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Em palestra, William Waack afirma: "O sistema político brasileiro faliu”

Em evento organizado pelo Experience Club, jornalista falou sobre desafios do País

Jornalista William Waack dá palestra no Recife - Arthur Mota

O jornalista e âncora da Rede CNN, William Waack, 71 anos, 54 dos quais dedicados à comunicação, palestrou ontem para mais de 200 empresários no Recife. Falou sobre "A conjuntura do Brasil na nova ordem econômica mundial", um evento organizado pelo Experience Club, sob o comando do empresário André Farias. "Nunca foi tão importante nos relacionarmos, com conteúdos certos, pessoas certas e diálogos produtivos", destacou Farias.  

RESPOSTAS À SOCIEDADE

“Nós achávamos que na redemocratização ao escrever as normas que regem o nosso convívio - a Constituição - nós automaticamente daríamos conta das mazelas históricas do País, que são injustiça social desigualdade, miséria, ignorância, agravadas por violência e mais recentemente doença. Achávamos que conseguiríamos isso através de textos através de normas legais e fracassamos nessa empreitada. Fracassamos, porque basicamente não fomos capazes de financiar e sustentar um Estado de bem-estar social que se caracteriza pela distribuição de direitos, privilégios, benefícios, que nós achamos que as pessoas têm direito a receber via Estado. A gente quebrou na verdade.”

 CARGA TRIBUTÁRIA

“Aumentamos impostos até o ponto em que estamos hoje que é considerado uma carga tributária insustentável também. E criamos dívida. Como é que a gente resolve uma situação como essa na qual nós estamos que é basicamente um projeto de uma geração e tentar estabelecer os fundamentos do Estado de bem-estar social de direito, sem conseguir cair numa carga tributária que sufoca a economia, que sufoca as pessoas, e um tipo de dívida que é a relação entre o que a gente produz e o que a gente deve, que afugenta os investidores e deixa todo mundo com um ponto de interrogação na cabeça?”  

SISTEMA POLÍTICO

 “O sistema político brasileiro faliu. Este é o problema sério atual. O sistema político tem dois grandes pilares. Um é o sistema de governo. O outro é o sistema que as pessoas elegem os representantes do povo, que as pessoas esquecem quem são os deputados. Eles são verdadeiros representantes do povo. Não é o presidente, não é o governador, não é o prefeito. Esse sistema de representação política garante a desproporção no nosso método de escolher o representante do povo.  O voto não vale a mesma coisa, dependendo da região do Brasil. A combinação dessa baixa representatividade com as características do sistema de governo é essa bagunça que vocês têm todo dia no noticiário.”  

REFORMA TRIBUTÁRIA  

“Uma resposta imediata que a sociedade demanda é a reforma tributária e ela é o maior exemplo de todas essas falhas que a gente tem no sistema político. Os conflitos ali são verticais porque eles envolvem os entes da Federação e os seus interesses antagônicos e mexe com todos os interesses dos mais variados segmentos da economia. E, no meio disso tudo, temos como espaço de demonstração consenso, compromisso e resolução dos problemas o espaço do Congresso.”  

QUE LEGISLATIVO É ESSE?

“A gente montou um regime semipresidencialista estranhíssimo, com dois primeiros-ministros, que são os presidentes das Casas Legislativas, com todas as prerrogativas de que eles dispõem, e exercem. Mas eles estão em cima de agrupamentos privados, cuja razão de existência é a maior proximidade possível dos cofres públicos ou da máquina pública, cujos pedaços serão transformados por esses grupos privados em ferramentas na defesa dos seus interesses setoriais, regionais, confessionais, paroquiais. E eu não estou falando de ilícitos ou de corrupção. Estou dizendo que a fórmula pela qual até aqui, na nossa recente história, nós podemos acomodar os diferentes interesses das diversas áreas do País das regiões do país, dos segmentos econômicos e dos grupos políticos, foi sempre via cofre público, e os cofres públicos esvaziaram.”  

LIDERANÇA

“Nós estamos vendo um sistema político com baixa representatividade, um sistema de governo que não funciona direito, num país enfrentando um desafio muito grande. Tem dois elementos da política atual que é falta de lideranças nacionais, genuinamente nacionais, acopladas ao ambiente político atual, extraordinariamente perigoso. Aquilo que a gente considera as bolhas, a polarização, a divisão das pessoas do Brasil hoje entre os adeptos de uma determinada corrente política ou de outra corrente política. Nós não estamos sendo capazes, no momento, de estabelecer qualquer tipo de ponte entre essas bolhas. As bolhas, por definição, pertencem a um algo mais extremo do espectro político ou algum extremo do espectro político. E aí no meio tem um centro enorme de pessoas que não pertencem, necessariamente, a um ou a outro e que pode mudar a sua maneira de enxergar a realidade e se aproximar mais de um lado e se aproximar mais de outro, aí é o problema da falta de uma liderança genuinamente nacional. Nós não temos.”  

CAPITAL HUMANO

“Se a gente quiser crescer, vamos ter que investir em capital humano. Vamos ter que formar as pessoas, vamos ter que abraçar educação e produtividade como uma espécie de tarefa nacional, união nacional, consenso nacional. Se não, não vai adiantar apontar o dedo para este ou aquele político e xingar. Por onde a gente começaria a enfrentar esse desafio? Pela reforma política. O primeiro grande problema que nós temos que resolver é o da representação. O segundo grande problema que nós temos que resolver é do funcionamento dos partidos que são fragmentados. E isso depende de a gente se dedicar à política com P maiúsculo.”

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