Aos 127 anos, ainda frágil e instável
Assim é a nossa República, após 127 anos de proclamada por um general até então monarquista, coroando décadas de luta: mais do que centenária, porém imatura e claudicante.
Em seu sinuoso e atribulado percurso, experimentou 18 intervenções militares quase todas ditatoriais e apenas uma vez - quando o general Teixeira Lott, em 1955, liderou um contragolpe destinado a garantir a posse da chapa presidencial eleita, Juscelino Kubitschek e João Goulart - em favor da democracia.
Preserva a marca da instabilidade, muito presente na história institucional sul-americana.
E embora o Brasil tenha alcançado padrão de desenvolvimento industrial médio, em período recente, jamais conquistou o aprimoramento das instituições republicanas.
O sistema eleitoral-partidário, por exemplo, hoje mais do que nunca expõe uma das suas fragilidades mais contundentes: a atual composição da Câmara e do Senado, pulverizada em legendas de variados matizes e, na maioria, de anêmica representatividade.
Tudo a ver com o golpe que afastou da presidência da República Dilma Rousseff, por mecanismos copiados do Paraguai e de Honduras. A própria negação de um dos pilares do seu caráter democrático, o respeito ao sufrágio popular.
De tal modo que a data de hoje enseja menos comemorações e muito mais reflexão sobre os destinos do país.
Pois não é possível admitir que na segunda década do século XXI o Brasil tenha a sua imagem e a sua credibilidade enxovalhadas na cena internacional.
Restabelecer o status conquistado entre 2003 e 2015 implica ultrapassar a degradante fase atual e, mediante ampla e renhida luta, retomar o fio da História interrompido com o impeachment (sem crime de responsabilidade, como reza a Constituição) da presidenta.
Já tivemos ocasiões muito infelizes na História política e institucional brasileira - a ditadura militar foi uma delas - ao se celebrar a data de hoje. A presença vampiresca, traiçoeira e medíocre de Michel Temer na chefia do governo ultrapassa todos os limites do pudor.
Cumpre aos democratas renovarem hoje a melhor tradição de luta republicana, inaugurada precisamente em Olinda por Bernardo Vieira de Melo em Olinda, em novembro de 1710 – pioneiramente, 70 anos antes da Revolução Francesa e 60 anos antes da Independência dos Estados Unidos.
Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e escreve todas as terças-feiras no Blog da Folha.
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