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Vinhos de Bierzo, Espanha

Coluna Baco & Cia, de Murilo Guimarães

Produção de vinho na Espanha - Foto: Divulgação

Retorno à Espanha. Para onde irei, presencialmente - agora tem que explicar, né? - viver a Semana Santa em Sevilha. Depois lhe conto. 

É o país europeu com a maior área vinífera plantada e teve uma verdadeira explosão na produção de vinhos depois da queda da ditadura franquista e da entrada na Comunidade Europeia. Trata-se do segundo mais antigo produtor vinícola da Europa ocidental. Os fenícios plantaram Vitis vinifera em Cádiz (Andalusia) por volta do ano 1.000 a.C., cultura incrementada posteriormente pelos gregos e romanos. Que também se expandiram mais ao norte do país - aonde os romanos não foram? - levando seus conhecimentos agrícolas. É aí que chegamos a Bierzo, localizada em um pequeno bolsão noroeste de Castilla Y León, entre as regiões vizinhas da Galícia e Astúrias. Mudas de Vitis vinífera foram trazidas pelos romanos (conforme relatos do naturalista Plínio, o Velho), que fundaram a cidade de Bergidum, hoje Bierzo. Mas foram os monges cistercienses que cultivaram e expandiram os vinhedos da região, quando ali se estabeleceram no século IX. Seu mosteiro de Santa María de Carracedo permanece de pé até hoje, leitor. A produção de vinho de Bierzo cresceu junto com sua importância religiosa, depois que se tornou parte da famosa peregrinação espanhola do Caminho de Santiago, na Idade Média. Os peregrinos modernos ainda procuram a santa "Puerta del Perdón" em Villafranca del Bierzo. Como outras regiões vinícolas europeias, sofreu forte dano pela praga Filoxera, que lhe gerou decadência. Recuperando-se adiante ao enxertar cepas locais em porta-enxertos norte-americanos. Como fizeram os produtores de outros locais do mundo.

Apesar dessa sua antiga história, só recentemente Bierzo ganhou notoriedade no mundo do vinho, quando ascendeu, em 1989, à categoria de DO (Denominação de Origem). Deve isso à sua variedade de bons solos e ao abdicado trabalho individual de alguns enólogos, com destaque para Raúl Pérez, um barbudão. Agora posso usar esse termo, amigo, visto ter raspado a minha na virada de 2022 para 2023. Pra me diferenciar “daquele” que chegava a um posto que nunca deveria... deixa essa história pra lá! Voltemos ao Raúl e seus discípulos. Tirando proveito do terroir, reforçaram o plantio de uvas autóctones, particularmente a tinta Mencía e a branca Godello. Não sei se você, leitor, tem observado o mesmo, mas vejo uma tendência a se apreciar vinhos tintos mais jovens e leves, em contraponto aos mais potentes e amadeirados. Especialmente com o crescente consumo das mulheres. As quais reverencio pelo dia de ontem.  É nesse contexto de paladar que entra a Mencía, casta que gera tintos de boa intensidade, porém mais suaves, com nuances florais e de especiarias. Ao que se agrega a ampla presença de vinhas velhas na região. Que produzem, ainda que em menor volume, uvas de qualidade excepcional (é assim no reino animal também, viu?). Recomendo que você entre no mundo de Bierzo. Aqui em Recife, você encontra os ótimos Ultreia e La Vizcaína, do Raúl Peréz, Domínio de Anza  Seleción de Parcelas (todos na World Wine) e o Pittacum Petit (Casa dos Frios). Tenho certeza que vai apreciar. Ah, como a fama não chegou às alturas, o precinho ainda é convidativo. 


Tim, tim, brinde à vida! E a D. Ana, minha mulher.

 

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