Paulo defende ampliação da presença do Banco do Nordeste nos estados
Gestor quer desburocratizar e ampliar o acesso ao crédito da instituição
O presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e ex-governador de Pernambuco, Paulo Câmara, visitou a Folha de Pernambuco na manhã de ontem. Na ocasião, ele foi recebido pelo presidente do Grupo EQM, Eduardo de Queiroz Monteiro. Durante a visita, o gestor abordou diversos temas. Entre eles, a busca por expansão e desburocratização de crédito, ampliação da presença da instituição no Nordeste e aproximação e atuação conjunta com as instituições financeiras. O gestor ainda concedeu entrevista à Rádio Folha FM 96,7, em que detalhou os desafios na condução do BNB e saiu em defesa do seu legado no Governo do Estado.
Também receberam o gestor do BNB o diretor executivo da Folha de Pernambuco, Paulo Pugliesi; o diretor operacional, José Américo Góis; a diretora administrativa, Mariana Costa; a editora-chefe da redação, Leusa Santos; a colunista Roberta Jungmann, e a gerente da Rádio Folha, Marise Rodrigues. Ainda recepcionaram o ex-governador os diretores do Grupo EQM Leonardo Monteiro, Joanna Costa, Domingos Azevedo, Eduardo Cunha, Paulo Júlio, além do assessor especial da Presidência do Grupo EQM, Joni Ramos, e do advogado Renato Rissato. O assessor especial da Presidência do BNB, Eduardo Machado, acompanhou o gestor na visita à Folha.
Confira os principais pontos da entrevista do presidente do BNB, Paulo Câmara:
Crédito
“Assumi, no final do mês de março, a presidência do Banco do Nordeste, uma instituição de 70 anos que atua em todos os municípios do Nordeste brasileiro, além do Norte de Minas Gerais e do Norte do Espírito Santo. São mais de dois mil municípios atendidos, quase 300 agências em funcionamento e programas inovadores, que fazem a diferença na vida de muita gente, principalmente no microcrédito. O Crediamigo e o Agroamigo do Banco do Nordeste são duas bandeiras importantes com as quais o banco marca presença na vida de muita gente. É isso que a gente quer ampliar, mantendo as operações para os grandes empreendimentos e os médios, mas principalmente para os pequenos e para os micro, aqueles que mais precisam de atendimento.”
Expansão no Nordeste
“A gente teve o convite do presidente Lula de assumir o banco, e ele foi muito incisivo quando me convidou. Ele disse que a gente tem que trabalhar para o Nordeste como um todo, e é isso que eu estou fazendo. Vou dar todo o equilíbrio necessário entre as regiões porque isso é fundamental no trabalho que queremos fazer. O Ceará é a sede do banco, o maior número de funcionários está no Ceará. O estado hoje reconhece efetivamente os bons serviços que o Banco do Nordeste faz. E a gente quer que esse mesmo carinho que o povo cearense tem com o Banco do Nordeste aconteça nos outros estados. Esse é o nosso trabalho também. Toda vez que falamos dos empreendimentos que vão chegar ao Ceará, as pessoas já lembram do Banco do Nordeste. É importante que em todos os estados isso também aconteça. Ou seja, toda vez que aconteça alguma ação em Pernambuco, vou trabalhar muito para o Banco do Nordeste ser lembrado como um parceiro que pode ajudar, como também em todos os estados. Então, estamos fazendo um trabalho de muita aproximação, de muita unidade. Eu estou muito dedicado lá no Ceará. Estou muito determinado a fazer um bom trabalho e tenho certeza que o povo do Ceará vai reconhecer isso e todo o povo nordestino. A gente quer chegar com muita ação e com muita oportunidade de gerar emprego e renda.”
Além do Ceará
“O desafio é o banco chegar aos outros estados da mesma forma que chega ao Ceará. O Ceará termina sendo um grande pioneiro (nas ações do BNB), mas também precisamos fazer essa ação acontecer da mesma forma, com a mesma intensidade, com o mesmo volume de recursos, com a mesma expansão em todos os estados. Eu acho isso um processo natural, o banco tem uma governança muito profissional, um corpo técnico muito qualificado, agências em todo o Nordeste, é só realmente dar intensidade, dar presença a essa estrutura. Eu vou também circular muito pelos municípios nordestinos. Eu quero realmente que o banco tenha uma dimensão dos negócios e do povo, se precisar de um crédito, seja grande o empreendimento ou seja pequeno, isso possa acontecer de maneira célere, sem burocracia e, acima de tudo, gerando o que a gente quer que gere, que é valor agregado nas ações em todo o Nordeste.”
Instituições
“A gente tem tido esse cuidado de aproximação com as instituições públicas oficiais. Já estive no BNDES, já conversei com o Banco do Brasil e com a Caixa Econômica Federal no sentido que a gente possa fazer ações conjuntas e ao mesmo tempo coordenadas. O governo federal também me autorizou a conversar com o Brics. Não adianta o BNDES fazer ações no Nordeste sem ter uma parceria com o Banco do Nordeste. Isso vale para todas as demais instituições financeiras. Não podemos gastar energia com ações sobrepostas. A gente tem que, pelo contrário, juntar esforços e onde o BNDES precisar fazer ações que atinjam o Nordeste que façamos conjuntamente. Isso pode ajudar a potencializar efetivamente aquilo que o presidente Lula quer, que é a presença cada vez maior dos bancos públicos, das instituições públicas em todos os cantos do Brasil e participando desse processo de reconstrução que o Brasil precisa enfrentar. Sabemos que o orçamento da União é apertado, engessado e os bancos públicos podem contribuir para que ações de investimento aconteçam de forma célere sem precisar do orçamento federal, a partir principalmente de ações integradas dos bancos públicos.”
Desburocratização
“Esse é um trabalho diário que o banco tem que investir, até porque todo mundo tem que ter acesso ao crédito. A gente não pode ter as mesmas pessoas todos os anos recebendo os créditos e outras pessoas sem ter acesso. Então, esse trabalho de universalização, de buscar chegar aonde não chegou ainda da maneira adequada vai ser intenso. Os programas de microcrédito, principalmente o Agroamigo e Crediamigo já têm uma abrangência muito grande, mas podemos chegar mais longe e não precisa de muito recurso para chegar mais longe. Temos certeza de que isso vai ser possível e que o banco vai cumprir uma ação fundamental, que é, nesse período pós-pandemia, mostrar para as pessoas que elas podem contar com o banco para empreender, gerar emprego e renda nas comunidades nordestinas.”
Linhas de crédito
“Hoje, o banco, por meio do fundo constitucional do FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste), tem linhas que chegam a todos. Muitas vezes, o que acontece é o desconhecimento dessas linhas. Mas hoje, se a gente falar dos grandes empreendimentos de energia renovável, seja solar, seja eólica, o banco está presente na grande maioria desses empreendimentos. Se falar do pequenininho, seja na área rural, seja na área urbana, o banco também está presente. Só que o banco também atua na área de inovação, na área de pesquisa ajudando startups, atende também acesso a crédito. Tudo aquilo que o banco vê e vislumbra como oportunidade, ele tem como apoiar. Não existe nenhuma área em que o banco não possa atuar.”
Taxa Selic
“A taxa realmente está (alta), precisa baixar e ela abaixando ajuda também nos financiamentos do banco. A partir do momento que a gente tem uma taxa Selic menor, evidentemente que as taxas que o banco trabalha, que os bancos públicos trabalham também têm uma tendência de diminuir e isso é bom para dinamizar a economia. No momento em que a inflação está baixa, precisa-se gerar emprego e renda e gerar oportunidades.”
Dificuldades
“Quem acompanhou o nosso governo viu claramente que foram os oito anos mais difíceis da história do Brasil. Em 2015 e 2016, o PIB foi negativo e nunca tinha ocorrido na história do Brasil dois anos seguidos de PIB negativo. Depois tivemos aquela instabilidade política do Brasil, após o impeachment da presidente Dilma (Rousseff, PT) e tivemos quatro anos do presidente (Jair) Bolsonaro, que também teve três anos praticamente de pandemia. Então, as maiores crises sanitárias do mundo e a maior crise econômica que esse país já viu foram no nosso governo. E fizemos um trabalho justamente de ajuste das contas públicas a cada crise que enfrentávamos, a cada momento difícil que enfrentávamos.”
Leia Também
• “Se o Estado estivesse quebrado, nunca teria acesso a R$ 3 bilhões de crédito", diz Paulo Câmara
• Presidente do BNB, Paulo Câmara visita a Folha de Pernambuco
• Folha de Pernambuco recebe a visita do presidente do BNB, Paulo Câmara
Comparação
“Em relação às contas públicas, é muito fácil ver como a situação está equilibrada, como a situação está dentro de parâmetros normais. Pernambuco, em 31 de dezembro de 2022, tinha a melhor situação fiscal dos últimos trinta anos de sua história. É só pegar os indicadores, ver os números, é só comparar. Comparem a situação que nós encontramos Pernambuco em 31 de dezembro de 2014 com 31 de dezembro de 2022. Vocês vão ver que claramente nós deixamos o Estado num momento muito melhor, com muito mais oportunidades, com muito mais equilíbrio, com muito mais ações ajustadas e estruturadas dentro de um processo de gestão pública. E isso está nos balanços, nos diversos relatórios. Querer dizer que a situação de Pernambuco em 31 de dezembro de 2022 não era boa é ir contra a realidade dos números, contra a história de Pernambuco, contra as comparações que se têm que fazer de cada governo.”
Legado
“Eu assumi em 1º de janeiro de 2015 e busquei trabalhar. Trabalhei muito. Nunca me preocupei em olhar para trás, em ver o que podia justificar algumas ações que não estavam andando bem por falhas que a gente tinha encontrado ao longo do processo. Eu sempre busquei trabalhar, sempre busquei avançar, sempre busquei cumprir o meu papel até porque a população quer isso, quer soluções, não quer desculpas. Então, trabalhei muito e fico muito satisfeito com o legado que a gente deixou: Pernambuco com a melhor educação pública do Brasil, tendo sido um dos estados da federação que menos número de mortes de Covid-19 teve e tem uma rede estruturada e que buscou realmente gerar oportunidades de emprego e de renda a todos os pernambucanos. Nesses oito anos que governamos Pernambuco não houve um só empreendimento que aconteceu em Pernambuco que não teve ajuda do governo e que não teve a solidariedade da população. Tudo isso faz parte de um pacote muito importante de legado que a gente deixa e que eu não tenho dúvida que, se for de maneira adequada, com gestão, com responsabilidade, tem tudo pra gerar muitos frutos no futuro.”
Defesa
"Se o Estado estivesse quebrado, nunca teria acesso a R$ 3 bilhões de crédito. Ninguém empresta a um estado quebrado. O estado de Pernambuco está recebendo R$ 3 bilhões de investimentos porque está organizado, porque deixou as contas em dia, porque tem capacidade de investimentos e tem projetos. Pernambuco vai receber R$ 3 bilhões de investimento se tiver competência para receber porque não precisa passar por outros trâmites efetivamente porque está com as contas muito, mas muito organizadas. Ninguém recebe R$ 3 bilhões com contas desorganizadas.