Felipe Santa Cruz critica 'conduta leviana' de Bolsonaro
Em julho, Bolsonaro declarou que sabia o que tinha acontecido com Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB, morto e desaparecido no regime militar. Sugeriu, ainda, que ele teria sido assassinado pelos próprios colegas ligados à esquerda. Por conta dessas afirmações, Felipe Santa Cruz ingressou com uma interpelação junto ao STF.
Em resposta enviada ao Supremo, Bolsonaro negou a intenção de ofender. "Não tive qualquer intenção de ofender quem quer que seja, muito menos a dignidade do interpelante ou de seu pai. No tocante à forma pela qual teria ocorrido a morte do pai do interpelante, limitei-me a expor minha convicção pessoal em função de conversas que circulavam à época", escreveu o presidente. O ministro Luís Roberto determinou, então, a extinção da ação. "Uma vez prestadas as explicações, não é cabível qualquer avaliação por este Juízo acerca do seu conteúdo", disse Barroso na decisão.
"Claramente, em bom português, desconversou. Disse que foi de ouvir dizer", afirmou Felipe Santa Cruz. "Já estamos ficando habituados com esse traço da personalidade do presidente da República que, temos que admitir, é pouco usual na história do nosso país. Um presidente que o tempo todo diz, depois diz que não era bem isso. Diz que não, volta atrás sem voltar atrás. Ou mesmo sem pedir desculpas, o que poderia acontecer. Faz e se desconversa. Essa é uma prática do presidente", avaliou.
Felipe Santa Cruz demonstrou preocupação sobre a tentativa do presidente da República de rever a história brasileira. "Na minha leitura, foi uma bravata. Eu espero que ele, no que importa, não siga pelo caminho da ofensa aos que lutaram contra a ditadura, não siga pelo caminho da reabertura da discussão histórica da ditadura militar, porque é muito ruim para a sociedade brasileira", ponderou.
"A sociedade brasileira - disse Ulysses Guimarães no dia da promulgação da Constituição de 88 - ela é a Rubens Paiva e não os facínoras que o mataram. A sociedade brasileira tem claramente identificado qual o seu lado na ditadura militar. O presidente com esse episódio ameaçou abrir essas feridas, foi duramente rechaçado por democratas do Brasil inteiro. Estou em Pernambuco e aqui recebi a solidariedade de todo o amplo espectro político, do governador, do prefeito, de várias lideranças do Estado, da vice-governadora, de deputados. Assim foi no Brasil inteiro, da esquerda à direita, os democratas brasileiros disseram e deixaram claro ao presidente da República que nós não aceitamos essa rediscussão e não aceitamos essa conduta leviana na interpretação do que houve pós-64", pontuou.
O assunto foi abordado inclusive no evento da OAB-PE. Em seu discurso antes do descerramento da placa no rol dos ex-prsidentes, Ronnie Duarte prestou solidariedade a Felipe Santa Cruz."Vendo você, que é vítima hoje de reiterados ataques e perseguições atrozes por defender bandeiras que desde sempre foram caríssimas à Ordem. Você que hoje enfrenta desafios pessoais e ameaças que atingem não apenas à ascendência, mas também com grande vilania se dirigem contra os seus descendentes e você consegue seguir firme, altivo e resistente e orgulhando a todo nós que atuamos sob seu comando", disse.
Felipe Santa Cruz já havia divulgado, nesta quinta-feira (28), um posicionamento sobre a resposta do presidente à sua interpelação.
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