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Antônio Henrique e Jader Tachlitsky analisam conflito entre Israel e Hamas

Júnior Soares / Folha de Pernambuco

Neste momento crítico em que o conflito entre Israel e o Hamas atinge um ponto crucial, buscamos entender as raízes históricas, as implicações geopolíticas e as perspectivas dessa complexa situação. Para esclarecer esses aspectos, nesta segunda-feira (9), o programa Folha Política da Rádio Folha FM 96.7 convidou dois especialistas: Antônio Henrique Lucena, cientista político e professor de relações internacionais da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco); e o professor Jader Tachlisky, especialista em história Judaica e coordenador de comunicação da Federação Israelita de Pernambuco.

De acordo com Antônio Henrique Lucena, o conflito entre Israel e Palestina teve suas raízes no plano de partilha da região do Oriente Médio, o qual foi debatido e definido na Assembleia Geral das Nações Unidas logo após o término da Segunda Guerra Mundial. Esse plano previa a criação de dois estados na região: um Estado de Israel e um Estado da Palestina. No entanto, assim que esse plano começou a ser implementado, os países árabes vizinhos atacaram Israel, dando início a uma série de guerras e conflitos que se estenderam ao longo das décadas seguintes.

Após a votação na ONU, houve a Guerra de Independência de 1948 e a Guerra dos Seis Dias em 1967, que moldou a configuração territorial atual. A Guerra do Yom Kippur em 1973 também foi relevante, embora tenha resultado em uma falha de inteligência de Israel. “Foi uma gigantesca falha de inteligência do Estado de Israel que não conseguiu, pelo menos prevenir minimamente, alguns movimentos que aconteceram”, pontua o cientista político, referente à Guerra do Yom Kippur.

Desde então, houve outras operações e conflitos, como a Operação Paz na Galileia. O conflito evoluiu para uma dinâmica assimétrica, com a presença do grupo palestino Hamas, que representa uma das principais facetas do conflito atual. Segundo Lucena, foram feitas várias tentativas de negociação ao longo dos anos, incluindo a proposta de Israel de trocar território por paz. No entanto, essas iniciativas foram recusadas várias vezes de ambos os lados, inclusive por parte Autoridade Palestina, liderada por Yasser Arafat na época. O mais avançado foram os Acordos de Oslo, em setembro de 1993, que estabeleceu a criação da Autoridade Palestina. Mas muitos desafios ainda persistem, como a descontinuidade territorial entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Para o professor Jader Tachlitsky, “estamos testemunhando um momento crítico, especialmente após os eventos que ocorrem desde o último sábado”, quando o Hamas atacou e invadiu o território israelense, fazendo, até agora, 900 vítimas fatais em Israel e desencadeando uma contraofensiva. De acordo com Jader, muitos consideram isso como um evento de grande importância, guardadas as devidas proporções, comparável ao 11 de setembro para os Estados Unidos. No entanto, para o coordenador de comunicação da Federação Israelita de Pernambuco, é importante entender que as vítimas israelenses, incluindo civis, estão enfrentando proporções muito maiores em relação ao 11 de setembro. 

“Quando falamos de Israel e Palestina, nós falamos de dois povos que tem vínculos com aquela região e que tem direitos a sua autodeterminação nacional. Eu acho que todos que tratam com responsabilidade dessa questão, devem partir desse princípio”, destacou o professor Jader Tachlitsky. De acordo com o professor, a solução de dois estados foi proposta em 1947 pela ONU, mas foi recusada pelos países árabes, desencadeando a Guerra de Independência de 1948. Desde então, houve uma série de conflitos e negociações. 

“O Hamas, que controla a Faixa de Gaza, é uma organização terrorista internacional que nega a existência de Israel e visa impor um regime fundamentalista islâmico. A questão envolve complexidades geopolíticas, com mudanças na balança de poder na região e a influência do Irã”, complementa Tachlitsky.

Antônio Henrique Lucena complementou, deixando claro que é importante não cair em binarismos simplistas. Para o cientista político, é possível apoiar a causa Palestina e condenar ações terroristas, como as perpetradas pelo Hamas.  “Estamos testemunhando mudanças significativas na geopolítica regional, com implicações na balança de poder e nos interesses da região”, destaca Lucena.

Conforme informações fornecidas pelas forças armadas de Israel, mais de 100 indivíduos, incluindo civis e militares, foram detidos por membros do Hamas e estão atualmente em cativeiro. Desde o início dos ataques e da incursão do Hamas nas comunidades do sul de Israel, ocorreram mais de mil óbitos, dentre os quais 260 estavam presentes em um festival de música. No que diz respeito a Gaza, quase 700 pessoas perderam a vida após os ataques aéreos retaliatórios de Israel, conforme relatado pela Autoridade Palestina, e outras 3.700 pessoas ficaram feridas. Três cidadãos brasileiros estão desaparecidos. Estimativas do Itamaraty indicam que cerca de 14 mil brasileiros residem em Israel, sendo a maioria fora da região de conflito, enquanto outros 6 mil vivem na Palestina.

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