O impacto das eleições norte-americanas no Brasil
Uma das surpresas observadas nesta eleição foi a rapidez na apuração dos resultados
Leia Também
• Debate Trump x Kamala: democrata adota postura ofensiva e republicano mais defensivo
• Eleições Recife 2024: Gilson diz que tem promessa de Trump para ajuda em possível gestão
• Gilson Filho diz que foi convidado por Trump, junto com o pai, para acompanhar apurações dos EUA
As eleições presidenciais nos Estados Unidos têm um peso significativo não apenas para os americanos, mas também para o cenário internacional. A vitória de Donald Trump nas urnas tem repercussões que vão além das fronteiras dos Estados Unidos, com reflexos diretos em países como o Brasil.
Durante entrevista na Rádio Folha FM 96,7, nesta quarta-feira (06), com os professores Antônio Henrique Lucena, especialista em Relações Internacionais, e Edgard Leonardo, especialista em Economia, foram discutidos os principais fatores que influenciaram o resultado das eleições e os possíveis impactos para o Brasil e o mundo.
Uma das surpresas observadas nesta eleição foi a rapidez na apuração dos resultados. Diferente do que muitos esperavam, o processo foi mais ágil, com a vitória de Donald Trump sendo confirmada de forma quase imediata, uma vez que ele conquistou os ‘Estados pêndulos’, aqueles com grande poder decisório no resultado final.
@@NOTICIAS_RELACIONADAS@@
O professor Edgard Leonardo apontou que, ao contrário de outras eleições, onde a disputa estava mais equilibrada, desta vez Trump conquistou estados-chave como a Pensilvânia e a Flórida.
"A chave sempre são os Estados pêndulos. Trump soube conquistar esses pontos decisivos e, com isso, a vitória acabou se desenhando de forma mais clara", explicou.
Já o professor Antônio Henrique Lucena destacou um fator específico da eleição: a estratégia de Trump para incentivar os eleitores republicanos a votarem antecipadamente por correio. Esse movimento gerou um recorde de participação entre os eleitores republicanos e ajudou a consolidar a vitória, especialmente após a perda de apoio dos democratas em estados tradicionalmente voltados para a "muralha azul", como a Pensilvânia.
Economia: o peso no voto do americano médio
Um dos fatores mais discutidos foi a economia. Embora os índices de desemprego nos Estados Unidos estivessem em níveis historicamente baixos, o aumento da inflação foi um fator importante que pesou contra o governo de Joe Biden.
De acordo com o professor Edgard Leonardo, a alta nos preços de produtos e serviços afetou diretamente o poder de compra do americano médio.
"Embora o desemprego tenha caído, a inflação foi um problema real. O cidadão comum sentiu no bolso que estava comprando menos com o mesmo valor de antes", disse Leonardo.
Lucena, por sua vez, reforçou que, apesar das melhorias nos indicadores econômicos, o aumento no custo de vida afetou a percepção do eleitorado. Ele observou que a eleição de 2020 foi profundamente marcada pela pandemia de COVID-19, mas que agora a questão econômica, especialmente o impacto da inflação, dominou o cenário.
"Trump soube explorar esse discurso de insatisfação e isso foi crucial para atrair eleitores que antes não o apoiavam", afirmou.
O impacto da pandemia e a retomada da economia
Em relação à eleição anterior, em 2020, a pandemia foi vista como um fator decisivo na derrota de Trump. Lucena apontou que, embora a crise sanitária tenha afetado a popularidade do ex-presidente, sua mensagem econômica, agora mais centrada na recuperação pós-pandemia, se alinhou com o desejo de muitos eleitores de ver os Estados Unidos mais fortes e menos dependentes de questões globais.
"A teoria do voto econômico é clara: o americano quer emprego, estabilidade financeira, e isso está diretamente ligado ao seu voto", disse o especialista.
Ao ser questionado sobre quem poderia ser considerado o grande derrotado da eleição, tanto Lucena quanto Leonardo concordaram que o nome que mais sofreu com o resultado foi o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Leonardo argumentou que o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, sob a liderança de Biden, poderia ser comprometido com a vitória de Trump, que tem criticado o gasto excessivo do governo americano no apoio à guerra contra a Rússia.
"Trump já sinalizou que, se eleito, a relação com a Ucrânia será revista, e Zelensky pode ver uma diminuição do apoio que recebeu até aqui", afirmou o professor de economia.
O que esperar para o Brasil?
No contexto das relações internacionais, a vitória de Trump tem implicações diretas para o Brasil, especialmente no que diz respeito ao comércio e à política externa.
Como explicou Lucena, Trump tende a adotar uma postura mais protecionista, com políticas que podem afetar negativamente países como o Brasil, especialmente no campo do comércio internacional. A possibilidade de uma maior pressão sobre a China também pode alterar o cenário para os brasileiros, dada a relação de comércio com o gigante asiático.
Por outro lado, o professor Edgard Leonardo ressaltou que, no caso de um governo Trump, o Brasil pode ver um alinhamento maior com os Estados Unidos em questões como segurança e política militar, mas também uma maior competição no comércio, especialmente no setor agrícola.
"Trump não será tão favorável ao Brasil como foi no seu primeiro mandato. O cenário global está diferente, e as estratégias comerciais podem ser mais rigorosas", observou.
O futuro da política internacional
Com relação à política externa, Lucena alertou para as possíveis mudanças nas relações entre os Estados Unidos e outras potências, como a China e o Oriente Médio.
"Trump provavelmente adotará uma postura mais agressiva em relação à China e será mais incisivo nas relações com Israel. No Oriente Médio, ele pode permitir que Israel avance em territórios disputados", explicou.
Se você quer ficar por dentro de tudo que acontece na política do nosso Estado, clique aqui, cadastre-se e receba diariamente as atualizações do Blog da Folha no seu e-mail.