Após ataques de Túlio Gadêlha, Dani Portela faz desabafo: racismo e machismo

Pré-candidata acusou o que chamou de “violência política” vinda do também pré-candidato Gadêlha

Dani Portela é pré-candidata à Prefeitura do Recife e disputa indicação da federação Rede-PSOL com o também pré-candidato Túlio Gadelha - Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

A deputada estadual e pré-candidata à Prefeitura do Recife pelo Psol, Dani Portela, publicou em suas redes sociais um desabafo após o também pré-candidato e deputado federal Túlio Gadêlha (Rede) acusar que a candidatura da deputada seria usada pelo PSB para retirá-lo do páreo. Portela chamou a acusação de “apócrifa e covarde” e denunciou que o deputado comete violência política, racismo e machismo contra ela.

“Preciso dar nome ao que está acontecendo por aqui: racismo e machismo. Chamar toda a minha trajetória de candidatura laranja e afirmar que o Partido não faz oposição em Recife, é de um profundo desrespeito com toda a nossa história”, disparou Portela.

Túlio Gadêlha usou redes sociais no dia de ontem (6) para compartilhar a matéria “PSB incentiva candidatura de Dani Portela na tentativa de barrar Túlio Gadêlha na disputa à Prefeitura do Recife”, que afirma a pré-candidata Dani Portela como “aliada de primeira hora” do prefeito João Campos, em razão de posicionamentos dela junto ao bloco de oposição - que inclui o PSB -  à governadora Raquel Lyra na Assembleia Legislativa. 

 

Dani Portela respondeu com um forte desabafo, em que chama a atenção para o que nomeou como uma  “tentativa de silenciamento e invisibilização” de sua trajetória. A deputada destacou que o partido tem maioria no diretório municipal e, portanto, o direito legítimo de escolher o nome que irá compor a cabeça de chapa. 

“Tulio rasga o estatuto da Federação, desrespeitando todas as decisões colegiadas, numa tentativa de ter seu desejo atendido a qualquer custo. Inclusive dizendo que irá recorrer da decisão legítima que indicou meu nome e se ancorando num pseudo acordo nacional. É como se tentasse fazer comigo, o que o PDT fez com ele na eleição anterior. Porém, ele esquece que estamos falando do Psol”, afirmou. 

Confira abaixo na íntegra o conteúdo divulgado pela pré-candidata Dani Portela:

"São exatamente 01h38 da manhã. Estou aqui sentada na cama, velando o sono do meu pequeno, que dorme encostado em mim. Essa noite está com um sono inquieto, alternando entre a cama e o colo. De alguma maneira, ele sente quando estou agitada. Há algum tempo tem algo me inquietando e hoje resolvi falar, principalmente após ser tomada por indignação ao ler uma certa matéria apócrifa e covarde! Eu não costumo me esconder para dizer o que penso. 
Meu bebê acordou, enquanto escrevo, paro para amamentar e fazê-lo dormir novamente.
Nem sei por onde começar, por isso inicio por meu menino. Esse vídeo foi gravado hoje, na soneca da manhã. Começo por ele, esse menino embalado ao som de Gilberto Gil.
Em 2023, tive a maior surpresa da minha vida. Já no climatério, aos 48 anos, engravidei naturalmente. Uma gravidez de alto risco (idade avançada, diabetes e hipertensão), que se manteve a partir de um auto cuidado profundo. Estar grávida, gerar vida, me fortaleceu, inclusive para estar na política, que comumente funciona como uma “máquina de moer gente”, principalmente para mulheres negras e mães, como eu. Lembrei que na gestação,  depois de um dia intenso, ele mexia muito quando eu deitava para dormir. Lembro de todos os passos até chegar aqui. Nunca foi sobre mim, sempre foi sobre nós.
Já no final da gestação, o Psol aprova em conferência eleitoral, o meu nome para representar o nosso partido nas eleições de 2024 no Recife. Nosso partido nunca duvidou da nossa localização política ao longo de 20 anos. Meu corpo gestando foi colocado à disposição de um projeto político em oposição à gestão municipal do PSB e em oposição ao governo de Raquel Lyra. 
Em 12 de janeiro, eu pari. Uma cesariana, o que torna a recuperação mais lenta e dolorosa. Desde então venho me dividindo em mil, para dar conta de todas as tarefas relacionadas à maternagem e à política.
Às vezes, é necessário se apresentar novamente. Para quem não me conhece, sou Dani Portela, mulher negra, deputada estadual. 
Em 2018, fui candidata a governadora e fiquei em terceiro lugar nas eleições, com quase 5% do eleitorado e 188 mil votos, sendo a maior votação nominal em uma mulher em toda a história de Pernambuco até então. Em 2020, fui a vereadora mais votada da cidade do Recife e a quarta mais votada do nordeste, e, agora, estou deputada estadual. Tudo isso fala sobre nossa ação de reintegração de posse dos territórios políticos que nos foram negados.
Ocorre que o Deputado Federal Túlio Gadêlha, da Rede, também se apresentou como pré-candidato por seu partido, para disputar a cabeça de chapa pela Federação. Importante  lembrar que ele só é deputado devido a votação do Psol, em especial de uma travesti negra que comandou a nação Pernambuco e teve mais de 80 mil votos. À Robeyoncé Lima,  nosso máximo respeito. 
Nós do Psol temos 70% das cadeiras da executiva municipal da Federação, porque tivemos 98% dos votos em 2020. Somos maioria absoluta e legítima. Mesmo o Estatuto da Federação garantindo o direito de escolha ao Psol, Túlio continua insistindo em dizer que ele é o candidato, criando dúvida onde não existe e tentando arrastar a situação até o período das convenções eleitorais, numa tentativa de silenciar e invisibilizar minha trajetória. Tulio rasga o estatuto da Federação, desrespeitando todas as decisões colegiadas, numa tentativa de ter seu desejo atendido a qualquer custo. Inclusive dizendo que irá recorrer da decisão legítima que indicou meu nome e se ancorando num pseudo acordo nacional. É como se tentasse fazer comigo, o que o PDT fez com ele na eleição anterior. Porém, ele esquece que estamos falando do Psol. O partido que tem maioria de mulheres negras parlamentares nas casas legislativas do país, o partido de Marielle Franco, da qual somos todas sementes.
Os dados recentes apontam que nas capitais do país tem apenas 20% de candidaturas de mulheres, mas quantas são negras?
Diante das pré-candidaturas de Daniel Coelho, João Campos, Gilson Machado e a pretensão de Túlio Gadelha, vocês sinceramente não acham importante ter uma mulher negra na disputa e nos debates? Uma cidade majoritariamente negra e feminina? Uma cidade que nunca na história teve uma prefeita? 

Gostaria de partilhar com vocês, a violência que tenho sofrido, sob forma de silenciamento e tentativa de sufocar nosso movimento. 
Numa cidade de maioria de mulheres e de população negra, que até bem pouco tempo tinha o título de ser a capital nacional das desigualdades, não é possível que queiram calar a voz de uma mulher negra. 
Não  iremos permitir que uma mulher negra ceda lugar para um homem branco, que traz em si todos os privilégios que a branquitude confere. Preciso dar nome ao que está acontecendo por aqui: racismo e machismo. Chamar toda a minha trajetória de candidatura laranja e afirmar que o Partido não faz oposição em Recife, é de um profundo desrespeito com toda a nossa história. 
Sofrer violência política, num momento tão difícil para mim, que é o puerpério, era algo que eu não esperava passar. Será que o óbvio está fora de questão? Que é preciso recolher privilégios e dar passos atrás para que outras lutas avancem. Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. Esse é um chamado para hoje.
Dizem que para criar uma criança se precisa de uma aldeia inteira, por aqui tem sido muito difícil seguir. Queria que você fizesse parte dessa aldeia, nesse convite de aquilombamento comigo e com meu pequeno: “para que nossos inimigos tenham pés e não nos alcancem, e nem em seus pensamentos possam nos fazer mal algum”.
Salve, Jorge!

Obs: o texto é um desabafo, cheio de erros e escrevendo com uma mão e o menino nos braços. Vida delas."

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