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O impacto das eleições norte-americanas no Brasil

Uma das surpresas observadas nesta eleição foi a rapidez na apuração dos resultados

Antônio Henrique Lucena, Professor de relações internacionais e Edgard Leonardo, Professor de economia comenam o resultado das Eleições dos EUA. - Júnior Soares / Folha de Pernambuco.

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As eleições presidenciais nos Estados Unidos têm um peso significativo não apenas para os americanos, mas também para o cenário internacional. A vitória de Donald Trump nas urnas tem repercussões que vão além das fronteiras dos Estados Unidos, com reflexos diretos em países como o Brasil.

Durante entrevista na Rádio Folha FM 96,7, nesta quarta-feira (06), com os professores Antônio Henrique Lucena, especialista em Relações Internacionais, e Edgard Leonardo, especialista em Economia, foram discutidos os principais fatores que influenciaram o resultado das eleições e os possíveis impactos para o Brasil e o mundo.

Uma das surpresas observadas nesta eleição foi a rapidez na apuração dos resultados. Diferente do que muitos esperavam, o processo foi mais ágil, com a vitória de Donald Trump sendo confirmada de forma quase imediata, uma vez que ele conquistou os ‘Estados pêndulos’, aqueles com grande poder decisório no resultado final.

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O professor Edgard Leonardo apontou que, ao contrário de outras eleições, onde a disputa estava mais equilibrada, desta vez Trump conquistou estados-chave como a Pensilvânia e a Flórida.

"A chave sempre são os Estados pêndulos. Trump soube conquistar esses pontos decisivos e, com isso, a vitória acabou se desenhando de forma mais clara", explicou.

Já o professor Antônio Henrique Lucena destacou um fator específico da eleição: a estratégia de Trump para incentivar os eleitores republicanos a votarem antecipadamente por correio. Esse movimento gerou um recorde de participação entre os eleitores republicanos e ajudou a consolidar a vitória, especialmente após a perda de apoio dos democratas em estados tradicionalmente voltados para a "muralha azul", como a Pensilvânia.

Economia: o peso no voto do americano médio

Um dos fatores mais discutidos foi a economia. Embora os índices de desemprego nos Estados Unidos estivessem em níveis historicamente baixos, o aumento da inflação foi um fator importante que pesou contra o governo de Joe Biden.

De acordo com o professor Edgard Leonardo, a alta nos preços de produtos e serviços afetou diretamente o poder de compra do americano médio.

"Embora o desemprego tenha caído, a inflação foi um problema real. O cidadão comum sentiu no bolso que estava comprando menos com o mesmo valor de antes", disse Leonardo.

Lucena, por sua vez, reforçou que, apesar das melhorias nos indicadores econômicos, o aumento no custo de vida afetou a percepção do eleitorado. Ele observou que a eleição de 2020 foi profundamente marcada pela pandemia de COVID-19, mas que agora a questão econômica, especialmente o impacto da inflação, dominou o cenário.

"Trump soube explorar esse discurso de insatisfação e isso foi crucial para atrair eleitores que antes não o apoiavam", afirmou.

O impacto da pandemia e a retomada da economia

Em relação à eleição anterior, em 2020, a pandemia foi vista como um fator decisivo na derrota de Trump. Lucena apontou que, embora a crise sanitária tenha afetado a popularidade do ex-presidente, sua mensagem econômica, agora mais centrada na recuperação pós-pandemia, se alinhou com o desejo de muitos eleitores de ver os Estados Unidos mais fortes e menos dependentes de questões globais.

"A teoria do voto econômico é clara: o americano quer emprego, estabilidade financeira, e isso está diretamente ligado ao seu voto", disse o especialista.

Ao ser questionado sobre quem poderia ser considerado o grande derrotado da eleição, tanto Lucena quanto Leonardo concordaram que o nome que mais sofreu com o resultado foi o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Leonardo argumentou que o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, sob a liderança de Biden, poderia ser comprometido com a vitória de Trump, que tem criticado o gasto excessivo do governo americano no apoio à guerra contra a Rússia.

"Trump já sinalizou que, se eleito, a relação com a Ucrânia será revista, e Zelensky pode ver uma diminuição do apoio que recebeu até aqui", afirmou o professor de economia.

O que esperar para o Brasil?

No contexto das relações internacionais, a vitória de Trump tem implicações diretas para o Brasil, especialmente no que diz respeito ao comércio e à política externa.

Como explicou Lucena, Trump tende a adotar uma postura mais protecionista, com políticas que podem afetar negativamente países como o Brasil, especialmente no campo do comércio internacional. A possibilidade de uma maior pressão sobre a China também pode alterar o cenário para os brasileiros, dada a relação de comércio com o gigante asiático.

Por outro lado, o professor Edgard Leonardo ressaltou que, no caso de um governo Trump, o Brasil pode ver um alinhamento maior com os Estados Unidos em questões como segurança e política militar, mas também uma maior competição no comércio, especialmente no setor agrícola.

"Trump não será tão favorável ao Brasil como foi no seu primeiro mandato. O cenário global está diferente, e as estratégias comerciais podem ser mais rigorosas", observou.

O futuro da política internacional

Com relação à política externa, Lucena alertou para as possíveis mudanças nas relações entre os Estados Unidos e outras potências, como a China e o Oriente Médio.

"Trump provavelmente adotará uma postura mais agressiva em relação à China e será mais incisivo nas relações com Israel. No Oriente Médio, ele pode permitir que Israel avance em territórios disputados", explicou.

Confira a entrevista completa: 

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