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Você gosta de Manhattan?

Murilo Guimarães - Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco

Está enganado se pensa que me refiro ao famoso bairro nova-iorquino. Falo do drinque de mesmo nome, cuja inspiração para este artigo veio de matéria publicada, dias desses, em outro jornal local. Xi, revelei que leio também a concorrência! Mas acho que não ofende não. Afinal a concorrência é tão próxima, né Rafa? Extraída do The New York Times, a matéria contava interessante história sobre o Jack Daniel’s, famoso Tennessee Whiskey dos Estados Unidos. Está confuso? Vamos começar a explicar. Manhattan é um coquetel criado na segunda metade do século XIX. Consta que Jennie Jerome (Lady Randolph Churchill, mãe do fabuloso Winston Churchill) teria inventado a receita para um banquete que ela oferecia ao candidato presidencial Samuel Tilden, em 1870, num bar chamado Club Manhattan, em Nova Iorque.

Como de costume, há controvérsias. Pois Lady Randolph na ocasião estaria em Paris, grávida. Abrindo espaço para outras autorias. Mas isso não lhe importa, né leitor. O drinque ficou célebre e é hoje um dos mais consumidos no mundo. Como é elaborado? Bem, primeiro falemos sobre o uísque americano. Que teve origem na migração de escoceses e irlandeses para os Estados Unidos. Saudosos do seu whisky, começaram a produzir a bebida com qualquer grão disponível, na região leste do país. Pertinho da capital Washington D.C. Com o sucesso na produção chegou junto a ganância governamental. É sempre assim, lá como aqui. Em 1791 George Washington decidiu taxar o whiskey. Revoltados, os produtores decidiram fugir dos coletores de impostos. Lá como aqui! Foram para as terras do Kentucky e Tennessee, onde descobriram água de ótima qualidade. Para se esconderem ainda mais do fisco, mudaram o nome da bebida para Bourbon, em homenagem aos franceses, aliados na Guerra de Independência. Décadas depois, o reverendo Dan Call, um rico proprietário de Lynchburg, Tennessee, acolhe o jovem Jasper Newton Daniel (conhecido como Jack) em sua fazenda, para implementar a produção de Bourbon. Bem, aí é que entra a citada publicação do New York Times. Fawn Weaver, uma escritora afro-americana, só recentemente descobriu que Jack aprendeu a fazer a bebida com um escravo negro de nome Nathan “Nearest” Green. Que após a Guerra de Secessão e o fim da escravidão foi trabalhar com Jack na sua destilaria, transformando-se em seu “chefe destilador”. Weaver levou dados da sua ampla pesquisa aos atuais proprietários da Jack Daniel’s Brands, que este ano reconheceram e incorporaram isso a sua história.

Algo louvável nessa época discriminadora de Trump, não é? Faltando dizer que ao inovar na filtragem do destilado através de carvão de “maple”, imprimindo um sabor bem mais aveludado, essa bebida deixou de ser rotulada como Bourbon. Passou a ser Tennessee Whiskey (há apenas um outro, o George Dickel). Jack Daniel’s no. 7 é um símbolo americano, com faturamento anual de 3 bilhões de dólares. Elaborado num vilarejo de pouco mais de 6 mil habitantes, onde ainda impera a lei seca! Já pensou? Eles não podem beber sua famosa bebida. Nesse momento você deve estar se perguntando: e o Manhattan com isso? Tudo, leitor. Pois a receita clássica deste coquetel é feito com 20 ml de vermute tinto, 2 gotas de bitter Angostura e... Bem, se adiciona 50 ml de whiskey americano ou Bourbon, mas prá mim é heresia. Tem que ser Jack Daniel’s! Com uma cereja marrasquino e um sonoro tim, tim, brinde à vida.

* Murilo Guimarães é médico e enólogo. Escreve quinzenalmente neste espaço

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