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Jaboatão dos Guararapes: várias realidades em apenas um município

A complexa estrutura de Jaboatão é tema da segunda reportagem da série sobre "Desafios municipais"

Jaboatão dos Guararapes - Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

Como administrar uma cidade que são várias ao mesmo tempo? Como unir um território fragmentado e pouco integrado entre si? Como resolver os problemas de cada área dentro de um mesmo município, com particularidades e especificidades locais? Essas são algumas questões a serem debatidas por aqueles e aquelas que pretendem disputar a vaga de prefeito ou prefeita de Jaboatão dos Guararapes, nas eleições municipais de outubro deste ano. Dando continuidade à série de reportagens da Folha de Pernambuco que mostra os maiores desafios das principais cidades do Estado, Jaboatão ilustra o segundo texto do material especial.

Localizada na Região Metropolitana do Recife e com uma população de 644.037 habitantes, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Jaboatão dos Guararapes tem a complexidade de reunir vários distritos diferentes, mas que precisam igualmente de políticas públicas em vários segmentos, sobretudo nas áreas de saneamento, drenagem e urbanização, que impactam em outras áreas, como economia, segurança pública e saúde.

Os problemas das chamadas regionais - Prazeres, Jaboatão Centro, Praias, Curado, Cavaleiro, Muribeca e Jardim Jordão - são históricos e, segundo especialistas, são motivados pela forma desordenada como a cidade foi crescendo ao longo dos anos.

Orla de Jaboatão dos Guararapes

De acordo com os dados do Instituto Água e Saneamento, organização civil sem fins lucrativos que coleta informações sobre a universalização do saneamento no Brasil, somente 0,8% da população de Jaboatão dos Guararapes é atendida com drenagem de águas pluviais (chuvas), frente a média de 12,24% do Estado e 25,96% do País. Ainda segundo a organização, 6,2% dos domicílios do município estão sujeitos às inundações. Jaboatão tem mapeamento de áreas de risco, mas não existem sistemas de alerta para riscos hidrológicos.

Especialistas

O arquiteto e urbanista Thomaz Ramalho, consultor do Plano Diretor da cidade, explica que a estruturação territorial de Jaboatão se deu como “espraiamento” dos municípios vizinhos.

"Toda aquela área de praias, de Prazeres, fica bem claro isso. É um espraiamento de Boa Viagem, que é uma estruturação que veio de Jaboatão Centro. A mesma coisa, Muribeca, que é outro núcleo histórico de importância e que começou a ser melhor integrado ao resto da cidade, mas ainda tem particularidades desse princípio. Então, você percebe muito como essa logística estruturou esse território. Tem a ver com os rios também", definiu Ramalho.

Para Thomaz Ramalho, Jaboatão é uma das cidades brasileiras mais vulneráveis às mudanças climáticas e há uma emergência. "Pensar as alterações do clima é um desafio novo. Cada vez mais o padrão vai ser de choque climático, com chuvas concentradas, ondas de calor mais concentradas. A drenagem termina sendo um desafio importantíssimo. É a grande prioridade, porque tem o componente redução de risco nos morros."

Cidade comporta várias realidades distintas

"Conectar a cidade internamente é indispensável, também. A dificuldade é o lugar de conexão, que é a Muribeca, porque é também o lugar mais vulnerável do ponto de vista das enchentes. É uma ocupação que precisa ser feita de maneira muito criteriosa. Eu acrescentaria, ainda, a necessidade de criar estruturas de planejamento permanentes, porque sem o planejamento é impossível as coisas darem certo", completou o urbanista.

Na opinião de Nadja Granja, que é arquiteta, urbanista e mestra em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), saneamento, drenagem, urbanização e conectividade interna fazem parte do pacote planejamento urbano, que deve andar de mãos dadas com a sociedade civil.

"Não tem como desvincular uma coisa da outra e, quando falo em sociedade civil, me refiro àquelas pessoas que são microempreendedoras locais, aquela mãe que leva o filho na escola a pé e vai sofrer com os alagamentos, por exemplo. A dificuldade é que Jaboatão tem sete cidades dentro de uma só. São sete regionais extremamente desconectadas, com características de crescimento completamente diferentes", observou Nadja Granja.

Moradores

Esse contexto histórico de dificuldades urbanas é um obstáculo na vida dos moradores. É preciso lidar todos os anos com os alagamentos no período de chuvas.

"O pior problema mesmo é que a gente é um pouco esquecido por ser Jaboatão Velho. Nas chuvas, Jaboatão alaga, tem gente que quando chove um pouquinho fica com medo", lamentou o digital influencer Rafael Justino, 28 anos.

Guilherme Santos, 29 anos, é autônomo, mora no bairro do Jordão e trabalha na orla de Piedade. "Acredito que saneamento é um quesito bem precário na cidade", destacou. Já o técnico em agropecuária Pedro Tenório, 65 anos, que reside no bairro de Candeias, falou também dos esgotos. "Quando chove, inunda tudo, galerias de esgoto esborram em todos os cantos. Quem mora em prédio caixão, apartamento térreo, por exemplo, dá retorno no banheiro. Sem falar dos esgotos que ainda estão sendo jogados no mar."

Soluções

Coordenador técnico do Plano Diretor de Jaboatão, o arquiteto e urbanista Milton Botler diz que o objetivo da iniciativa é procurar reduzir os impactos decorrentes das mudanças climáticas, provadas cientificamente que entraram em ciclos extremos, como muito calor, falta de chuvas em um período, chuvas concentradas em outros períodos, o que provoca os alagamentos e deslizamentos de barreiras.

Guilherme Santos diz que saneamento básico é um dos principais desafios

"Ao mesmo tempo, existe um processo de urbanização que é oposto a isso, porque passa a impermeabilizar mais o solo, a gerar ilhas de calor. Então, é preciso medidas para minimizar o impacto dessa urbanização, como deixar o máximo possível de solo natural, vegetação que possa reter a chuva. Quando se plantam árvores, por exemplo, a chuva não cai direto no solo, uma parte fica retida. Na pavimentação das ruas, pode-se deixar jardins drenantes nas calçadas", pontuou Botler.

"Quando a gente fala do município de Jaboatão, estamos falando de praticamente sete municípios. Cada regional tem uma característica diferente no território. A Muribeca, por exemplo, é onde há o maior problema de alagamento. Ela é uma grande bacia de detenção. A população que está lá é a que sofre maior impacto, não deveria ter moradores ali, deveria ser uma grande área alagada já para receber essa água", detalhou.

No entanto, por ser um local privilegiado do ponto de vista da logística, existem ideias de soluções para a área. "A Muribeca é um ponto que distribui para todas as BRs. Há a proposta de levar um centro administrativo para a região e formatar uma parceria público privada para atrair investimentos e tentar resolver os problemas locais. É necessário tirar as pessoas e colocá-las para morar num lugar mais alto e não é pouca gente. Não se faz só com recursos públicos. Também precisamos recuperar áreas degradadas, drenar e sanear. Esse projeto entrou na formulação estratégica de Jaboatão 450 anos", contou.

 

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