Dois anos após 8 de janeiro, impactos políticos persistem no cenário brasileiro
Especialistas analisam as consequências do ataque às instituições e o legado de polarização é frágil
Dois anos depois do ataque às sedes dos Três Poderes, em Brasília, os reflexos do episódio ainda reverberam no cenário político brasileiro. Enquanto as instituições mantiveram seu funcionamento, as feridas abertas pela ofensiva do 8 de janeiro ainda estão abertas. A Folha de Pernambuco entrevistou especialistas para entender quais os impactos que ainda ressoam na sociedade, nas instituições e no cenário de articulação política do País.
Para o cientista político Hely Ferreira, o 8 de janeiro representou um divisor de águas na história recente do Brasil. “Historicamente, o evento evidenciou como a democracia na América Latina é frágil, seja por ameaças veladas ou explícitas. Foi um alerta para a importância de fortalecer partidos políticos e garantir o funcionamento harmônico e independente das instituições”, afirmou Ferreira.
Segundo o especialista, os reflexos do episódio são sentidos até hoje. “Embora as instituições tenham mostrado capacidade de resistência, as cicatrizes deixadas pelo episódio ainda são profundas. Hoje, temos um País dividido, em que os palanques políticos permanecem montados, mesmo após o fim do período eleitoral.”
Instituições
O consenso entre os especialistas é de que o saldo do 8 de janeiro revelou vulnerabilidades institucionais significativas, particularmente nas relações entre os Três Poderes e as Forças Armadas. Segundo a cientista política Fernanda Negromonte, esses eventos expuseram uma fragilidade estrutural que vai além do episódio em si.
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"O Estado precisa se blindar ainda mais. Nosso processo democrático revelou fragilidades que certos grupos políticos identificaram e exploraram. O Executivo, por exemplo, precisa negociar constantemente com o Legislativo e outros grupos, mesmo aqueles que não fazem parte da sua base, para evitar ameaças futuras", destacou.
Para o cientista político Sandro Prado, o aprendizado social com as consequências do 8 de janeiro não foi tão significativo quanto deveria. Ele observa que, embora o evento tenha sido amplamente condenado por setores expressivos da sociedade, uma parte dela ainda relativiza ou até mesmo apoia as ações daquele dia. Pesquisa realizada pela Genial/Quaest revelou que 86% dos brasileiros desaprovam os atos.
O fortalecimento das instituições democráticas requer punições exemplares, mas também a criação de uma cultura que rejeita categoricamente qualquer forma de autoritarismo. No entanto, isso não acontece de forma homogênea. A sociedade brasileira ainda não se posiciona de forma inequívoca contra tentativas de golpe.
Sandro Prado
Para ele, a falta de compreensão ampla sobre os princípios democráticos e os limites legais para manifestações enfraqueceu a capacidade da sociedade brasileira de discernir entre protesto legítimo e ações golpistas.
Ato
Nesta quarta-feira, a Praça dos Três Poderes, em Brasília, será palco do segundo aniversário dos ataques do 8 de janeiro. O evento terá a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contará com atos públicos e simbólicos.