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Ainda poderoso, porém decadente

Por Luciano Siqueira

Órgãos de imprensa do mundo inteiro produzem reportagens e editoriais sobre as eleições presidenciais norte-americanas com um traço comum: um quê de decepção pelo baixíssimo nível do conteúdo da disputa.

Na forma e no conteúdo – tamanho o lamaçal que envolve os dois principais candidatos e o arsenal de baixarias movido por ambos.

Durante a campanha, o que mais se viu foi uma sucessão de ataques pessoais e acusações, ao invés de opiniões e propostas.

Mais: Hillary e Trump, segundo várias pesquisas, bateu o recorde de baixa credibilidade. São considerados os candidatos mais rejeitados pelo público, tanto do Partido Democrata como do Partido Republicano.

Para ilustrar o fenômeno, reportagens na TV registram depoimentos de eleitores que se dizem indecisos em relação a qual dos dois é o candidato “menos ruim”.

E quando se analisam elementos de conteúdo pronunciados por ambos, em torno de questões candentes, a constatação é de que verbalizam a arrogância e a cadência do império em declínio.

Hillary pela manutenção do status quo; Trump, pela concretização das posições mais retrogradas da ultra direita ianque.

O pano de fundo é a crise estrutural, profunda, sistêmica e sem perspectiva de solução que aflige o próprio sistema capitalista no mundo, tendo como epicentro os EUA.

Uma crise que se arrasta desde 2008, unanimemente considerada a pior da História, de consequências ainda não inteiramente conhecidas, mas seguramente mais drásticas do que a crise de 1929.

Isto em meio à transição de uma situação de hegemonia absoluta dos Estados Unidos da América do Norte, pós-debàcle da União Soviética, configurando um mundo unipolar, para uma realidade gradativamente multipolar, onde outros centros de poder emergem.

O establishment resiste, mas sem alternativa consistente. E se mantém poderoso, pela dupla força da ultracentralização do capital financeiro e das armas, porém decadente.

Assim, a perplexidade que decorre mais da ausência de perspectiva do que das baixarias de Hillary e Trump, traduz o movimento de placas tectônicas na geopolítica mundial.

Nesse contexto, internamente, mesmo com ligeira vantagem para Hillary nas pesquisas, que provavelmente se confirmará nas urnas, o cenário é de divisão meio a meio da sociedade norte-americana, com sequelas irreparáveis no curto prazo.

Apurados os votos, nem os EUA serão os mesmos, nem a cena mundial estará indene.

Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e escreve ao Blog às terças-feiras.
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