Cientista político vê reação em cadeia de candidatos conservadores
Para o estudioso, vem ocorrendo um movimento em grandes democracias do mundo desenvolvido e em alguns países em desenvolvimento, onde se tem uma grande crise de representatividade que leva a dois acontecimentos: o esvaziamento do processo de escolha e uma guinada rumo ao neoconservadorismo e o referendamento de candidatos antissitema, anti-establishment.
Esses últimos são pessoas que vêm de fora da política e se colocam como alternativa aos políticos tradicionais. "No Brasil, agora, tivemos, por exemplo, a eleição de Kalil em Belo Horizonte, e a eleição de João Dória em São Paulo, muito representativas desse tipo de processo. No caso da eleição do magnata São Paulo, muito representativas desse tipo de processo. No caso da eleição do magnata do setor imobiliário norte americano para a presidência dos Estados Unidos é o maior fenômeno desse tipo e deverá abrir caminho para reação uma cadeia de candidatos com esse perfil mais populista de direita ou neoconservador, que são coisas diferentes. Eu vejo o Trump mais como populista de direita do que como neoconservador", afirmou.
Para o cientista político, na Europa deve haver mais neoconservadorismo do que populismo. "É provável que, com essa eleição de Trump, se fortaleça na França a candidatura de Marine Le Pain, que representa a extrema direita francesa, e da presidente do partido ultranacionalista alemão. São pessoas que se colocam contra a imigração, contra a integração mais profunda com a União Europeia, contra a intervenção de mecanismos internacionais como as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio sobre os assuntos domésticos, sobretudo em termos de economia", afirmou. "A eleição do Trump representa o triunfo de um discurso político eleitoral bem sucedido, que foi feito para a população branca, anglo-saxônica, protestante, trabalhadores de nível médio, pessoas com nível de instrução rudimentar, eleitorado mais afetado pela quebradeira da indústria americana provocada pela globalização e pela crise econômica de 2008", continuou.
Gomes também frisou que é importante lembrar que o sistema eleitoral nos Estados Unidos é bem particular. "O voto dos cidadãos particulares, no caso americano, não é tão importante quanto o voto dos delegados. O que elege o presidente dos Estados Unidos é um sistema bipartidário de eleição indireta. O que realmente foi surpreendente foi a capacidade do Trump de conquistar um alto número de delegados na reta final. Coloco duas coisas: além dele ter ido fazer campanha onde parecia perdido - ele investiu, arriscou - ele ainda foi beneficiado pelo 'atentado' contra ele e pela descoberta pelo FBI de um novo lote de e-mails de Hillary Clinton usando sua conta pessoal do Gmail e comprometendo a segurança nacional dos Estados Unidos quando ela era secretária de estado, ou seja, ministra das Relações Exteriores. Tudo isso veio a se somar", explicou.
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