuja tipicidade - no caso do branco - é de uma bebida leve, aromática, refrescante, um pouco frisante e com acidez bem marcada. Tem teor alcóolico mais baixo (entre 8,5 e 11,5%), com exceção dos varietais da casta Alvarinho (em torno de 13%), que produz brancos mais encorpados. E melhores!
As outras castas utilizadas para o branco são Loureiro, Arinto, Trajadura, Avesso e Azal. O rosé é elaborado com Espadeiro e o tinto com Vinhão. Este último é usualmente áspero e tânico. Desculpem os amigos lusitanos, mas gosto não! Há nove sub-regiões no Minho: Amarante, Ave, Baião, Basto, Cávado, Lima, Paiva, Sousa e Monção. Cada uma delas com características próprias e predomínio de determinadas castas, destacando-se Monção, com os melhores produtos da Alvarinho e Lima, onde a Loureiro tem boa expressão.
O Vinho Verde branco, pelo seu frescor, é muito bom como aperitivo e combina com nosso clima tropical. Mas também se harmoniza com saladas, queijos leves e untuosos, pratos de frutos do mar e comida oriental. Aliás, arriscaria até dizer que é a melhor companhia para os sushis, sashimis e outras iguarias japonesas. Apesar de ser o segundo vinho mais consumido em Portugal, abaixo apenas dos alentejanos, ainda não caiu no gosto do brasileiro. Por isso, não há muitas opções no nosso país. Faz mal não. Espere passar essa crise que herdamos da Dilma e vá visitar a bela região do Minho, vizinha da Galicia, na Espanha, onde fica Santiago de Compostela. De lá você vai percorrer um pedacinho desse famoso caminho e, com a alma leve, fazer muito tim, tim, brinde à vida.
Murilo Guimarães é médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço.