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As manifestações nas estradas do Brasil e seus desdobramentos na sociedade

Polícia Federal disse que atos começaram através de grupos na internet e contam até com crianças

No Recife, muitos se encontram na altura do Comando Militar do Nordeste, na BR-232 - Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) divulgou um vídeo nessa quarta-feira (02) pedindo para que as rodovias do País fossem desobstruídas. O movimento de fechar as vias acontece desde domingo, ao final do segundo turno das eleições e diante da confirmação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"O fechamento de rodovias pelo Brasil prejudica o direito de ir e vir das pessoas, está lá na nossa Constituição. E nós sempre estivemos dentro dessas quatro linhas", disse em vídeo divulgado nas redes sociais.

Por causa das manifestações, a Polícia Federal realizou algumas investigações sobre os bloqueios de estradas que tomaram conta do País e notaram que os movimentos não foram espontâneos, mas totalmente organizados através das redes sociais em grupos bolsonaristas nos aplicativos WhatsApp e Telegram.

Os atos, além de contestar o resultado das eleições, pedem intervenção militar sendo considerados, com isso, inconstitucionais e antidemocráticos. As pessoas que organizaram os protestos serão alvo de processos e podem responder (podendo até ser presas) por movimentos contra a democracia.

Ontem, durante o feriado do Dia de Finados, os manifestantes se concentraram em frente a bases do Exército em 18 estados. Além do Distrito Federal, foram registradas manifestações no Acre, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Ceará, em Rondônia, Alagoas, Roraima, Santa Catarina, Goiás, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo, Piauí, na Paraíba, Bahia, Paraíba, além de Pernambuco.

No Estado, os bolsonaristas se reuniram e fecharam a Avenida Pan Nordestina, uma das principais vias que ligam Olinda ao Recife, no final da manhã. No início da tarde, o tráfego foi liberado para os motoristas. Além da Pan Nordestina, os manifestantes ficaram em frente ao Comando Militar do Nordeste, na BR-232, no bairro do Curado, Zona Oeste do Recife.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) disse ainda que mais de cem multas foram emitidas aos manifestantes. Eles tiveram ainda os carros rebocados por estacionamento irregular. As multas podem variar de R$ 5 mil a até R$ 17 mil. 

Em todos os estados onde os atos foram registrados, a polícia esteve acompanhando o desenrolar da manifestação e não houve registros de confusões. No entanto, em Santa Catarina, dois casos chamaram a atenção e repercutiram bastante nas redes sociais.

Na cidade de Itajaí, algumas crianças foram levadas para o bloqueio da BR-101 pelos manifestantes. Antes da liberação da rodovia, de acordo com a PRF do estado, as crianças foram vistas no local desde terça-feira. De acordo com a polícia, a tropa de choque chegou até a ser utilizada no espaço, pois a negociação com os manifestantes não teve êxito.

O segundo caso aconteceu ontem, em frente a uma base do Exército na cidade de São Miguel do Oeste. Na ocasião, alguns manifestantes repetiram um gesto que remetia à saudação de reverência nazista, conhecida como "Sieg Heil". O gesto é feito por centenas de pessoas que estavam no local enquanto cantavam o Hino Nacional. 

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) disse que o vídeo está em análise para identificação das pessoas que realizaram o gesto, configurando, assim, apologia ao nazismo. O órgão disse ainda que pedidos de prisão preventiva não estão descartados.

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) emitiu uma nota nas suas redes sociais repudiando os atos nazistas. O grupo disse que o nazismo prega a morte e a destruição. "A sociedade brasileira não pode tolerar posturas como essa. Fazer esse gesto vestindo camisa da seleção brasileira é também uma ofensa às nossas Forças Armadas, que lutaram bravamente contra as forças nazistas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial", afirma o texto.

Em São Paulo, também foram colocadas crianças à frente de um bloqueio realizado na Rodovia Castello Branco, em Barueri, anteontem. Elas seguravam cartazes que pediam a intervenção federal e estavam cobertas com a bandeira do Brasil.

Para Manuella Magalhães, advogada especialista no direito da criança e do adolescente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê que tal situação pode gerar complicações e procedimentos penais aos responsáveis, caso seja detectado que as crianças estejam passando por uma situação degradante, seja física ou mental.

"A depender do risco que sejam expostas, as crianças podem até ser afastadas dos pais e responsáveis. Além disso, qualquer pessoa pode denunciar qualquer tipo de violação para que os direitos delas não sejam violados", afirmou.

Com relação às manifestações, o cientista político Rodolfo Marques reiterou que, apesar de o ato de ser manifestar ser legítimo, os que estão acontecendo no País desde o último domingo preocupam e merecem atenção.

"O direito de ir e vir das pessoas, pondo em risco até ambulâncias e pessoas doentes, o clima violento de alguns atos e a apologia ao nazismo, que é crime, são coisas que estamos vendo e que são fatores que podem complicar para a democracia", falou.

Ainda segundo o especialista, a tendência desses atos antidemocráticos é arrefecer. "No entanto, até lá, podemos ter alguns constrangimentos, como o desabastecimento de combustíveis e alimentos. Com as manifestações, criou-se um cenário de instabilidade", frisou.

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