Pablo Marçal: o impacto da nova sensação paulistana no cenário político nacional
Popularidade de candidato pode refletir uma reação popular à crise de representatividade
O candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal (PRTB), ex-coach e influenciador das redes sociais, se tornou um dos assuntos mais comentados das eleições municipais deste ano. O fenômeno vem atraindo atenção não somente dos eleitores paulistas, mas de todo o País. A ascensão levanta o debate sobre sua possível influência fora dos limites da capital paulista e o potencial para uma projeção política em escala nacional.
Marçal e a crise de representatividade
A popularidade de Pablo Marçal reflete uma reação à crise de representatividade que permeia o sistema político brasileiro, segundo Elton Gomes, cientista político e professor na Universidade Federal do Piauí. Ele avalia que o cenário atual é caracterizado por um descrédito generalizado nas estruturas partidárias tradicionais.
"Os partidos brasileiros têm pouca consistência ideológica e pouca capacidade de mobilização popular", afirma Gomes.
Outsiders
Esse vácuo tem impulsionado a ascensão de líderes carismáticos e outsiders, como Marçal, que vêm do mercado de coaching e autoajuda e utilizam a comunicação digital na sua vida profissional e pessoal.
Para o professor, Marçal está reproduzindo, em escala municipal, uma dinâmica semelhante à dinâmica que levou Jair Bolsonaro à presidência em 2018. Sua campanha é marcada por uma estratégia de comunicação direta e confrontacional, que combina ataques verbais e ridicularização, uma abordagem que remete ao marketing multinível e ao estilo de Bolsonaro.
Expansão da popularidade: possibilidade ou realidade?
A questão que se coloca é se a popularidade de Marçal em São Paulo pode ser replicada em outras cidades brasileiras. Gomes acredita que sim, mas com ressalvas.
"O estilo comunicacional de Marçal, que é diretamente associado ao antissistema, pode ser adotado por outros candidatos em diferentes regiões", diz ele.
Contudo, a eficácia dessa abordagem depende do contexto local e da forma como os candidatos se adaptam às particularidades regionais.
A estratégia de Marçal utiliza as redes sociais para criar e amplificar uma narrativa que ressoa com seu público-alvo, explorando fenômenos como o "filtro bolha" e o "viés de confirmação". Essas características ajudam a segmentar e direcionar a comunicação política, permitindo que Marçal alcance e engaje eleitores que já compartilham suas visões e valores.
O apelo de Marçal e seus planos futuros
De acordo com Gomes, a principal razão para a popularidade de Marçal em São Paulo é a insatisfação com o sistema político tradicional.
"Marçal representa uma alternativa ao status quo, aproveitando a fadiga e a crise de representatividade que afeta os eleitores", explica.
Sua imagem de outsider e sua capacidade de utilizar as redes sociais para se conectar diretamente com o eleitorado são fatores-chave em sua ascensão. A pergunta que persiste é se Marçal pode usar sua popularidade local para alcançar uma influência nacional. Gomes considera que é possível, especialmente se ele conseguir capitalizar sobre seu sucesso em São Paulo.
"Marçal tem o potencial para expandir sua influência se conseguir formar alianças e estabelecer uma base política sólida em outras regiões", diz ele.
Para alcançar esse objetivo, Elton Gomes acredita que Marçal precisaria de três coisas: consolidar sua popularidade em São Paulo, formar uma rede de aliados em diferentes estados e aproveitar sua visibilidade para se posicionar para cargos maiores no futuro, como deputado federal ou senador.
“Há uma tese bastante razoável, na qual nós podemos acreditar, que Pablo Marçal emprega essa campanha com três grandes objetivos. O primeiro é se tornar mais popular e conhecido para vender os seus produtos virtuais na internet. A segunda é para concorrer de fato com o azarão e, se possível, vencer as eleições em São Paulo, como a gente está vendo ficar cada vez maior a probabilidade disso acontecer. E a terceira é fazer corpo político, ou seja, concorrer, ainda que não vença, mas gerar um capital político que lhe permita concorrer a outro cargo, digamos, deputado federal ou senador, nas próximas eleições”, finalizou.