Danilo toma posse na Sudene e fala em inauguração de um novo capítulo da autarquia
Superintendente defendeu o fortalecimento do Nordeste
Em posse bastante prestigiada pela classe política e empresarial, o novo superintendente da Sudene, Danilo Cabral (PSB), tomou posse no comando da autarquia, nesta segunda-feira (10), na Esmape. Em seu discurso o gestor defendeu o fortalecimento da Sudene e do Nordeste. O presidente do Grupo EQM, Eduardo de Queiroz Monteiro, e o diretor executivo da Folha de Pernambuco, Paulo Pugliesi, marcam presença.
Também participam do evento o ministro da Integração Nacional, Waldez Goés; o ministro da Pesca, André de Paula; a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos; o presidente do Banco do Nordeste, Paulo Câmara; a vice-governadora Priscila Krause; o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto; o prefeito do Recife, João Campos, entre outros.
Confira o discurso na íntegra:
Quero falar da minha satisfação em estarmos todos reunidos aqui para inaugurar um novo capítulo na história de 63 anos da Sudene. Disse Celso Furtado, idealizador da autarquia, que o "primeiro desafio que enfrenta o homem é o de encontrar uma justificativa para a vida, inventar todos os dias uma compensação para o esforço que significa viver".
E eu, senhoras e senhores, estou muito honrado e animado com esse novo desafio, o de melhorar a qualidade de vida do povo do Nordeste, através da Sudene!
Quero inicialmente agradecer (Deus), ao presidente Lula pela confiança. Isso é motivo de muito orgulho, mas também uma enorme responsabilidade. Recebemos essa missao de quem tem uma história de vida marcada pelas cicratizes das desigualdades do Nordeste, mas que também , com o espirito de resistência e resiliência que marca o nordestino, tornou-se no presidente da República que mais promoveu avanços na vida de nossa gente. Espero corresponder a confiança do presidente.
Igualmente , quero agradecer ao ministro da Integracao e Desenvolvimento Waldez Góes pela oportunidade de fazer parte de sua equipe. Saiba que terá um parceiro comprometido e leal. Por fim, em nome do senador Humberto Costa, agradeço a todas as forcas politicas locais e regionais pelo apoio a nossa indicação.
O Nordeste não é mais o mesmo daquele que ensejou a criação desta Autarquia, com Celso Furtado, em 1959. Passamos por muitas transformações ao longo dos últimos anos, especialmente a partir da virada do século XXI, com a primeira gestão do presidente Lula. O estabelecimento de políticas públicas combinadas com iniciativas privadas relevantes impulsionaram a base produtiva nordestina, reduzindo desigualdades históricas. Mas ainda há muito por fazer!!!
De 2002 a 2019, enquanto o PIB brasileiro se expandiu 46%, o do Nordeste cresceu 53%, taxa superior à registrada em outras regiões brasileiras. A nossa renda per capita, que era um terço da nacional em meados do século XX, aumentou para 52% em 2018 (antes da pandemia). Apesar do avanço significativo, o hiato é muito desafiador.
Avançamos na educação. Aqui, me permitam, citar o exemplo de Pernambuco, para o qual tive a honra de contribuir quando fui secretário de Educação: universalizamos, no ano passado, o ensino médio integral. Igual caminho seguiu a Paraiba e o Ceará, onde há também significativo avanço na educação básica. Ampliamos o ensino superior, inclusive com a interiorização dos campus universitários e dos institutos federais. Temos, assim, uma juventude qualificada, com vontade imensa de construir um novo momento.
A região experimentou mudanças relevantes na sua matriz econômica. Avançamos na industrialização. Alem do açúcar, Pernambuco passou a produzir e exportar carros. Vale destacar o desempenho da cadeia de papel e celulose do Maranhão e Bahia; a de petróleo no Rio Grande do Norte e na Bahia; de gás natural em Sergipe; os polos farmoquímicos do Ceará e de Pernambuco; de couro e calçadista na Paraíba, entre outros.
Na agropecuaria, o agronegócio avançou na produção de grãos nas áreas compreendidas pela Bahia, Maranhão e Piauí, impulsionado pela atividade do Centro-Oeste. No semiárido, temos avanços na avicultura, na ovinocaprinocultura, na agricultura familiar e produção orgânica de alimentos.
Com o Projeto de Integração do São Francisco. Além do atendimento ao consumo humano, a produção de agricultura irrigada avançou na região do São Francisco e no Rio Grande do Norte. O milho no agreste alagoano e sertão sergipano.
Produzimos inovação e tecnologia, com empresas e startups instaladas nos polos de Pernambuco, Ceará, Bahia, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte.
Temos portos e aeroportos bem estruturados, que ampliaram nossa capacidade logística. Precisamos agora concluir as obras da ferrovia integrando os portos de Pecem(CE) e Suape(PE) com a região. Sem falar no turismo e na economia criativa, que tanto enriquecem nossa região.
Mas os avanços recentes não eliminaram as desigualdades regionais históricas no campo econômico e social, que continuam a nos desafiar. Nunca devemos esquecer que, apesar de termos 26% da população brasileira, representamos apenas 15% do PIB do país.
Agora, mais uma vez temos uma oportunidade à nossa frente. E, mais uma vez, ela se dá no governo do presidente Lula. O Brasil já se reencontrou com os brasileiros e com o mundo. Voltamos a ser um país respeitado. Precisamos também fazer o reencontro da região com o Brasil. A Sudene tem um papel fundamental a cumprir nesse novo Nordeste, e na promoção desse reencontro.
Estamos presente em onze Estados (9 NE e MG,ES), cerca de 20% do território nacional, a mais de dois mil municípios e , sobretudo, a vida de 60 milhoes de brasileiros. Mesmo com essa missão estratégica, a Sudene segue invisibilizada. Precisamos também fazer o reencontro da instituição com os nordestinos. Investimos anualmente em nossa área de atuação cerca de R$ 40 bilhões dos Fundos Regionais e incentivos fiscais. Nosso compromisso é reduzir desigualdades regionais, gerando oportunidades, emprego e renda para a população, especialmente para os menos favorecidos.
Nosso desafio é fazer a economia do Nordeste voltar a crescer acima do Brasil. E patrocinar novos avanços nas politicas publicas para garantir cidadania. Tudo isso em sintonia com a nova agenda mundial da sustentabilidade ambiental e social.
Essa imposição da agenda significa uma oportunidade para a regiao. Como a Amazônia, o bioma caatinga (que ocupa amplo espaço no nosso semiarido e está presente na maioria dos estados) está sendo revisitado pelos que nele vivem ou que sobre ele refletem. A Sudene vai participar firmemente do processo de revisita a este bioma. Igualmente, a energia limpa faz parte dessa nova agenda. Já somos hoje responsáveis por 83% da produção de energia renovável do país, com parques de energia eólica e fotovoltaica instalados em vários estados e temos a chance de sermos competitivos na produção de hidrogênio verde, uma janela de oportunidade que se abre para a região.
E friso: tudo isso com participação direta dos mecanismos de financiamento e incentivos da Sudene e o apoio do Banco do Nordeste.
Temos desafios também presentes dentro do nosso próprio território. Devemos buscar a equidade de oportunidades.
Avançar na interiorização do nosso desenvolvimento, garantindo as mesmas chances a quem vive nas regiões metropolitanas e aqueles que vivem no interior. Vamos buscar a aproximação da instituição dos municípios.
É la onde moram as pessoas e onde estão os desafios do dia a dia. Precisamos fortalecer a Sudene na articulação interfederativa, fazendo do Conselho Deliberativo o locus privilegiado do diálogo da região com o governo federal.
Notadamente no ultimo governo federal, o debate entre os entes da Federação foi obstruído. Nesse vácuo, o Consórcio de Governadores do Nordeste se consolidou e uniu a região em torno de suas prioridades e trouxe um avanço institucional nas relações intrafederativas (protagonizando articulação em nível estadual).
Agora, é preciso dar um passo adiante. Precisamos reconectar o Consorcio dos Governadores com o Conselho da Sudene, fortalecendo seu caráter deliberativo.
Queremos abrir as portas da Sudene para que ela seja apropriada pelos nordestinos, mineiros e capixabas.
Para isso, vamos radicalizar no dialogo. Procuraremos conversar com todos e todas, com governos, setor produtivo, academia , trabalhadores, da sociedade civil organizada.
Fundamental nesse novo tempo é, seguindo a orientação do presidente Lula, colocar o pobre no orçamento. Para isso, precisamos avançar na democratização do acesso aos Fundos Regionais, dando oportunidade para que os micros e pequenos empreendedores ampliem acesso a crédito.
Senhoras e senhores, por falar nesse tema, temos uma preocupação imediata, que se trata do texto da Reforma Tributária e o novo Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR) aprovado pela Câmara dos Deputados e que será analisado pelo Senado. O Nordeste, assim como o Norte e o Centro-Oeste, mais uma vez, poderão sofrer consequências danosas.
A criação do Conselho Federativo, privilegiando decisões tomadas pelas maiores Unidades da Federação, bem como a ausência de critérios constitucionais na distribuição dos recursos do novo Fundo, podem levar ao aprofundamento das desigualdade regionais. A SUDENE estará atenta ao importante debate no Senado, pois o tema eh central para o desenvolvimento do Nordeste.
Finalmente, e fundamental, vamos construir propostas que falem para o futuro. O primeiro passo, nós estamos dando aqui hoje, com o Plano de Desenvolvimento Regional do Nordeste, que vamos tratar na reunião do Conselho Deliberativo da Sudene.
O Plano é o instrumento que vai nortear as políticas públicas e os investimentos para a região nos próximos anos.
Desenvolvimento Produtivo e social, Inovação, Infraestrutura econômica e urbana, Meio Ambiente, Capacidades Governativas e , claro, Educação serão nossos eixos centrais.
O PRDNE, como chamado, será apresentado ao Congresso Nacional junto ao Plano Plurianual . Teremos a oportunidade de ampliar, durante sua tramitação, esse debate e aperfeiçoá-lo.
O Nordeste não é mais o mesmo, nem a Sudene é mais a mesma. Devemos buscar no passado a renovação dos valores que alimentaram a criação da Sudene, mas sabemos que vivemos uma nova realidade. Nosso olhar está apontado para o futuro. Vivemos novos tempos.
Concluindo, temos uma tarefa importante à nossa frente. Sonhamos em construir, juntos, um Nordeste inovador, justo e próspero, reconhecido pela diversidade cultural, pela riqueza de seus biomas, pela força do seu povo e das suas instituições e onde todas as pessoas vivam com dignidade e qualidade de vida.
Concluo citando dois grandes nordestinos e Pernambucanos de alma. Com a paixão proporcional ao tamanho do desafio, nas palavras de Dom Helder, e com as armas do Mestre Ariano Suassuna, do riso a cavalo e o galope do sonho, é que inicio essa nova caminhada.
Deus ilumine nossa caminhada. Muito obrigado!