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Corrida pela vacina contra Covid-19 vira alvo de politização

Agência Brasil

A autorização do uso emergencial da CoronaVac e da vacina de Oxford contra a Covid-19 reabriu a guerra política entre o Palácio do Planalto e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Logo após o aval da Anvisa, o gestor paulista vacinou enfermeiros no Estado, o que provocou a ira de aliados do presidente Jair Bolsonaro. A insatisfação foi externada pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

O auxiliar afirmou que o governo federal determinou por medida provisória que a coordenação do plano nacional de vacinação seja executada pelo Ministério da Saúde, em plano apresentado ao STF, lançado de maneira solene no Palácio do Planalto, por todos os governadores. Sem mencionar o nome de Doria, ele criticou o uso de "jogada de marketing" com a vacinação. Segundo Pazuello, o único objetivo da pasta tem que ser salvar mais vidas e não "fazer propaganda própria". "Quebrar essa pactuação é desprezar a igualdade entre os estados e todos os brasileiros construída ao longo de nossa história com o programa nacional de imunização. Quebrar isso é desprezar a lealdade federativa", criticou. 

Representantes da Anvisa evitaram comentar sobre a aplicação da primeira dose da Coronavac em São Paulo, mas reforçaram que a autorização para isso está condicionada à assinatura e recebimento de um termo de compromisso pelo Butantan - o que ainda não ocorreu. Isso valeria até mesmo para voluntários dos testes clínicos que receberam placebo, segundo membros da agência.

Em coletiva, João Doria disse que ficou atônito com as declarações do ministro e cobrou a paternidade da vacina. “A vacina do Butantan só está em São Paulo e no Brasil porque foi investimento do governo do Estado de São Paulo, ministro. Não há um centavo até agora, até agora, do governo federal”, cobrou João Doria.

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a aprovação do uso emergencial das primeiras vacinas no Brasil contra a Covid-19 é histórica e salvará vidas. "Venceu a ciência", afirmou o deputado, em sua conta no Twitter.

Análise

A cientista política Priscila Lapa avalia que não houve no País "tentativa de concertação" por "receio de dar protagonismo a outrem" e o comportamento das lideranças foi de ocupar espaços onde o Governo Federal não chegou. "Lógico que narrativas diversas emergem, com cada um tentando minimizar danos e de fato encontrar a saída. Mas no Brasil isso tudo ganhou um tom de palanque muito significativo. O fato é que Bolsonaro nunca desarmou seu palanque e sua performance é muito atrelada ao conflito", avaliou. Segundo ela, a vacina ganhou status de “salvação da pátria” e Bolsonaro não quer dividir protagonismo.

O cientista político Antonio Lucena afirma que houve politização dos dois lados, mas com focos distintos. Enquanto Doria fez o discurso político a favor da ciência, Bolsonaro a negou. "Não tenha dúvida que há uma mistura de política com a corrida da vacina. Houve politização da vacina. Tanto de um lado quanto de outro", afirmou. O professor ainda avalia que o País acabou ficando no final da fila da corrida para a vacinação, o que pressiona o Ministério da Saúde. Ele acredita que Doria sai com créditos pelo Instituto Butantan ter viabilizado o imunizante, um movimento que deveria ter partido do Governo Federal e não estadual.

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