Vinhos míticos: Château Cheval Blanc
Tem uma pessoa que diz: “quando você escreve sobre esses vinhos míticos, é por falta de inspiração”. Que absurdo! Nada mais inspirado do que falar de mitos, de ícones que admiramos. Vai dizer que é falta de inspiração discorrer sobre Sophia Loren, por exemplo? Pior, amigo, essa pessoa completou: “acho que são os artigos menos lidos”. Fulminou! Mas será? Você não gosta não, leitor? Pois veja com bons olhos. É história, reverência aos grandes exemplos de sucesso. Que há na enologia, como em todas as áreas de atividade do ser humano. Assim, esperando que você discorde deste meu crítico, vou falar do mítico Château Cheval Blanc, da região de St-Émilion, em Bordeaux. Que diferentemente de outras vinícolas nas vizinhanças, já bem afamadas na época, até 1832 não passava de um “barreiro de seixos”, pertencente ao Château Figeac. Foi então que a família Ducasse adquiriu esse vinhedo de 31 hectares (hoje são cerca de 40), dando início à implantação da vinícola. Em 1852 Henriette Ducasse casa-se com Jean Laussac Fourcaud, responsável por dar grande impulso ao empreendimento. Com sua morte, em 1893, assume o negócio um de seus filhos, Albert, que adquire as cotas dos irmãos e muda o nome familiar para Fourcaud-Laussac, o qual passou a estampar o rótulo do vinho. Sendo a origem da marca Cheval Blanc (cavalo branco) não conhecida, apesar de algumas versões - ah, elas sempre existem! O primeiro grande sucesso da vinícola foi na safra de 1921, quando produziu um vinho extremamente rico e potente. Mas foi a fabulosa safra de 1947 que verdadeiramente conferiu celebridade ao château. Este tinto é até hoje considerado um dos melhores da história do vinho, dentre uma meia dúzia. Aquele ano fez um calor implacável, trazendo imensas dificuldades aos vinicultores de Bordeaux e estragando suas colheitas. Exceto para os que souberam manejar corretamente as vinhas, colher na hora certa e... Tiveram sorte. Como não? Em praticamente todo sucesso na vida essa “coisa” está por trás! Como diz o atual enólogo do Cheval Blanc, o aclamado Pierre Lurton, sobre o vinho de 1947, foi um “acidente da natureza”. Bem, acidente ou não, foi esplendoroso. Citado em filmes, como em Ratatouille, quando o “crítico gastronômico” Anton Ego escolhe esse vinho para harmonizar com seu prato. Para você fazer uma ideia da fama, sabe por quanto foi vendida uma garrafa de 6 l (chamada Imperial), em um leilão da casa Christie’s da Suíça, em 2010? US$304,375.00 (cerca de R$1,8 milhão)!
Em 1955 foi feita a primeira classificação de vinhos de Saint-Émilion, que outorgou ao Château Cheval Blanc o topo da lista: Premier Grand Cru Classé A, ao lado do Château Ausone (atualmente há mais 2 vinhos). Oriundo de vinhas com média de idade de 40 anos (há áreas com quase 100 anos), que são replantadas muito lentamente (1 hectare a cada 3 anos), é um corte de Cabernet Franc (+- 58%) e Merlot (+- 42%). Em 1998 foi adquirido por Bernard Arnault, dono da maior empresa de comércio de luxo do mundo, a LVMH e pelo Barão Albert Frère, grande “fazedor de dinheiro”, um dos homens mais ricos da Bélgica. Que entre outras iniciativas, encomendaram ao consagrado arquiteto Christian de Partzamparc uma nova adega para o castelo. O resultado é inebriante. Como seria a minha sensação se alguém me presenteasse com um Cheval Blanc 1947. Alguém se habilita? Tim, tim, brinde à vida.