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Os sinais de alerta para a escalada da polarização do Brasil

Após atentado em Brasília, especialistas analisam o fenômeno da crescente radicalização brasileira

O autor do atentado a bomba à sede do Supremo, segundo investigações, tinha como alvo Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos sobre os atos golpistas de 8 de janeiro - Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Um ataque na Praça dos Três Poderes, em Brasília, esta semana trouxe à tona novamente a discussão sobre a escalada da violência política no Brasil e no mundo. O caso envolveu Francisco Wanderley Luiz, ex-candidato pelo Partido Liberal (PL), que lançou explosivos em direção ao prédio do Supremo Tribunal Federal antes de detonar outro artefato em si mesmo, resultando em sua própria morte.

O episódio ocorre em um contexto de polarização política e menos de dois anos após os ataques às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023. Lideranças de campos políticos antagônicos e autoridades fizeram apelos pela pacificação, ao mesmo tempo em que alertaram para o risco de uma escalada do ambiente de polarização instalados no País. Nesta matéria, especialistas analisam o fenômeno da radicalização da política brasileira.

Polarização

Para o ex-secretário Luiz Otávio Cavalcanti, titular da coluna “Um Ponto de Vista do Marco Zero” da Folha de Pernambuco, o Brasil está mudando: “Há uma mudança de comportamento e mentalidade das pessoas. Desde a última década as coisas se desenrolam para essa polarização. É um fenômeno global”, afirmou. Ele defende que, com essas mudanças, há o surgimento de figuras de extrema-direita e de extrema-esquerda atuando agora.

Para o historiador e cientista político Filipe Domingues esse cenário se deve à crescente polarização política. Apesar disso, ele observa que, enquanto o crescimento da extrema-direita se acelera, o avanço da extrema-esquerda ocorre em proporção menor. “Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a violência política é resultado de um cenário de polarização acentuada”, destaca.

Já o professor e cientista político Elton Gomes classifica o cenário brasileiro como de “hiperpolarização”, em que o debate político cede espaço a paixões exacerbadas. “O público tem se comportado como torcedor de futebol: apoia um candidato ou grupo com uma passionalidade que mina a qualidade das discussões. Não se discute políticas ou ações de Estado, mas se promove a espetacularização do conflito”, observa.

Instituições

Outro elemento central nesse contexto é o descrédito nas instituições democráticas, comum em discursos extremistas. Para Luiz Otávio, as desilusões com aparatos institucionais devem ser analisadas separadamente. “Há um comportamento institucional do Judiciário forte, o que incomoda e perturba a extrema-direita, que quer a anistia. Já no Legislativo, há um aguçamento dos privilégios parlamentares e uma falta de transparência em relação aos recursos utilizados”, argumentou.

Já Gomes acredita que há um ambiente de descrença nas instituições. “Há a sensação de incapacidade, no cidadão, em achar que seu voto faz a diferença em um ambiente onde as instituições são vistas como inócuas”, argumenta.

Por outro lado, Filipe Domingues aponta que o funcionamento das instituições brasileiras está dentro da normalidade, mas a falta de amparo estatal contribui para a insatisfação popular. “Existe um discurso muito forte, antipolítico, contra o sistema estabelecido, como se muitos candidatos sem vivência política não estivessem completamente inseridos no sistema socioeconômico”, avalia.

Saídas

Além do investimento em educação, frequentemente apontado como solução para reduzir o extremismo, a comunicação aparece como uma possível chave para aliviar a tensão social. Filipe Domingues destaca que a agressividade das mídias sociais tem repercutido em agressões pessoais e promovido a política de cancelamento, o que contribui para a escalada da violência política.

"A agressividade das mídias sociais termina reverberando nas agressões pessoais, sejam de ordem física, de ordem psicológica, a política de cancelamento, que quer aniquilar o outro. E aí a gente tem que estudar a história e ver que discursos extremistas, armamentistas, ultranacionalistas sempre levam a fenômenos terríveis na história humana", argumenta.

Já o cientista político Elton Gomes acredita que o debate público precisa ser mais pragmático. Para ele, a polarização tem esvaziado a qualidade das discussões, que deixam de ser centradas em políticas públicas e se transformam em um espetáculo de disputa apaixonada.

"As pessoas no Brasil muitas vezes buscam se alinhar e torcer por um candidato ou grupo político, como quem torce por um time de futebol. Perdendo ou ganhando, por paixão, isso acaba esvaziando a qualidade do debate público, que deixa de ser propositivo, deixando de girar em torno de políticas e ações de Estado", defende.

Luiz Otávio aponta uma única saída para as perturbações que a polarização trouxe: as instituições.

“A solução está no plano institucional. Pois é a forma que o homem encontrou de realizar transformações políticas e sociais. São as instituições que produzem a modificação da realidade de forma regulada e criativa”, finaliza.

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