CPMI dos Atos de 8 de Janeiro abre guerra de narrativas entre governo e oposição
Comissão Parlamentar de Inquérito dos Atos Golpistas de 8 de janeiro vira novo mote de disputa
Os impactos causados pela instauração da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro, que levaram à invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, abrem uma nova frente de disputa para a guerra de narrativas travada entre governistas e oposição. Na opinião de especialistas consultados pela Folha de Pernambuco, o colegiado tem potencial de provocar desgastes tanto para o Governo Lula quanto para o bolsonarismo e seus apoiadores.
Ontem, o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), leu o requerimento que permite a abertura e instauração da CPMI dos Atos Golpistas. Agora, os líderes devem indicar os integrantes do colegiado conforme a proporcionalidade de cada Casa Legislativa, abrindo uma disputa entre governistas e antagonistas por espaços na comissão. O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), fez uma manobra para aumentar a participação de aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na CPI, o que provocou irritação nos antagonistas.
Até a última segunda-feira (24), Randolfe, único senador da Rede, integrava o maior bloco do Senado, encabeçado pelo MDB. Antes da leitura do pedido de criação da CPMI, o parlamentar mudou para o grupo formado por PT, PSD e PSB, ampliando o número de vagas de aliados da gestão e tirando uma cadeira dos oposicionistas.
Efeitos para o governo
Apesar da ministra do Planejamento, Simone Tebet, garantir que o impacto da CPMI na votação de pautas como o arcabouço fiscal “é zero”, os trabalhos do colegiado podem provocar um atraso na agenda do governo, além de causar o enfraquecimento do Legislativo para a votação de pautas prioritárias para a gestão. Enquanto isso, os antagonistas vão tentar emplacar a versão de que o Governo Lula foi conivente com os atos. Inicialmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se opôs a criação da CPMI, com a justificativa de que o governo já possui instrumentos para fiscalizar os ataques golpistas.
A postura mudou após a divulgação de imagens de câmeras de segurança, em que o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias é visto nas invasões, aumentando a pressão da oposição e opinião pública sobre o Planalto.
Os riscos da oposição
Já para a oposição, a CPMI é um cenário arriscado por jogar luz nas suspeitas de influência e participação de seus líderes nos atos criminosos. A base do governo pode aproveitar o momento para mostrar o comprometimento dos radicais de direita, que estiveram presentes e instigaram os ataques, para que passem a ser julgados e responsabilizados pelos atos antidemocráticos e terroristas. Tanto que o principal objetivo dos governistas é, justamente, convocar o presidente Jair Bolsonaro (PL) para depor na comissão.
O que está em jogo
O cientista político Antonio Henrique Lucena acredita que, se o colegiado tivesses sido implantado mais cedo, haveria uma conjuntura mais favorável para os governistas. “Se ela tivesse sido implantada mais cedo, teria sido melhor, pois haveria uma maior predisposição para se formar uma comissão muito mais favorável ao atual governo”, afirma o cientista político, Antonio Henrique Lucena. Além disso, ele diz que, diante do atual cenário, encontraremos membros da oposição que podem transformar a CPMI em um circo, para desviar o foco da principal discussão da comissão.
Por outro lado, o cientista político Alex Ribeiro, acredita que a CPMI evidenciará a tentativa da oposição de “inverter a narrativa” sobre os atos de 8 de janeiro, colando o Governo como culpado e bolsonaristas na condição de vítimas. Isso porque muitas lideranças antagonistas são suspeitas de envolvimento nos protestos golpistas e devem querer desviar a atenção das investigações. Já aliados do presidente Lula vão querer combater essa estratégia. “Bolsonaristas e outros atores políticos críticos a Lula torcem por um insucesso de sua administração”, avalia Ribeiro.
A exemplo disso, temos o deputado André Fernandes (PL-CE), autor do requerimento da comissão, que atualmente é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por incentivar os atos golpistas e tenta, por meio da comissão, reverter a narrativas das acusações.
Para o cientista político, Elton Gomes, a CPMI deve abrir uma espécie de “cyber guerra” onde governistas e oposicionistas vão tentar impor suas narrativas para a opinião pública. “O grupo de Lula é menos afeito a cyber políticas do que o do governo Bolsonaro, e elas conseguem movimentar a arena pública. Por meio da CPMI e toda a sua repercussão, ambos os lados ficam competindo pelo controle de narrativas, hiper potencializadas por quem só consome informações de quem pensa como elas ", diz o cientista político e professor universitário, Elton Gomes.