Eleitores tiraram o conservadorismo só do Palácio do Planalto, diz Robeyoncé Lima
Segundo Codeputada do PSOL, nas câmaras legislativas, nas assembleias e no congresso nacional, o conservadorismo aumentou
A codeputada estadual Robeyoncé Lima (PSOL), que integra o mandato coletivo Juntas, é a entrevistada desta terça-feira (17) do programa Folha Política, da Rádio Folha FMN 96,7. Advogada, negra e travesti, Robeyoncé tem uma atuação marcada pela defesa dos direitos do povo negro e enfrentamento às opressões contra a comunidade LGBTQIA+. Ela se lançou ao desafio de conquistar uma vaga no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, mas apesar da grande quantidade de votos que obteve (80.732), não conseguiu ser eleita. Na entrevista, ela fala sobre esse e outros assuntos.
Mais de 80 mil votos
Para mim foi uma felicidade grande. Os números frios do resultado final não transmitem o calor do caminho e da trajetória. Independentemente do resultado eleitoral, eu fico muito feliz em saber que tem 80 mil pernambucanos e pernambucanas acreditando no novo projeto de política, de sociedade. A gente tem um projeto de transformação, de ocupação desses espaços pela população negra, pela populão LGBTQIA+. Eu fico muito contente em saber que não estou sozinha nesse novo projeto.
Sistema eleitoral
A gente tem um sistema de federações, que é um sistema de coligações a longo prazo. A federação utilizada em 2022 também será usada em 2024, no caso da gente, a federação PSOL-Rede. Dentro da federação, a gente teve uma cadeira, que ficou para Túllio (Gadêlha), mas por 15 mil votos a gente não conseguiu fazer a segunda cadeira. O sistema eleitoral diz que não adianta ser bem votado porque a chapa como um todo não consegue atingir o quociente eleitoral. É importante fazer esse debate para saber como aprimorar a legislação eleitoral.
2024
A gente está averiguando essa possibilidade. A gente já tem o mapa da votação que eu tive em todo o estado. Dos 80 mil votos, metade foi na capital. Esses 40 mil votos no Recife dá para ter um parâmetro. Claro que de 2022 para 2024, da eleição de federal para a vereança, não há transferência automática dos votos, mas esse número de 40 mil da para a gente trabalhar com a hipótese razoável de pelo menos metade desse eleitorado continuar nesse mesmo projeto político para vereança em 2024.
Prefeitura
A gente está discutindo dentro do partido qual será o nome para a prefeitura em 2024. A gente está com a pretensão de lançar candidatura para majoritária no ano que vem. Tudo isso está sendo discutido.
Túlio ou Dani?
Estamos dialogando, porque a federação tem que apresentar apenas um candidato. Então, está havendo esse diálogo. Ainda não houve um consenso dentro da federação sobre um possível nome. Muito provavelmente Túlio (Gadêlha) vai querer ser candidato a prefeito, o que não está confirmado ainda, mas tem outros nomes também dentro da federação.
Diálogo com PSB ou PT para 2024?
Nada está descartado. Política depende da conjuntura. De hoje para amanhã, pode ser que as coisas mudem, mas a gente, por exemplo, fez uma grande frente ampla para eleger o presidente Lula. Juntou PSOL, Rede, PCdo NB, PSB, Solidariedade. Pode ser que isso continue ou não. As correlações de forças com o tempo aumentam ou diminuem. A própria perspectiva de eleição municipal já muda o nível e faz com que haja alguma diferença.
Mandato coletivo
A legislação não avançou para reconhecer formalmente mandatos coletivos. Exige-se que se eleja uma pessoa dentro da coletividade para ser a representação formal dentro do plenário, no nosso caso é Jô Cavalcanti. Ainda falta muito para avançar no reconhecimento dos mandatos coletivos. A gente tem hoje mais de 20 mandatos coletivos eleitos em todo o país. Com a saída de Dani (Portela) da Câmara Municipal para a Alepe, vai entrar como suplente dela o mandato coletivo Preta Juntas. A gente fica feliz de ter feito história e servir de referência para muitos outros (mandatos coletivos). A gente termina, mas sabe que na Câmara Municipal vai começar outro.
Juntas
A gente usa o método do consenso. Não há nem vitórias nem derrotas. Cada uma abre mão do seu posiconamento pessoal para convergir numa numa ideia comum. O fato de as cinco serem do mesmo partido político facilita nesse entendimento, porque, via de regra, a gente converge para as mesas ideias, podendo divergir em uma coisa ou outra. Existe uma dificuldade maior quando o mandato é composto por pessoas de partidos diferentes.
Reforma de Raquel Lyra
Ela está com um bom diálogo com os parlamentares. Está tendo uma aceitabilidade muito boa do projeto de reforma administrativa dela. A gente não observou nenhu fato que seja muito grave para a reforma administrativa . Entendemos que não mexe com o grosso da estrutura do estado. Não é de enxugamento, criou mas cargos, aumentado as gratificações, o que necessariamente não significa eficiência no serviço público. É importante que isso reflita na melhoria do serviços públicos. Por outro lado, a gente apresenta uma crítica no sentido de que foi uma reforma administrativa que precisou ser melhor dialogada com os sindicatos, categoria profissional da base
Decreto de Raquel
A gente não achou positivo, porque tirou as pessoas do local de trabalho sem nenhuma transição efetiva. A gente pensa no reflexo disso na qualidade do serviço público. Quando a gente tem uma mudança de govenro, é preciso que o novo ou nova governante tenha cautela nesse período de transiçao. Não houve diálogo com a gestão anterior em relação ao que vai ser feito, até mesmo a própria experiência do PSB que passou mais de dois mandatos e que provavelmente tinha que transferrir esse conhecimento, digamos assim, para a gestão do PSDB.
Apoio
A gente tomou uma decisão no segundo turno de caminha por onde Lula caminhasse para derrubar o fascismo e conservadorismo. Quando Lula resolveu seguir Marília (Arraes), seguimos, mas fazendo apontamentos e contribuições ao da Marília. A gente sentia falta da presença de muitos pontos (no programa), como a pauta LGBTQIA+, a qualidade de vida nas unidades prisionais. O plano de governo de Marília não tinha. A gente chegou, incrementou e demonstrou a ela e ao presidente Lula que temos um apoio crítico.
Oposição
Hoje a gente se coloca como oposição. O governo de Pernambuco voltou para aquilo que a gente chama de direita tradicional. Não é direita extremista, mas o PSDB a gente pode colocar como uma direita tradicional. E a gente, como partido de esquerda, se coloca nessa oposição também ao governo do PSDB na gestão da Raquel Lyra. Uma preocupação é uma possível dificuldade do diálogo entre Raquel e Lula, tendo em vista que ela não foi a candidata apoiada pelo presidente, mas a gente acredita que esse diálogo é possivel, embora são perspecitvas de governos diferentes.
Clarissa Tércio
Os atos que a gente teve no domingo foram lamentáveis. Jamais imaginaria que isso fosse acontecer. Dentro do PSOL, repudiamos. A gente acha que é importante a responsabilização de que participou e apoio. Houve perdas financeiras e simbólicas. Deve haver uma responsabilização das pessoas envolvidas.
Conservadorismo
Uma coisa preocupante foi o resultado do primeiro turno, que mostrou que o conservadorismo ainda vai continuar. A gente tirou o conservadorismo do Palácio do Planalto, mas nas câmaras legislativas, nas assembleias e no congresso nacional, o conservadorismo vai continuar. Não é à toa que a gente teve o deputado federal mais votado do Brasil, um conservador, extremista lá do estado de Minas Gerais, que teve 1,5 milhão de votos. O resultado também aqui em Pernambuco mostra isso. O parlamentares federais e os estaduais mais votados são de extrema direita conservadora. Isso preocupa a gente.
Lula
O presidente Lula vai ter dificuldade na gestão. Ele vai precisar dialogar muito. E aqui, a gente na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco deve ter uma preocupação com relação a isso. A gente ter entre os deputados e deputadas mais votados pessoas que apoiaram os atos terroristas em Brasília é uma coisa que o estado deve ser preoucupar. São pessoas que em tese representam o povo brasileiro, mas estão incentivando atos terroristas. O discurso nacional cristão conservador está tomando cada vez mais força, inclusive se repetindo nos resultados eleitorais, como a gente viu já no primeiro turno das eleições.
Congresso
Lula tem uma estratégia de fazer um congresso para ter maioria. Vai ser dificil com um congresso conservador como temos hoje. Para um presidente progressista como Lula, ele vai ter dificuldade. A gente está em um momento deficiso de entender como será a gestão do presidente Lula.